sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Tive uma educação católica.
Lembro-me com 10 anos, influenciada pelas colegas da escola, pedir para ir para a catequese. E assim fui, e assim fiz até ao Crisma e até fui catequista (este é um texto sério, é favor não rir!).
Tive a sorte de ter dois "Pais de fé" fabulosos. Um, é o maior exemplo de humanismo que conheço. O sorriso sempre pronto, a disponibilidade para com os outros e com o mundo, o peito aberto a tudo.
O outro já não está connosco. Os nossos últimos tempos foram passados em muitos "passeios", como lhes chamavamos. O banco reclinado para trás e eu a conduzir muito devagarinho para que a quimioterapia não fizesse saltar o vómito cruel que o consumia.
Com eles aprendi uma fé que não tem a ver com pecados e labaredas do Inferno. Com eles aprendi a pensar e a sentir. Não diziam "é isto que está escrito, acredita". Diziam antes " o que pensas sobre isto". Com eles aprendi uma fé que fala de amor, de perdão, de dávida. Que fala na eterna fragilidade humana. Que fala no silêncio. Que fala em pegar ao colo quando as nossas pernas cedem ao cansaço.
Deste tempo ficaram, também, muitas das pessoas que me acompanham. Porque ali também era um espaço de encontro com a malta. De risos, de partilhas, de disparates. Éramos jovens e giros (inacessíveis, S.?).
Confesso-me afastada desta fé praticada. Católica não praticante, como se costuma dizer (como se isso fosse possível. É quase como dizer "sou fumador, mas não fumo, sou bailarino mas não danço"). Estou afastada dos templos, estou afastada de muitas das "normas", "regras", "ensinamentos".
Fui ensinada a questionar e a sentir e isso faz com que não consiga aceitar muita coisa. Faz com que não consiga resignar os ombros e dizer "Foi a Sua vontade".
E por isso, discuti com o Pai e bati a porta.
Mas acalmei. Não vou dizer que voltei, mas tenho a minha fé. A minha crença em algo mais forte que nós, numa energia maior. A minha crença naquilo que acredito serem ensinamentos de vida, o amor e o respeito ao próximo. Por isso a minha crença nas pessoas.
É a minha, não a imponho a ninguém. Sinto-me bem nela.
Neste Natal pensei muito nisto. Pensei, sobretudo, por causa da Diaba e do que lhe quero transmitir. É dificil lutar contra o Pai Natal e também não quero, mas eu a Diaba tivemos uma conversa muito gira sobre o porque de se dar presentes e o porque de se celebrar o Natal. Na versão católica. Na versão de que nasceu um menino muito amado a quem os Reis Magos ofereceram prendas. E ela achou a história muito gira. E eu fiquei contente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é... há muita coisa que nos une para lá da Amizade, ou, melhor, muita coisa que nos une para lá da construção desse edifício. Também tive esses dois pais na fé - para além dos meus, claro. Também a mim me falaram dum Deus que se aproxima de mansinho, disponível, amigo. Um Deus que se faz companheiro. Um Deus que perdoa. Um Deus que se senta connosco. Um Deus que nos mata a sede nos dias de maior cansaço. Também me falaram de um Deus que é encontro e partilha. E também eu, um dia, fragilizada com alguns embates, bati com a porta e quis virar costas. Tentei. Juro. Resignar-me? Nunca! Quis esquecê-lo. Combati. Chorei. Chorei como se chora a partida de um Amigo que nos desiludiu. Sofri como quem sofre a perda de alguém que nos magoou e não se explica... Até que, um dia, percebi que lutava contra mim, que me estava a dividir em dois pedaços e a estimular uma guerra entre as partes que me formam.
Um dia, algures num ano importante, abri os olhos e compreendi que não me era permitido fugir mais. Compreendi palavras até então rejeitadas. E voltei a aproximar-me para pedir... Pedir coragem. Força. Capacidade de aceitação, porque, hoje, nada disso me causa repulsa. Sei que há momentos em que nada mais há a fazer senão aceitar. Não voltei a aproximar-me como outrora. Não voltei a frequentar a Casa. Mas, às vezes, porque me faz falta, encontramo-nos. Não há exactamente um lugar ou uma hora definidos. Basta que exista uma vontade... e isto é tal e qual como antes. Uma vontade que surge. Hoje, hesitante nas palavras, continuo a falar-Lhe. Outras vezes, não. Solto acusações guardadas. Ou então, ficamos só em silêncio. Um silêncio de Abandono. Porque, no fundo, para lá de toda a dor, de todas as ausências, de toda a saudade, de toda a destruição, de tudo o que a Razão me impediu e impede de compreender, resta-me apenas a certeza de que só n'Ele me consigo abandonar. E, como me dizia um dos nossos Pais, as "Pegadas na Areia" fazem todo o sentido.
Beijo

Anónimo disse...

Medo!! Logo agora que estavas a ficar curada... :)