segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Tasmanices XX

Em viagens, a escolha musical é alargada a música um bocado mais forte do que a que habitualmente ouvimos quando estamos juntas.
Desta vez, acompanhavam-nos os Korn.
Mãe- Vou mudar de cd. Que queres ouvir?
Diaba- Põe aquela música que gostas, daquele menino que parece que canta com raiva!
(É giro ver como os miúdos percebem tão bem as emoções através da música!! Bora lá gritar que nem loucas, filha!)

De outros sopros

Está sol e parece que o vento amainou. Não o sinto tão fortemente nas têmporas, areia lançada com força de entrar na minha pele até se tornar bicho bolorento que percorre gota a gota o sangue. “ O vento amainou” dizem os velhos sentados nas soleiras das casas, escondendo-se do sol que está duro, rijo, impondo-se contra a muralha que andava por aqui a querer tomar de ponta a terra e fazer kilometros até à China.
“ O vento amainou” dizem as copas das árvores que não baloiçam, quietas na sua imponência de árvores presas em raízes que gostavam de trilhar o interior da terra escavando até ao centro, lava que queima e ai fundar uma nova nação, diferente da Patagónia, onde as arvores crescem sempre inclinadas a norte.
Parece que sim, que o meu cabelo já se penteia, mantendo-se no lugar quieto, mesmo à noite no embrulhado do casaco que já não é preciso a não ser preso à cintura, não vá vir uma rajada sem aviso prévio ou indicio de leve roçar nos ombros queimados.
O vento já passou, ou a pressão, atmosférica, entre duas regiões distintas, o eu e o eu, já não se faz sentir e tudo o que o ciclone tinha a levar ficou transformado em leve brisa que sopra em direcção ao mar. É para lá que vou.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dúvidas

Haverá algum sabor quando apenas fica uma mémoria na pele e nada que doa na alma?

Vitis Vinifera

De repente, um súbito interesse nas videiras. Uma planta curriqueira e já conhecida desde dos tempos em que Adão e Eva usaram as suas parras para esconder vergonhas.
Os seus frutos, de diversas espécies, fazem deleite das gulas encostadas de romanos depinicando bago a bago e cuspindo grainhas, para logo saciarem sedes no suco esprimido e fermentado, branco ou vermelho cor de sangue. Depois de velhas, comem-se em doze, o mesmo número dos desejos que se evocam ao primeiro minuto, mantendo tradições que acreditam de bom agoiro.
É planta de força, mérito reconhecido aos frutos, em contradição com a fragilidade do seu tronco retorcido, trepador, com ramos flexíveis e folhas recortadas em cinco lóbulos pontiagudos. De tão retorcido, ou de tão fléxivel, trepa por estacas e delas precisa para sustentação. Só quando apoiadas, encostadas em bengalas que atravessam o dia e a noite, chegam a Setembro para mostrar a sua força. Nos frutos. Uvas.
Estranhas plantas as videiras.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tasmanices XIX

A Diaba cantava, inventando a música e a letra:
" Eu sempre insisti nos sonhos,
e vão-se realizar todos
de cada vez que eu escrever um R..."
(Isso querrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrida)

Andámos pelo norte, a deambular entre aldeias giras e serranas. A Diaba estava super entusiasmada de ver todos os animais da "quinta", mas ao fim de dois encontros com cães um bocado mais "nervosos", diz:
- Sabes Mãe, isto é giro mas acho que gosto mais dos animais da cidade.
(Já eu, filha, não tenho tanta certeza de gostar mais dos "animais da cidade". Eheh)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Shiitake

Adoro cogumelos. Todos e de todas as maneiras. Desidratados. Mergulhá-los durante 20 minutos para voltarem a hidratar.
Como as férias. Mergulhar em qualquer água e voltar à forma original.

Tasmanices XVIII

A Diaba chegou hoje de férias. Cresceu, perdeu um dente e está super morena.
Assim que abri a porta, correu para mim e disse:
Diaba- Mãe, já não aguentava mais. Tenho mais saudades tuas que daqui até ao Universo!
( Meu amor.....)

sábado, 22 de agosto de 2009

Puff

Agora que chegou, há partes de si que ainda vêm lá atrás, atrasadas num passo que não é o seu. Mas espera, porque começar de novo leva a uma nova morada, a um outro cenário, construído por si e para si, e se não espera pelas partes, o corpo fica amputado e sofre de dores fantasma.
Um cenário feliz, porque é o momento. Nunca será feliz se não for feliz agora, é o que pensa enquanto acaba de pintar as paredes.
O estranho formigueiro, como uma pequena aranha a passar no pescoço. Será sempre tempo de ser feliz. Como agora. Ser agora.
Sabe-se apenas que o amanhã existe. É o destino, e o ponto de partida é o momento.
Olha o relógio, marca 0H12, o tempo da promessa.
Senta-se no puff da varanda. Gosta de acabar ai os dias, seja a que horas o dia acabe. Gosta de acender o último cigarro e olhar para o céu, para as estrelas. Se se pudesse dobrar o tempo para que no momento pudesse estar a ver o que do passado fosse necessário alterar o futuro, a única luz que restaria seria a das estrelas.
É por isso que gosta de olhar para elas e partilhar o segredo que, às vezes, elas vem lá de cima ver o que se passa e iliuminar mais um bocadinho.
Foi aqui que chegou. Agora espera um bocadinho, o tempo do último cigarro, para que as partes cheguem e seja feliz.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Questão de Marketing

Era engraçado poder fazer com a vida como se faz com o grande consumo: descontinuar produtos!
Descontinuar a vida e fazer um upgrade para outra melhor e com mais funcionalidades, mais FORTE.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Porque só te sonhar me morro de aflição *

Fala-me tu do Amor e dessa coisa esquisita que é o tempo com quatro dedos de distância entre o ardor das línguas e a asfixia dos corpos.
Fala-me tu do Amor e desse desejo que arrasta a proximidade que anula todos os intervalos em pequenas existências que de tão insignificantes desaparecem numa doçura e amargura.
Conta-me do constante faz e refaz, de ressuscitar e morrer, de adormecer e sonhar, do conforto da luz dos dias na realidade que nos mata. Porque do Amor também se morre e também se vive, como alimentação programada às calorias necessárias para respondermos.
Encostarei a cabeça para que te ouça falar da grande cidade, cheia de perigos, que não amedrontam porque de um se protege o outro e dois são uma muralha maravilhosa em que existe a gratidão de ser ele e ela, e toda a gente e mais ninguém que esteja em sombra.
Sei que consegues dizer-me de todo o Amor que é físico, quando o corpo se retrai, contrai e abre em planícies de flores e do toque nasce toque e não se pode mais esperar todo o desejo que é estar dentro um do outro em sofreguidão, exaustão, prova e dentada e os corpos reflectem luz que só acaba noite gritada em pequenas gotas de suor. E sempre assim, mesmo que o ritmo seja mais suave e a cadência da música mais lenta, porque de todos os andamentos se faz.
Explica-me do Amor em cartões multibanco, créditos a prestações que se tornam da cabeça em conjunto com os pés em conversas, palmilhados os caminhos falados nas encruzilhadas que não se voltam porque já passadas.
Diz-me do fogo da pertença que mesmo em passeios ladeados em momentos de se respirar, expirar, não afasta do ponto em que se sabe ser um pulmão porque o corpo é um só, celeste, cadente, brilhante no universo, estrela e planeta.
Matematicamente diz-me da equação em que um mais um são sempre um mas também sempre dois, porque a matemática é linguagem universal que faz entender que das letras nascem números e a media está na soma em que se acrescenta sempre algo de bom à unidade, mantendo-a.
Fala-me tu do Amor, que eu às vezes já não sei falar, só ouvir.

* Al berto

Parabéns

De África chegam notícias e sons. Alegria, muita.
Sente-se o calor no riso e a transbordante felicidade de se voltar a nascer na terra que mais uma vez se abre.
Conseguem cheirar o sol a tocar lá dentro? Doce, muito doce.

A cor

Não sabe como consegue aguentar, mas aguenta a confusão que persegue, onde tudo podia ser diferente, mas onde tudo é como é, racionalmente entendido, onde o pensamento escava e dentro de uma coisa há outra e dentro dessa ainda outra e depois outra, como as matrioskas. Entre o que se pensa verdade e até chegar a essa verdade. Inconsistência ou incoerência.
E fica a pensar que na vida só há lugar a uma grande aventura, um grande amor e que se ficará para sempre preso nisso.
E é verdade, fica-se. Mas um dia, porque o caminho só pode ser para cima, começa a não doer, e a aventura fica guardada numa das câmaras do coração.
E volta-se a ter outras, mesmo quando a lembrança da grande permanece.
As outras serão diferentes, mas tão boas ou tão más quanto a grande. Porque há sempre o bom e o mau. E o sangue, que ora escorre, ora pulsa. Ganha-se uma espécie de vida, o grande privilégio de ser dono de nós, num caminho feito por nós e para nós e as outras transformam-se em grandes também.
O amor tem muitas faces e muitas formas, é bom nunca esquecer. E o que está para vir poderá sempre ser o grande. O que nos levará em dança até à parede do fim.
A vida terá sempre razão e dará sempre tudo o que é preciso para ser feliz, para viver e respirar. Nós é que teimamos em não ver, em andar cegos a um qualquer desenrolar por acaso, ao acaso, ou andamos sempre no limbo da procura e “ da galinha da vizinha é melhor que a minha”.
É nesta confusão que continuamente persegue que se perde a noção do básico, da infantil ignorância que deve tornear a vida, da vontade. Do riso simples, que enche a alma como uma cascata, que se torna lago, depois rio e correr até ao mar. Porque a determinada altura terá de ser apenas simples.
E o mais engraçado é que não se sabe quando acontece, nem como acontece o desejo que arrasta e traz a vontade de não haver intervalo entre as coisas e os corpos.
Só assim, sem confusões.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Teoria dos 320 ou do Ferrari

Encontraram-se numa curva em que o Ferrari, que dá 320, um bocado cansado, tinha reduzido a velocidade e o Fiat, que no máximo dá 160, estava quase no red light. Nessa curva pareceram certos para caminhar e o Ferrari via-se a cortar metas com um sorriso descansado, que isto de andar a 300 cansa muito o próprio e às vezes farta.
Mas o Fiat reduz, porque andar sempre a 160 estraga o motor, e o Ferrari reduz também porque não quer deixar o Fiat para trás. Até ao dia em que começa a querer acelerar outra vez. É uma questão de necessidade. Para vencer uma montanha pode-se engrenar uma primeira, que é uma mudança de força, mas quando se está em recta a rotação do motor está ligada às rodas e é preciso a mudança mais alta.
E lá se puxa o Fiat ao momento em que se acelera a 320 à espera que ele acompanhe, nessa vã esperança ou ilusão de tornar um Fiat num Ferrari “vem comigo, eu levo-te”.
E o Fiat vai ao máximo e o Ferrari fica contentinho. Mas depois o Fiat desacelera até ao ponto em que o Ferrari se cansa demasiado de estar a acelerar sozinho, de estar sempre a abrandar, de estar sempre a tentar puxar, e o Fiat se cansa de estar sempre a 160 se o que quer é andar a 90. Isto é basicamente a Teoria dos 320 ou do Ferrari.
Conheço demasiado bem a aplicação desta teoria, no cansaço de andar a 300, vá, que sou rapariga respeitadora do limite da velocidade, puxando o Fiat que anda no máximo a 160.
Mas no meio disto tudo, teoria certíssima e brutal, há uma montanha de Ses…
As pessoas não são só o que fazem e estão constantemente a enganar-se no que são e no que julgam que os outros são e nunca se sabe precisar o que é estar apaixonado. Como e porque se apaixonou e muito menos definir a intensidade da paixão. A paixão é esquizofrénica, e hoje é louca, amanhã é menos e depois é transbordante para voltar a abrandar. E tudo parece um circuito racing onde nas curvas não se trava mas se larga o acelerador.
É assim a vida também. Há alturas em que se quer acelerar ao máximo e outras em que se precisa de parar um bocado.
E se na curva aparece alguém? Como saber se quem subiu na garupa consegue depois aguentar a velocidade, ganhar rodas e vir ao lado?
E quando se encosta às boxes porque se precisa de qualquer manutenção? E se aparece alguém ali? Será ilusão?
Nenhum obstáculo poderá ser intransponível nas idas e nas vindas, mesmo quando cansa esperar ou mesmo quando ao outro cansa demasiado acelerar.
E onde reside esta verdade? No simples facto de amar. Amar também os gostos e desgostos deles para melhor os conhecer no reverencial respeito que deve haver.
Se não me acompanhas agora é porque não consegues e eu espero um bocado por ti sabendo que ali à frente já recuperaste força e és tu que aceleras para me fazer viver.
Deverá ser assim?
Se tudo pode acontecer, se pode haver nuvens cheias que não chovam, se pode no deserto haver flores, porque não pode um Ferrari e um Fiat encontrarem-se e caminharem de mão dada de qualquer maneira? Explicaria os opostos que se atraem.
Ou a simples resposta ao mistério é o aparelhar de Ferraris e o aparelhar de Fiats? Lado a lado, na mesma velocidade de vida, no mesmo cuidado nas mudanças quer sejam automáticas ou manuais? Será isso?
Poderá um Ferrari tornar-se não num Fiat mas num Toyota ou o contrário, o Fiat passar a ser um BMW?
Alguém sabe?

domingo, 16 de agosto de 2009

Cortes e curativos

Cortei o dedo polegar. Um golpe grande e fundo. A pele completamente separada e sangue, muito sangue, e eu, pequenina, a chorar baba e ranho porque odeio sangue, porque estou sozinha e não há outro remédio senão fazer o curativo, limpar o lavatório do sangue que escorreu e continuar a fazer o jantar. De todos os dias, tinha que ser logo hoje que a cabeça não para e estou a 300 na recta da insanidade.
Apetecia-me fazer birra, dizer que doi e esperar o mimo.
Fiquei com o dedo e a alma dorida. É nestes cortes que me doi a vida.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Vruuummm

Logo de manhã fiquei feliz para o resto do dia. Sol e sol cheio de sorrisos. A causa?
A notícia de que os portadores de carta de condução classe B e com mais de 25 anos (o meu caso, embora não se note a questão de idade :)) poderão, agora, conduzir motociclos até 125 cc sem necessidade de exames e carta.
Pois é... e eu que desde a puberdade digo que quero "tatuagens e mota" fico muito mais perto do sonho totalmente realizado. Só para manter alguma coerência na vida. EhEhEh.
Portanto, um dia destes apanham-me por ai, cabelos ao vento, joelhos esfolados, braço partido e com o sorriso possivel depois de ter perdido os dentes, mas de capacete! Ah pois é, que eu tenho saudades de andar de mota!

Voltar

Tinha 17 anos, quando os calcei pela primeira vez. Eram lindos. Uns botins pretos com um salto médio e que apertavam com um laço. Adorava-os.
Cada vez que os calçava sentia-me mais mulher, mais forte, mais sexy. Adorava-os.
Pensava que os calçaria o resto da minha vida, afinal os meus pés já tinham parado de crescer e era perfeitamente possível ir mantendo os botins em condições.
Claro que não aconteceu. Foram ficando gastos e velhos e vieram outras modas.
Mesmo assim eu mantinha-me ligada aos botins. Mesmo depois, quando quase não os calçava. Mantinha-me ligado ao que me fazia sentir.
Já os deitei fora, mas lembro-me muitas vezes destes botins. Porque me fizeram sentir especial. Não é exactamente a imagem dos botins, mas sim o que me fizeram sentir.
O engraçado é que isto acontece na vida. Ficamos ligados ao que se sentiu e não exactamente ao objecto. E isto tira-nos, muitas vezes, de nós. Pelo caminho, há um crescimento que vem de uma força qualquer e que nos leva a saber o que somos, independentemente do que calçamos. Mesmo quando nos lembramos do resto...
Como eu com os botins.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Mutante

Ando um bocado virada para dentro. Nem sempre gosto do contorno do estômago, do delineado do coração ou do respirar dos pulmões. Cansa-me este encaixe oleado de máquina. O corpo cansa-se do encaixe.
Apetecia-me recolher a cabeça aos pés, fazer eleições para as câmaras do coração e parar a circulação no ponto exacto da comunicação a todos os tecidos. Só assim, para desarrumar tudo e lançar o caos em hemorragias.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

António Lobo Antunes

"Acho que não devia fazer electrocardiogramas eu, devia fazer escalas de Richter porque me parece que em lugar de coração tenho um sismógrafo cuja agulha assinala o menor estremeço interior ou exterior com uma amplitude imensa: basta-me viver para a agulha não parar e que cordilheiras de tinta os meus dias. Se me perguntam:
- Como vais?
só tenho a mostrar riscos enormes, capazes de fazerem cair todos os prédios da cidade e espanta-me que Lisboa permaneça intacta e o chão nem oscile."

Warm Heart of Africa- The very best

Parte de mim está em Africa! Verdade, verdadinha. E até tem internet desta vez :)
Para ela, mana linda, cá vai uma músiquinha dedicada ao coração quente do verão.
Toca a menear as ancas!!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Basico

Ana gostava de princípios. Não dos finais. Os finais eram, dizia, pontos que se tinham enganado na conjugação da oração.
Ana gostava dos princípios, do acordado desassossego “que giro uma novidade “ atropelada pela realidade que vem nos jornais, no degelo dos dias, nas ruas onde se cruzam pernas a caminhar para os transportes públicos.
Um certo encanto nos sorrisos e conversas em esplanadas solarengas com copos altos de sumo natural e o cheirar tão bem como a café acabado de fazer.
O calor crescente nos copos e nas vontades, num complemento directo em subtis futuros indirectos, caminhando pela cidades, mãos nos bolsos um do outro.
Ana gostava destes princípios, e eram sempre assim. Os mesmos sintomas, os mesmos sinais, os mesmos medos que levavam a correr de si e a voltar, em cada esquina, a tropeçar nos lancis dos passeios e a cair de cara.
Olhava à volta, ninguém tinha visto e levantava-se a correr, alisando a saia e ajeitando o cabelo, desejando não vissem que chorava sempre. Por isso não gostava dos finais.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

...

Às vezes ainda penso que podias ser tu. Que a história ainda não acabou e a qualquer altura há uma reviravolta como nos filmes e tábua rasa, começamos.
São distracções do meu cérebro que ainda não programou totalmente, razão acima de tudo, para que comande todos os poros.
Distraio-me e revejo os momentos em que pensei que fosses o cavaleiro que aparecia, mesmo com os defeitos que depressa aprendi a reconhecer mas que gostava tanto como as virtudes das tuas grandes mãos agarradas às minhas puxando gentilmente para ti.
Pensei que me pudesses desconcentrar ao limite da minha vida diária, sem sal, e obrigares-me a uma permanência feita em horários estudados, para que fosse tua em todas as horas menos práticas. Que me enlouquecesses para logo correr reconhecendo-te como não sendo possível estar noutro lugar tão tranquilo e ousado ao mesmo tempo.
Das palavras sempre feitas em diálogos entendidos, partilhados, sonhados, com meios-tons ou totalmente explicado como se tivesse cinco anos e precisasse de saber tudo o que rodeia o aparecimento do mundo.
Achei que farias de mim a exigência de ultrapassar o normal dos erros que sempre cometo obrigando-nos a um ser novo, consciente e bem-querente, sem sombras do que fomos, novos num enredado de vontades. Sempre eu, sempre tu e nascer um nós caminhante com sacos de compras para o jantar feito à medida.
Pensei que te faria sempre à verdade para que não escondesses o riso emoldurado em covas e os momentos não fossem o de se estar só numa qualquer casa que às vezes não é mais que paredes.
Achei-nos brilhantes em cumplicidades dadas pelas cores do reconhecimento dos gestos, silêncios com o vento de lado a alvoraçar o cabelo, sem rodeios de joguinhos de mal-entendidos e fossemos reconhecidos por ter ganho a alma.
Às vezes ainda penso que podias ser tu e a historia teria outro fim, mas não se abriu o caminho em que a vontade atropela o atabalhoado das desculpas de não sermos o mesmo tempo atrevido.

Taxa

Tenho os ouvidos cheios. Não cabe nem mais uma palavra. À minha volta não param de falar e falar e falar numa inconsciente superficialidade que vai enchendo o espaço que devia ser dedicado ao importante. As palavras vêm em jorro, batem no ouvido externo e escorrem lentamente pescoço abaixo.
Podiam ser sopros frescos, mas o hálito cheira a azedo e faz-me virar a cara.
Também me ouço a falar, falar sem parar, como se disso dependesse algum total processado em texto corrido. Mas porque não me calo? Porque não se calam todos?
Não quero ouvir mais nada. Quero silêncio. Agora. Shiuuu!!
Quem quiser dizer alguma coisa que o faça por gestos que sempre fui boa em mímica.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Cortejo

À frente, na vida, seguem os heróis, como em banda desenhada, quadradinhos. Seguem os aventureiros, chapéu à Indiana Jones, sem medo dos animais ferozes que se escondem nas esquinas. Seguem os poetas, ilusionistas, a vida em magia, que lançam pozinhos de cores em espirais de ilusões que dão. Seguem os amantes, impulsionados pela força que move o impossível num desafio constante à vida.
À frente, as passagens do tempo que nos levam a levantar para uma qualquer direcção e seguir os heróis. Sonhar com um sítio onde não há tempestades, onde somos todos sempre melhores, maiores que nós próprios e mais uns deuses à mistura numa mortalidade digna de ser ver.
Nos sítios que percorremos deve estar a liberdade sussurra aos braços estendidos, à vontade e à força que aguenta os joelhos sem se dobrarem. Somos!
À frente, as passagens do tempo em que crescemos, mas nunca tanto que da parede do fim não haja a distância suficiente para podermos rir com os olhos molhados dos coelhos que vão saindo da cartola. Nunca tanto que a fome de ir já esteja saciada. Nunca tanto que do amor já só exista uma linha escrita.
Há vida à nossa frente. Há vida depois de nós.
O que vem depois que encerre o cortejo e feche a porta, porque nós vamos à frente.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Musiquinhas

Embora não realce aqui muitas vezes, há musica portuguesa que gosto mesmo muito. Como o sr que se segue. Não o acho um grande interprete, mas tem um carisma qualquer, assim a modos que inconfundível



E a que segue, que é uma das minhas musicas em repeat ultimamente. Junta dois extraordinários, o "nosso" Rodrigo Leão, e a voz perfeita do Neil, dos Divine Comedy.

Tasmanices XVII

Em conversas sobre o planeamento do dia :
Diaba- Almoçamos no McDonalds, passeamos e vamos à praia.
Mãe- Ok. Parece-me bem.
Diaba - Depois do almoço posso comer um gelado.
Mãe - Não é melhor comeres ao lanche quando sairmos da praia?
Diaba- Vá, diz lá o que eu tenho de fazer para comer um ao almoço e outro à tarde...

(Pois filha, lamento, mas nem o teu charme apurado vai conseguir a proeza de comeres dois gelados no mesmo dia... Mas admiro e faz-me rir esta tua desenvolvida capacidade de tentares negociar com chantagem...)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A nossa casa

Vim aqui porque não havia outro lugar onde pudesse morrer. Ainda dei outra volta antes de me decidir ficar aqui à espera. Houve tempos em que esperava o lento beber de um beijo vindo de qualquer direcção e atirado por ti.
Mas imagina tu como as coisas são, de repente o vazio. No preciso momento em que já não o esperava. Não se fez anunciar, não telefonou ou mandou recado a comunicar a sua vinda. Simplesmente apareceu no momento em que o teu carro virou a esquina. Ainda estava à janela quando desapareceste no fundo da rua, na velha rotina do “adeus e tem um bom dia” e eu a lembrar-me de ti misturando raiva, desejo, amor e ódio em quantidades desproporcionadas.
Agora o vazio, do tempo que se perde em esperanças muradas, perdendo a direcção, o sentido e outra vez o tempo
Queria dizer-te uma coisa importante, daquelas que devia esperar até tu morreres para dizer, mas decidi que sou eu que vou morrer e é importante que a saibas. Já tive várias vezes certa que irias morrer e depois nada, voltas mais vivo do que eu.
Sempre supôs que soubesses das máscaras que invento de cada vez que entro na casa onde habitamos. As máscaras que começaram por uma brincadeira, daquelas que fazemos no grupo dos amiguinhos da primária, trocando papeis e invertendo as posições. Depois tomaram forma e eram mais fácil andar mascarada. Não tinha de mostrar a verruga ao pé do lábio, a que me atormenta desde o nosso primeiro beijo. Sempre supôs que soubesses que era para que pudesses estar ao meu lado sem que ninguém percebesses ou quisesse saber. Garantia uma capar protectora sobre o nós contra o mundo real que teimava em querer infiltrar-se como ervas daninhas.
Não sabias. Logo tu que viste a verruga desde o primeiro dia. Logo tu a quem mostrei e nunca escondi nem as palavras. Logo tu, queres que explique o que de mim devias saber.
Voltas atrás e perguntas quem sou. Eu olho-me ao espelho depois da porta batida e vejo a mesma, igual. Foste tu que deixaste de ver com os olhos do coração.
Agora foste embora e quando voltares, no final do dia, será tarde demais porque és apenas uma ilusão. O que me mostraste de ti, o que dei de mim, que fique para sempre enterrado, que nada volte à luz dos dias.
Fecho os olhos e vejo-te uma última vez. Há coisas que não se podem querer e tu és uma delas, nesta existência precipitada, imprevisível. Já nada depende de mim, da minha vontade, tudo é apenas, como sempre, a tua.
Todos os sentimentos deviam ser recíprocos. Gostava de acreditar que assim é. Poupava-se e ganhava-se tanto. Mas não são, e esta lucidez assusta-me demasiado por isso, vim aqui porque não havia outro lugar onde pudesse morrer.
Adeus, para sempre tua.