Último dia de férias. O carro em movimento. A música, sempre a música em banda sonora dos momentos. Para onde ir?
Conduzo à toa, cigarro entre os dedos e pensamento livre.
Dou por mim em direcção ao mar. Querido, amargo, saudoso mar.
Não sei o que me atrai ali. Naquele povoado de mosquitos, de veraneio emproado em calções de flores e peles morenas com madeixas louras, mas sinto-me bem lá. Por isso, inconscientemente vou. Passar o último dia de férias. Para que me alinhe e inspire. Eu, comigo e ainda eu. Como só podia ser no último dia.
E vim, em direcção ao mar. "Que queres de mim?", "Quero que me guardes contigo e não me deixes partir."
O homem na toalha ao lado lê Rushdie e eu Lawrence. Ambos provocadores. E quem nos provoca a nós? Os dois sós? O "Amante de Lady Chatterley" a lembrar esta necessidade incessante de ser arrebatada. Para que faça sentido. O sol na pele já morena.
Conduzir outra vez e um Outro Futuro a lembrar:
" Eu nunca dei um passo atrás, que não fosse capaz de um dia o emendar. Sonhar com um outro futuro, muito menos puro que nos ponha a brilhar. Querer dar mais um passo, sem temer o fracasso, e por fim me entregar".
Junto ao mar, sol pela frente, óculos escuros e risos no carro ao lado porque canto e danço.
Volto à Margem. Também gosto de lá estar. Desta vez sem rosé, mas com crumble, porque a boca adoça as recordações.
"Dois tótós que baloiçam,
um para ti outro para mim,
no ridículo riso que saúda
o já falado, definitivo, fim".
O sorriso do olhar. Quente. Dou por mim a enrolar o cabelo em jeito de sono.
O abraço do rio ao mar, envergonhado, fundindo-se num só e o desfilar de pessoas, vidas e mãos dadas. Ficar a olhar. Descansar. Inspirar e ir embora.
Foi o último dia de férias.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
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