sábado, 29 de maio de 2010

3055

A música.
Os dois, passo a passo, dança a dança.
Os meus pés por cima dos teus que impõem o ritmo e me levitam
A música, como tu. Tão exactamente como tu. Começar devagarinho, entrares-me no sangue, na alma, em tudo. Este meu abandono quente a ti. Transbordares-me. Crescente. Sempre crescente. Este meu abandono quente em ti.
A música. Tu.
O fim.
Já não levito nos teus pés.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

I'm still here

terça-feira, 25 de maio de 2010

Seis

Um mês. Incrível como o tempo passa e o mês já virou a folha no calendário. Sei que não é do tempo que falamos, afinal o tempo pode ser muito ou tão pouco dentro dos mesmos dias dos outros todos.
Preferias, eu sei, que dissesse antes, já passaram seis broches e outras tantas trancadas. Que já me fodeste , como gostas de dizer e ainda mais de fazer, meia dúzia de vezes. Exactamente com estas palavras, que são as que usas, quando não ouves sequer a tua voz, mas só a vontade do desejo que te faz ter outra vez vinte anos e pegares-me ao colo contra uma parede, virares-me de toda a maneira, mexeres em todos os poros e dizeres “adoro foder-te”.
Não costumo dizer asneiras, mas não há melhor que palavrões para descrever este carnal que nos persegue até o calendário virar a folha. Podia ser uma menina/senhora e dizer “ fazer amor” mas isso inclui qualquer coisa de sentimento e mão dada e a mariquice toda e não é isso que se passa quando nos despimos. Também há isso, esse mundo carinhoso em telefonemas às tantas da noite para me tocares piano, mas o que nos torna num mês, seis broches e outras tantas trancadas é a luxúria animal, da boa e que nos deixa duros de antecipação.
Comemoramos com o sétimo?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

The Cat Piano

A voz é de Nick Cave :) :)

The Cat Piano from PRA on Vimeo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Leis

Ele disse - A lei da física diz que o calor dilata os corpos
Ela disse - mas não os faz explodir intensamente
Ele disse – A lei da química diz que temperaturas altas podem ser um catalisador que provoca uma reacção entre dois elementos
Ela disse - um catalisador muda a velocidade da reacção química mas não se consome nela
Ele disse - A lei da Alma diz que nada é mais importante que o Amor
Ela disse – É necessário ter alma para reconhecer essa lei
Ele disse – Então beijo-te sem leis

quinta-feira, 20 de maio de 2010

De modos que é isto

Terry Richardson

* Fica a resposta a pergunta de qual o papel na minha vida. É isto :)

Pois

"We spend our whole lives worrying about the future, planning for the future, trying to predict the future, as if figuring it out will cushion the blow. But the future is always changing. The future is the home of our deepest fears and wildest hopes. But one thing is certain when it finally reveals itself, the future is never the way we imagined it." *

* O diferente pode ser melhor. Ou não. Mas pode.

terça-feira, 18 de maio de 2010

«Nem há um só instante que seja meu, e querem que eu saiba para onde me hei-de virar. Ah sei muito bem para onde me viraria, se a cabeça me obedecesse. Se querem que eu pareça preocupar-me com o que estou a fazer, só têm de repetir, se é que o disseram alguma vez. Repetir o tom, os termos, para eu pensar que são da minha lavra. Sempre os mesmos truques, desde que meteram na cabeça que a minha existência é só uma questão de tempo. Acho que tenho falhas de memória, que há frases inteiras que saltam, não, inteiras não. Talvez não tenha conseguido descobrir a chave do enigma da história. Mesmo que não o tivesse compreendido, tê-lo-ia revelado, é o que me pedem, e isso ter-me-ia sido tido em conta, aquando do meu próximo julgamento, sim, sim, de vez em quando julgam-me, são pessoas sérias. Um dia, talvez venha a saber, a dizer o que fiz de mal.»


Samuel Beckett, "O Inominável", Assírio & Alvim, 2002

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Cartaz

É no final da tarde, quando se arruma malas e as chaves do carro estão nas mãos que vem a pontinha de ar, demasiado fresco para a altura, arrepiar ligeiramente a nuca.
Quando da despedida do dia se devia oferecer um braço que enchesse o espaço a que se volta, para cortar a aragem da primavera.
Há dias em que o vazio é demasiado grande, porque de escolha bem afinada, se quer a mão dado de um amor grande, como passa nas grandes salas de cinema e não o enlevo imediato do Olympia.

Dúvidas

Na ficção como na vida, mata-se por fora, supostamente por amor. Por um amor tão grande que não concebe não ter o outro. Será?
Resta a dúvida, e por dentro, que é o mais importante, com que plano se consegue matar?

Balance

Não gosto da tua língua na minha boca. Parece-me demasiado fina, não me enche, e nervosa, não para quieta o tempo suficiente para a sentir.
Em compensação adoro-a no resto do meu corpo e o resto do teu corpo na minha boca.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Diálogos

Dizes “ Espera-me aqui até eu voltar”
Eu digo “Espero-te em qualquer sitio. Menos aqui onde não se pode voltar.”
Dizes “ Já percebi que não tens saudades”
Eu digo “ Enganas-te. Vivo de recordações e sorrisos em flashbacks”
Dizes “ Os kilometros não te tiram de mim. Vejo-te ao meu lado”
Eu digo “Parece que os kilometros de distância obrigam, também, a um maior silêncio, como se a impossibilidade de olhar para ti fosse um indicador para me manter calma e quieta no meu sitio. Tu foste”
Dizes “ Eu volto. Mando-te um beijo com sal”
Eu digo “Eu espero. Adorava beijar a tua pele com sal”

Tasmanices XLIV

Deitadas, na árdua tarefa de fazer a Diaba adormecer:
Diaba- Sabes onde está o meu amor por ti, Mãe?
Mãe (já com um sorriso derretido)- Onde meu Amor?
Diaba- Aqui, guardado para sempre (dizia isto enquanto encostava a mão no coração)

Manhã, cedo, Diaba enfia-se na minha cama:
Diaba- Bom dia, Mãe. Já fiz a minha cama, para não seres sempre tu a fazer que estás cansada, e agora vou tomar banho.

É por coisas assim que eu digo e repito, TENHO A MELHOR FILHA DO MUNDO

sábado, 8 de maio de 2010

Vento

As palavras são ocas se o sentido não vem em forma de gesto. Servem para encher.
Não sabem a morango.
São iguais a tantas outras e a nada. E sem os outros sentidos, o nada é igual a...nada.

Avental e saltos altos

Eu sei. Eu sei. Fui eu que disse que sim, que era assim, apenas uma imagem para ficar um segundo. Só até à porta de embarque e que depois se desfizesse como se fosse excesso de bagagem que não valia a pena pagar e por isso se deixava.
Era assim. Não que fosse descartável, mas apenas de consumo rápido. Como nos consumiu, até esgotar todas as forças.
Eu sei fui eu que disse, e tudo estava bem, mas que queres? Não sou boa jogadora. Não sou forte e agora dou por mim a olhar para dentro e a querer saber de ti.
Será que, onde estás, te lembras de mim, aqui, e que fiz um strip só para ti?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sinal vermelho

Devíamos ser como automóveis, com um computador de bordo que avisasse que o deposito entrava na reserva e que a seguir tudo parava.
Uma luz vermelha, forte. Um sinal sonoro para que não fossemos apanhados na surpresa de repente de não haver mais combustível para andar.
O vazio é uma paralisia ensurdecedora.

Vida

" O que te quero dizer é simples. Lembras-me pão-de-ló acabado de fazer. Um sabor doce e quente que não se desfaz da boca.
O que te quero dizer é que és uma luz onde apetece ficar e correr nu. Que todas as esquinas com encontros marcados, a nossa não se faz do costume e de cada vez que ao longe te vejo,a boca humedece ligeiramente para que não falte o ar.
Fazes-me rir e dizer disparates e abres um dique que só me lembro de pulsar assim quando era jovem e tudo era força.
Trazes-me música, que te dou, que te enfeita, com que te toco e isso é Tudo."

P.S- Publicado com consentimento do autor. A mulher que o recebeu é, certamente, feliz.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Diálogos

Ele- Quero dar-te todo o amor hoje. Todo!
Ela- Porquê? Porque te vais embora?
Ele- Porque no vazio o Amor projecta a sua sombra. Que seja ela a acompanhar-te.

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
i fear
no fate (for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart (i carry it in my heart)

E.E. Cummings

Búzio

Havia demasiado ruído à sua volta. Demasiado. Era o que sentia. Ondas de som e som, e qualquer caminho servia para percorrer, mesmo tendo perdido o norte ao que ia. Desesperado por não se ouvir, tapou a boca num gesto aflitivo que deixava antever uma fome qualquer. Se deixasse que olhassem lá dentro iriam descobrir o que crescia do seu baixo ventre e subia como se fosse a total ausência de onde colocar os braços e encostar a cabeça. O mesmo de sempre e o dia doía.

Palavras Minhas

"Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas."

Carlos do Carmo- Palavras Minhas