terça-feira, 27 de abril de 2010

Filtro

Vinha pelo ar e já anunciava que era “ com o coração na boca” e um beijo com sabor a frutos com chantilly. Chamava-se Impulsivo e atirava-se ao momento e à vontade pura.
Compôs uma música e ofereceu-a embrulhada em papel porque se alguém lhe oferecer flores, isso é impulso!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Assim...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Assim

Afinal não morri na primeira morte que temia. Fui contra a bala e não morri.
Se calhar por isso me pareço com um zombie que vende passados, ao virar da esquina, sempre saltando de avenidas e calendários para os fazer.
Quanto mais penso na vida menos sentido ela faz e essa foi a primeira fenda, primeiro buraco na separação dos mundos.
Uma primeira vez, uma última vez “ mesmo para as vezes em que se diz que se não me amares não serei amado e se não te amar eu não amarei (…) aterrorizado outra vez de não amar, de amar e não seres tu, de ser amado e não ser por ti, de saber e não saber e fingir, fingir (…)”.*
E se tanto dói que as coisas passem assim ou passem de todo é porque cada momento em mim foi vivido como se essas coisas do Amor fossem eternas. Não são, ou são o tempo que forem, ou o eterno é o momento e o coração.
Não morri em nenhuma das mortes a que me prometi e por isso, seja o que vier, Amor.

*Samuel Beckett " As escadas não têm degraus"

Mentiras

"Você sonha demais, e, à força de querer outras coisas que não há, vai negando as coisas que existem, o que é uma forma de alienação pura e simples. Porque o que havia entre ambos, separando-os, eram as falsas dimensões sonhadas, disse Afonso, e por isso ele proibia-a de sonhar. Mas ela abria um guarda-sol na varanda e sonhava debaixo do guarda-sol, ou abria um guarda-chuva na rua, e sonhava debaixo do guarda-chuva, onde ele não pudesse ver a sua cabeça e os sonhos que corriam dentro dela.
(…)

É que ela esperava que o amor fosse uma ponte para outra coisa, disse Afonso, outra coisa que não existia, não existiria nunca, ela forçava obscuramente um caminho através do amor, através dele, uma saída, uma porta, uma passagem, como se o universo fosse de repente abrir-se, alargar-se em direcções diversas - mas não havia no universo dimensões sonhadas, existia apenas o quotidiano, exacto e transparente.
(…)

mas ela queria a vivência, a qualquer preço, procurava uma visão desmedida das coisas, e por isso sofria, porque toda a consciência era dolorosa. Ir sempre mais além, como um animal caminhando obstinadamente pela areia, um pequeno animal cego avançando, recusando cada ponto de chegada para nunca parar de caminhar, era isso, Lídia, ele sabia, a ansiedade que a levava a recusar a sua vida, a vida possível, na pressa de procurar outra, mais alta mas inexistente, Lídia, ele sabia..."

Teolinda Gersão,in “O Silêncio”

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Noivos

Que seria do amor sem um bode a tocar violino ou deitar com um sonho e sandes de iogurte?



Marc Chagall

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ostras e mel

Conheço-a desde 1998. Podia ser minha mãe, embora seja um pouco mais nova que a minha.
É bonita. Anda sempre bem arranjada, ligeiramente maquilhada, unhas pintadas, cabelo pintado e bem penteada.
Sempre a conheci assim por fora e com um grande sorriso por dentro. Por vezes surpreendia-me com pequenas prendas “trouxe ostras de Cacela. Sei que gosta” ou com pequenos gestos como tratar das duas plantas que enfeitam a minha secretária. Um grande sorriso.
Os últimos dois anos foram substituindo o sorriso por lágrimas. Da sua vida desapareceram grandes amores. E ela, pequena, tornava-se grande a falar do amor que punha em cada um.
O mês passado levaram-lhe o coração. Diz ela que é como se sente, com um vazio que é muito maior que as paredes da casa onde à noite, tem de voltar.
Disse-me que estavam juntos havia quarenta anos. Quarenta anos!
Disse-me que nos últimos tempos só pensava o quanto desejava que estivessem juntos por mais quarenta, que tinha esperança que acontecesse, mas que cada vez mais sabia da fragilidade humana e da inevitabilidade das coisas. Que a vida lhe tinha trocado as voltas ao plano reforma.
Que o amanhã era um futuro distante e que por isso todos os dias se sentava ao pé dele e lhe aquecia as mãos. E todos os dias o beijava de boa noite como se fosse a primeira e a última vez.
Foi como viveu os últimos tempos. Como se fosse a primeira e a última vez e que cada dia fosse uma vida.
E a inevitabilidade das coisas, que não passa pela mão de ninguém, a fazer das suas.
Hoje veio ter comigo. Trouxe-me mel. Eu dei-lhe as mãos e um beijo, e ela “ sabe, tinha este frasco para si e não quis que passasse de hoje. Não sei como é amanhã e este é seu.”
Até agora não consigo deixar de pensar na inevitabilidade das coisas e que hoje é hoje. Amanhã podemos estar vazios, mas agora estamos cá. É o que faz sentido.

domingo, 18 de abril de 2010

A.S.A

Blackberry morangoska=línguas azuis!!
Declaro, oficialmente, aberta a época vitaminica!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Before you break mine

"I'll break your heart
To keep you far from where"


dá-me tudo o que tens

É como se tivesse sido brutalmente assaltado e com isso viesse o medo.
O medo que acompanha todas as sombras dos sítios que amávamos.
Há sempre um ruído que faz olhar para trás. O medo sempre.
Que nos torna estranhos a nós próprios enquanto descobrimos sítios que antes nunca tínhamos visto e que nos abraçam, escondidos.
E não há maneira de voltar a essa outra pessoa que se era
É como se tivesse sido brutalmente assaltado e tudo o que era fosse levado e não restasse mais nada que o medo do vazio outra vez.
Vive-se assim, só custa mais um bocadinho que viver de bolsos vazios e mãos frias.

Tasmanices XLIII

Mãe- Que chatice, já está outra vez a chover e frio!
Diaba- Mãe, sabes o que é bom quando está frio e chove?
Mãe- O que filha?
Diaba (enquanto dá a mão à Mãe e a aperta)- É que os vidros ficam embaciados e podemos fazer desenhos!
(O engraçado é que mais tarde falei com a S. que me disse que duas coleguinhas tuas diziam que a chuva é necessária por causa da agricultura. Não sei se não te devia incentivar mais para este lado prático da vida, mas gosto tanto de te ver assim cheia de cor…)

Cartas da Tasmania

Tu estavas num turbilhão de sentimentos. Percebia-se pela tua cara e pelas tuas respostas.
Não consigo ver-te assim. Não consigo. Por vezes, tenho a sensação que preferias que te deixasse estar, mas que queres, não consigo ver-te assim sem tentar perceber o que se passa.
Dei-te um tempo, para que tivesses pronta para falar, mas insisti na conversa. Sabes, continuo mesmo a acreditar que a conversa também se educa e gostavas que fosses sempre capaz de falar sobre o que te vai na alma e aperta o coração.
Foi uma conversa em duas partes. A primeira sobre o que tinha chateado mesmo a sério.
Ficaste chateada com dois amiguinhos teus, com a forma como achaste que estavam a ser injustos e maus. Como esperavas que fossem diferentes nas atitudes que têm e como te choca não o serem. Devia dizer-te que ao longo da vida isso vai continuar. Que as expectativas que se frustram nas pessoas vão ser sempre dolorosas e provocar sempre revolta. Que é um trabalho duro, esse. Eu ainda não sei como se faz…
Acho que o que querias era mesmo falar e deixar soltar alguma “raiva”. E eu tive de prometer não rir, e aguentar-me a essa promessa mesmo quando me parecia tudo muito engraçado.
Depois disto tudo, continuava qualquer coisa dentro de ti. Qualquer coisa que veio em forma lágrima e lábio tremido. Dizias ter saudade do P e do T e perguntavas porque é que pessoas que gostavas estavam tão longe.
Eu comecei o meu discurso mãe com o “ Tem de ser assim”. Foi o começo mais parvo que poderia ter feito. Não era nada disto que precisavas. O teu grito veio do fundo, do mais enraizado que pode haver nos teus 6 anos. Veio e soou “ Não me digas que tem de ser assim. O que eu quero é saber porque!”.
Não sei porque filha. Não sei porque tem de ser. Melhor, não te quero ensinar a resignar e a aceitar tudo. Não quero que não perguntes os porquês, não quero que não grites mesmo quando sabes que não há resposta e mesmo assim tens de gritar. Não quero que encolhas os ombros a qualquer coisa e digas “é assim”.
Nem tudo terá uma razão, nem tudo terá de ser explicado ou esmiuçado, mas o bom de questionar é, talvez, perceber que nem sempre tudo tem ou precisa de uma resposta.
Por isso, pergunta, pergunta sempre. Tentarei responder, mesmo que a resposta seja “também não sei”.
Um beijo
Mãe

terça-feira, 13 de abril de 2010

Love will...

Os dias e o beijos. Pendurados como pernas baloiçantes à beira do rio. A olhar. À espera.
Tudo parece que converge para nos afastar sempre do beijo dado à cinema. Em braços poderosos que inclinam a cabeça enquanto os olhos, num segundo suspenso, abrem as bocas.
Que foi que não nos aconteceu? Foi o amor que nos afastou?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Praia

Sabes (a)mar.
Quando no meio de uma revolução qualquer, de dentro, cresces e te transformas em força como se fosse possível aproximar-me da falésia sem sentir apelo da tua água em cores.
Sabes (a)mar.
Quando os olhos se agigantam e os teus braços me submergem até boiar em ti e as nossas bocas abertas ficarem cheias de peixes brilhantes.
Sabes (a)mar.
De todas as vezes que o balanço parece marés e no recuar avança um pouco mais a linha da espuma cobrindo-me de algas e eu quero o quebrar das tuas ondas contra o meu corpo estendido.
Sabes (a)mar.
E, todos os dias, sem excepção, eu queria entrar em ti ao luar.

Combina com o sol :)



"sometimes in my tears I drown
but I never let it get me down
so when negativity surrounds
I know some day it'll all turn around
because
all my life I've been waiting for
I've been praying for
for the people to say
that we don't wanna fight no more
they'll be no more wars
and our children will play"

Delirio(s)

O L. disse-lhes que deviam escrever um livro. E elas escreveram.
Mas depois já não era um livro, era uma série televisiva.
O problema, diziam elas, era a falta de fé, até que a S. fez o seu primeiro brioche, que se desfazia na boca, e tudo foi acompanhado por morangoskas e mensagens de massagem à rapidez.
É só esperar quatro dias e haverá mais.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ligação

Mesmo quando da precipitação se faz beijo primeiro
e explicação só depois,
quem disse que tem de ser o zero a parte de onde se começa?
E de que ponta se fala para acabar? Fizemos tudo por nós?
Sei dos teus olhos a abrir no meio do sono que não vai. Sei dos teus braços abertos nos meus.
Sei do amor que inventei, um dia, dado a ti. E que julguei incendiar o teu corpo.
Sei do amor que inventei, um dia, dado por ti. E que julguei ser meu.
Mesmo quando da precipitação se faz beijo primeiro e nada depois, sei do amor que senti, um dia.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Tu habitavas os dias

tu habitavas os dias como se o tempo te pertencesse
ratificavas com o teu esgar secreto
os meus membros sobre o teu peito
os meus gestos
a minha inteira existência

eras nesse tempo a própria perífrase da vida
dizer-te, o teu nome violento,
era o mesmo que afirmar:
a minha vida (e depois
por aí fora sobre tudo o que quisesse)

para além de ti, quero eu dizer,
sem a tua presença de água nos olhos
era nessa altura impensável
encarar a sucessão das horas
a possibilidade sequer
de haver respiração
ou pensamento

mas depois deixaste de habitar os dias
(daí, em parte, estas palavras)
e eu sigo (mal) existindo
e respirando, ainda que a custo

depois da angústia,
a perplexidade

João Miguel Henriques
Também a memória é algum conhecimento
Lumme Editor

Yeah! Oh yeah!

Sempre achei que a paixão solitária era um desperdício enorme. Menos na música

Curtas

É tempo de começar a correr outra vez... o risco de deixar de saber sequer andar é demasiado grande!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Bruises

Foi enquanto se penteava em frente ao espelho que reparou na enorme nódoa negra. No interior do braço, mesmo no sitio onde, no sonho, ele a tinha agarrado com tanta força que a fizera sorrir ao dizer "não vás, não sei respirar sem ti!"

"Got bruises on my knees for you
And grass stains on my knees for you
Got holes in my new jeans for you
Got pink and black and blue for you..."


Chairlift- Bruises

sábado, 3 de abril de 2010

E se? :)

Ver até ao fim...não se perde tempo, ganha-se muito! :)