quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cartas da Tasmania

Tu estavas num turbilhão de sentimentos. Percebia-se pela tua cara e pelas tuas respostas.
Não consigo ver-te assim. Não consigo. Por vezes, tenho a sensação que preferias que te deixasse estar, mas que queres, não consigo ver-te assim sem tentar perceber o que se passa.
Dei-te um tempo, para que tivesses pronta para falar, mas insisti na conversa. Sabes, continuo mesmo a acreditar que a conversa também se educa e gostavas que fosses sempre capaz de falar sobre o que te vai na alma e aperta o coração.
Foi uma conversa em duas partes. A primeira sobre o que tinha chateado mesmo a sério.
Ficaste chateada com dois amiguinhos teus, com a forma como achaste que estavam a ser injustos e maus. Como esperavas que fossem diferentes nas atitudes que têm e como te choca não o serem. Devia dizer-te que ao longo da vida isso vai continuar. Que as expectativas que se frustram nas pessoas vão ser sempre dolorosas e provocar sempre revolta. Que é um trabalho duro, esse. Eu ainda não sei como se faz…
Acho que o que querias era mesmo falar e deixar soltar alguma “raiva”. E eu tive de prometer não rir, e aguentar-me a essa promessa mesmo quando me parecia tudo muito engraçado.
Depois disto tudo, continuava qualquer coisa dentro de ti. Qualquer coisa que veio em forma lágrima e lábio tremido. Dizias ter saudade do P e do T e perguntavas porque é que pessoas que gostavas estavam tão longe.
Eu comecei o meu discurso mãe com o “ Tem de ser assim”. Foi o começo mais parvo que poderia ter feito. Não era nada disto que precisavas. O teu grito veio do fundo, do mais enraizado que pode haver nos teus 6 anos. Veio e soou “ Não me digas que tem de ser assim. O que eu quero é saber porque!”.
Não sei porque filha. Não sei porque tem de ser. Melhor, não te quero ensinar a resignar e a aceitar tudo. Não quero que não perguntes os porquês, não quero que não grites mesmo quando sabes que não há resposta e mesmo assim tens de gritar. Não quero que encolhas os ombros a qualquer coisa e digas “é assim”.
Nem tudo terá uma razão, nem tudo terá de ser explicado ou esmiuçado, mas o bom de questionar é, talvez, perceber que nem sempre tudo tem ou precisa de uma resposta.
Por isso, pergunta, pergunta sempre. Tentarei responder, mesmo que a resposta seja “também não sei”.
Um beijo
Mãe

Sem comentários: