terça-feira, 31 de março de 2009

Escorrer de areia

Tenho nas mãos a ilusão do futuro que imaginei e que perdi quando me caíram os botões do casaco de inverno.
Por entre as ervas, daninhas, que atravessam o campo, olho para trás e vejo uma cerca branca a emoldurar os sonhos que desaparecem no segundo olhar.
Quis um infinito, mas no final do mar, que me veste quando nele entro, está a linha do horizonte e eu não sei porque há fronteiras, quando olho os peixes.
Deixei de me preocupar com o tempo, que me quebra os rins, nas voltas que me obriga a dar para vestir vestidos novos.
Nada disto já importa ou define. Não sou o que é amanhã, amanhã é apenas uma conjugação de letras que emolduram frases que se dizem ao sorrir nos olhos dos outros, porque há sempre um tempo para partir, mesmo que não seja para lado nenhum para onde se comprou passagem.
Sendo assim, esfrego as mãos de contentamento, com creme de chocolate, que hidrata e suaviza este dia ao acordar.

Com a vida

"Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te. E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:«São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto.»
in O Spleen de Paris
Charles Baudelaire

segunda-feira, 30 de março de 2009

Promoções

A vida como uma promoção de vendas. Como o meu primeiro e continuado emprego. Sorrisos mais sorrisos, um cliente, uma conversa, um cliente, uma degustação.
Como as que comecei a fazer aos 17 anos e não mais parei.
A vida como uma promoção, para que um produto seja conhecido, querido, adquirido.
Veste farda, esconde olheiras, estuda o sorriso, cala mal-estar, inspira e vamos. Sempre a sorrir mesmo que por dentro chova. Mesmo quando por dentro está tudo em desalinho. A sorrir “Bom dia, já conhece…?” e ninguém percebe que os dentes caíram e o sorriso é amarelo com riscos verdes de bílis.
Ir ao encontro do cliente “ Bom dia, estamos em promoção. Na compra de um leva dois. São dois num só, tem todas as vantagens de acomodar em pouco espaço e não requer nenhuma manutenção”. Dois produtos num só e tudo mais fácil, porque o tempo escasseia e mais vale que seja uma coisa polivalente, que dê para todos os usos.
A vida como uma promoção, quando se vai ao encontro, se tenta uma venda. Estar sempre a ir e a tentar. Pelo meio, os que dizem sim, para logo a seguir mudarem de ideias e devolverem. Pelo meio, os que dizem que sim mas que depois a caminho da caixa registadora abandonam o produto em qualquer prateleira cheia de frascos de maionese talhada com o calor. No relatório, as vendas a indicar um número que não é verdade. Um balanço estatístico de contabilidade organizada. Antes de desistir, tentar, como os recibos verdes, com o seguro de acidentes por nossa conta. Sempre. Diz o luto já anunciado à partida, no pânico branco que cega no momento.
Vem o próximo cliente e o corpo balança. Para que tentar? Já não ficaram tantos produtos abandonados? Para que tentar vender mais um? E se dizem que sim? Será que se acredita? “Digam-me só mais uma vez, quer mesmo levar?” Tentar acreditar, afinal o produto é bom, mas sempre o medo que afinal se tenha ouvido mal e esta não seja a promoção que querem. “Sim? Quer? Não se preocupe que o acompanho até à caixa.”, num modo perdulário e inútil, mas com graça na perseverança infantil, ingénua, da pequenina esperança do voucher de desconto.
Sorrir, “Bom dia, já conhece…?”
Despir a farda, tirar o molde, guardar. Afinal amanhã tem de se ir trabalhar outra vez. Com um sorriso. Mesmo na tempestade.

Não posso conduzir carros sem rádio!

“Esta manhã dói-me mais do que é costume
A pele
As escarificações
As cicatrizes
Doeu-me a noite de laços e espuma(…)
O silêncio
Os gritos em feixe
Dentro de mim.”
Paula Tavares
Manual para Amantes Desesperados

Encostos

A manhã estava solarenga e três carros decidiram ir passear. O preto ia à frente, grande e sorridente, depois o cinzento, brincalhão, e atrás o azul, tímido.
Os dois da frente abrandam, mas o azul, distraído e querendo estar sempre a rolar, não parou. Resultado: o azul bateu no cinzento que, com o susto, deu um salto para a frente e bateu no preto.
Ficou o carro preto com dores nos rins, o cinzento de sorriso estragado e anca partida e o azul com o maxilar de lado!
Assim se acabou o passeio.
Moral da história: Quando está sol o melhor é andar de comboio.

(E assim vou conseguir mudar a lâmpada fundida do farolim da frente. O cinzento era o meu carro!)


Tasmanices XVII

A Diaba tem "uma vida amorosa" um bocado agitada. Desta vez voltou a namorar com o mesmo rapaz com que já namorou, "desnamorou" voltou a namorar e a "desnamorar". Da última vez acabaram porque, segundo ela, por mais que lhe dissesse que gostava dele, ele estava sempre a perguntar isso. Inseguro, portanto!
Diaba- Sabes Mãe, voltei a namorar com o Y.
Mãe- Outra vez, filha?
Diaba- Ó Mãe ele está sempre a fazer-me festas. Ele ama-me sempre!

(Pois... ainda que tenha tentado, não vale a pena explicar-te, agora aos 5 anos, que isso não chega...)

sexta-feira, 27 de março de 2009

Baterias e afins

Dormi 7H30! De seguida! Sem interrupções, insónias ou agitações! Estou tão contente!
Só isto é que serviu para não me passar quando o carro resolveu brincar aos mortos e teve de levar choques eléctricos para perceber quem manda!

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ficar...aqui

Acordei com vontade de ir embora. Para qualquer lado. Ir.
Mas depois vieram uns bracinhos que disseram "Toma lá um xi-coração que tu hoje estás a precisar!". Assim, assustadoramente certa.
E voltaram os sorrisos, as gargalhadas a rebentarem do silêncio e a certeza que estou bem aqui, mesmo que, às vezes, tenha muita vontade de ir.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Tasmanices XVI

Temos o hábito de relatar uma à outra como foi o nosso dia. Com mais ou menos descrição, lá vamos falando sobre o que fizemos ou aconteceu.
Relato de hoja, da Diaba:
Diaba-Hoje aconteceu um acidente muito grave lá na escola. A Rita, na hora da sesta, estava a brincar com uma zebra muito pequenina, meteu-a na boca e engoliu-a. Muito grave, Mãe. Por isso é que eu estou sempre a dizer que não podem ir para a cama com coisas pequenas, depois passa aqui pelo tubo do pescoço e vai para o estômago. Não me ouvem.
Mãe- Coitada da Rita, filha. E depois como fizeram?
Diaba- Depois ela teve de ir ao médico.
Mãe- E ficou bem?
Diaba- Ó Mãe, sei lá, achas que fui eu que fui ao médico com ela??
(Ora toma, Mãe, para não fazeres perguntas imbecis!)

terça-feira, 24 de março de 2009

Voo rasante

A linha que desce lentamente do teu pescoço. Contorno de desejo que se estende para o braço que me mergulha no peito onde estão tatuadas as cicatrizes cozidas com fina linha. Tão fina que deixa sair gotas de vários sangues feitos de transfusões que se misturam e inundam becos.
O mesmo braço que me levanta e me puxa para mergulhar nas cores, sabores, abismos debruados a medos quando se espreita à beirinha do precipício.
Tudo assim, rasante, rés do mundo. Por cima do que não interessa.
Por cima do teu corpo que acompanha danças em coreografias nocturnas, em olhos de coruja, míopes ou em lupa, um para dentro do outro. Por cima do meu. Não me conheces já?
Conhecer de cada vez mais uma linha, mais um jeito, mais um andar bamboleante de quem não sabe por onde anda. Aqui? talvez....Ali? Sem dúvida, que sim. Não ter nada a perder, mas tudo a ganhar porque do oco se enche momentos e buracos, com línguas e perguntas, salivas e segredos. O contorno preciso, definido, sem qualquer pressa a não ser a do momento de entrar e sentir e depois sair. Gotas de suor, bafos quentes, transpiram a fêmea que do macho faz cio.
O contorno de tantas manchas quando se olha para dentro e que depois desaparecem, sopradas, por qualquer vontade louca, insana, sem voz ou presença, em tons sussurados ou graves, sinfonias. E tudo a girar, girar, girar até entontecer e vomitar as larvas que não fazem parte desta história.
A loucura de ouvir gritar “Pára! Aqui e agora!”. E só isso interessar.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Não te analises

Não te analises.

Não procures no perfume das flores
a tempestades das raízes.

Nem queiras
desatar o fumo
do carvão das fogueiras.

Ama
com ossos de cinza
e cabelos de chama.

E deixa-te viver
Em rio a correr…

José Gomes Ferreira (de Poeta Militante II, 1978)

Afinal, birra não!

Tava aqui a miúda a curtir a sua birra de domingo à noite, embrenhada no mais profundo ódio às segundas feiras, quando o telemóvel acusa mensagem.
Pé arrasta pé e lá fui...
"Ké miminho!" dizia o sms enviado pela Amiga que estava na mesma sala, na mesma mesa que eu a trabalhar. LOL.
Há lá coisa melhor que gargalhadas às 01h14?????????????
Toma lá pá, montes de mimos para ti...Beijos é que é só daqui a um mês! :)

Birraaaaaaaaaaaaa

Acabou o fim de semana...Metade da To Do List não foi riscada... O Sporting foi vitima de taça jacking e perdeu...Já é segunda-feira....
Posso? Posso? Posso?
Vou atirar-me para o chão e gritar!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Eu vou, eu vou



Eu vou e LEVO-TE comigo :)

Dor

O meu médico disse-me “neste caso, a dor é um indicador benigno” . Respirei fundo, e vim com aquela frase a dar mote para muitos outros pensamentos.
Passamos metade da vida a combater a dor. A evitar senti-la. E para que?
Em muitos casos a dor é um indicador benigno. Diz-nos que não somos robots, diz-nos que a carne, as veias, o sangue por baixo da pele, continuam a enviar sinais de vida. O lado benigno da dor é quando ela nos lembra que estamos vivos e sentimos. Que temos oportunidade de a ultrapassar e com isso ficarmos mais fortes.
Que a dor pode ser um líquido precioso para a força que nos muda interiormente e dá oportunidade de nos (re)conhecermos. As feridas cicatrizam quando a dor é assim.
Às vezes, é preciso acolher a dor, abraçá-la sem a negar, dizer a nós próprios “foi assim” e partir daí.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Só para não ficar demasiado sério ou um bom lema de vida :)

Feiticeiros de OZ

Este devia ser um texto de esperança. Rectifico, este é um texto de esperança.
Que faça ver que no final, há um arco-íris com um pote de ouro à espera.
O ser depois de ser. O voltar depois, o amar depois, o depois.
Há coisas em que acredito autista e piamente. E acredito em (re)começos. Acredito que depois continua a haver muito. Não faz sentido não haver mais borboletas, não haver mais nós, não haver mais vontades. Não faz sentido ao abrir os olhos não ter um sorriso espelhado porque há leves brisas, cheiros, sabores, pensamentos.
Os finais estilhaçam. Rebentam-nos em mil pedaços. Por momentos afundamos e deixamos de respirar, presos nos limos. Mesmo quando fomos nós. Se calhar, pior se fomos nós, porque nos rebenta também a dor dos outros. Estilhaçam brutalmente e por momentos esquecemos o que somos, para onde vamos, o que estamos a fazer. Aparece o fim da ilusão que sustenta qualquer relação (também acredito piamente que se uma relação não tem a ilusão do nós, não existe), aparece o fim da vontade, aparece a razão a querer mandar e isso destrói.
Sim, destrói. Sim, recolher os pedaços e tentar reconstruir o puzzle faz doer os rins. Ficamos com tendinites dos movimentos repetidos, apanha, junta, cola. Às vezes sem cola e tudo fica meio preso, meio solto, pronto a cair, com cuspo posto de improviso. E sem darmos por isso, a pele tornou-se carapaça de tanto que o corpo se dobrou.
E agora? Como avançar para qualquer lado?. Qual o lado? Qual o caminho? Estamos parados em raízes que são cicatrizes que nos prendem, nos lembram, nos alimentam o não ir. Mas tentamos, tentamos dar passinhos que fazem doer articulações, que fazem parar a cada segundo para respirar. Tentamos.
Como avançar nesta fragilidade em que estamos, que somos? Qualquer coisa nos pode fazer desmoronar porque a construção não está sólida e sentimos que nenhum pedaço pode cair porque isso era a derrocada final.
Mas avançamos. Porque sonhamos e porque temos medo e desta combinação surge o grito que comanda, para não ceder à loucura.
Mais medo. Medos de variadas formas, em setas apontadas, em facas espetadas, medos que rodam e rodam em todas as direcções.
Mas avançamos. Como o Homem de Lata. E um dia caminhamos normalmente porque encontramos o Feiticeiro de Oz que somos e que nos devolve o coração.
E nesse dia está o arco-íris. Porque acreditámos que podíamos vê-lo.

(Para ti e para ti, minhas queridas, que nestes dias de final estão caídas. Eu levantei-me, vocês também o farão no tempo que for necessário.)

terça-feira, 17 de março de 2009

Lufada de surpresa

"Tu chamaste-me princesa, e eu, com infantil alegria, saltei-te para o colo"

Tempos

Tempos estranhos. Não maus, mas maus, não bons, mas bons, estranhos. Uma balança, cega, não justa, com bom e mau nos pratos. A balançar, balançar.
Coisas que doem, destroem, que magoam. Pequenos passos, não impunes, que marcam com giz o dia –a-dia que do negro, negro, se espera alvorada.
Lufada de surpresas que trazem brilhos que saltam ao colo e beijam loucuras.
Tempos estranhos. Com finas peneiras vai passando quem e o que não é importante. Fica o ouro preso na malha, para que brilhe no olhar, no calor, nas jóias que se entrelaçam nos dedos que se estendem.
Do lado direito o mau, o sombrio, o desenrolar, ombros a aguentar, ombros que se vão, sabor amargo a erro e injustiça. Raiva.
Do lado esquerdo o coração, que saltita nos que ficam, nos que aparecem, que estão e são, tatuados. Que se abre e estende para tudo. Que se aqueça com o sol que dão.
Dois pratos da balança. Não justa.
Estranhos tempos que nos esvaziam e nos enchem.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Algodão doce

Coisas simples. Simples como a brisa que passa, leve e nos leva em solavancos, curvas e contra curvas. Como o calor do sol que queima devagar, devagarinho e que nos faz ir sentindo bem, em pensamentos puros.
Estar vivo e respirar. Respirar em pequenas inalações, pequeninas para que não assuste a entrada do ar que às vezes falta, para que não doam os pulmões que se recolheram nas carapaças duras e velhas.
Águas frias, águas quentes, em alternância para provocar choques que fazem circular o sangue misturado em chá com pedaços de limão. A vida assim dita, escrita, em surpresa. Como algodão doce, em pedaços, flocos que se puxam, fiapos que adoçam os dedos.
À frente do passado, atrás do futuro, aqui, hoje. Assim. A sentir.

Tasmanices XV

A propósito de combater o sono, a Diaba explicou que quando fechava os olhos via "luzes" (ai que a miúda anda a pastilhar e eu não sei!!!!). Para a tentar acalmar, combinámos um género de jogo em que fechávamos os olhos e contávamos uma à outra o que víamos. "Visão" da Diaba, ontem:
Diaba- Estou num castelo com a vaca lilás do chocolate Milka. Nesse castelo há um espelho onde estão duas barbies que desaparecem quando vem o Mal. Depois todas juntas conseguimos combater o Mal e ficou o Bem para sempre. Aparece um campo cheio de flores e na flor cor-de-rosa mais bonita está a Mamã."
( ó pá...ó pá.... é ou não é bonito para qualquer Mãe???? Snifff de emoção)

domingo, 15 de março de 2009

Pancas

A vida em repeat. Como as músicas que se gosta e que se ouve e volta a ouvir. Parar o momento no suave feliz. Pausa. Inicio outra vez. Em repeat. Again and again.
Viver assim, em suaves ondas que voltam e voltam e molham os pés infantis e trazem brisas primaveris perfumadas de jasmim.
“a culpa não é do mar
se o meu olhar se perder
a culpa é da vontade (…) “

sábado, 14 de março de 2009

Obrigada por terem estado

Não há volta a dar. São mesmo as melhores noites da minha vida.
Casa cheia. Cheia de tudo. Cheia de pão ( no sentido figurado e no literal, que o Pimpão Valentão traz sempre o melhor pão!) cheia de amizade, cheia de força a preencher vazios que por vezes essa estúpida da vida nos põe à frente.
O desafio era mesmo cummmmerrr, buberrrr e jogatinas mas esta última parte foi sendo sucessivamente adiada pelo bem que se estava nas conversas fluídas, nos risos fáceis, na banda sonora mental que repetia o que era o sentimento:
"mas se eu digo venha
você traz a lenha
pro meu fogo acender"
Foi-se ficando, foi-se ficando, o vinho a acompanhar, e devagarinho a manhã começou a aparecer. Ouviam-se os pássaros a acordar lá fora, ouvia-se a cidade a começar a mexer.
O sono começou a aninhar-se em cadeirinha, enroscou-se e tomou o seu lugar na almofada.
Quando arrumei a sala, ela ainda tinha suaves perfumes, ainda ecoavam os risos, ainda estava cheia!
São mesmo as melhores :)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Figurinhas :)

Faço figuras ridículas. Pois é, faço e admito e com todo o gosto!
É normal verem-me aos saltos ou a dançar no meio da rua, a tentar encaixar ancas em escorregas, a dar cambalhotas em baloiços, treinar com tótós, usar bandoletas com orelhas de coelho, coisitas assim. Então no carro, é todos os dias. Quando virem uma miúda a pintalagar a cara dentro de um 307, numa IC17 perto de si, sou eu! Quando virem a mesma miúda dentro do mesmo carro a cantar e a dançar, enquanto conduz, como se não houvesse amanhã, também sou eu. Também é possível verem a mesma miúda a trocar de roupa, uma perna no volante para tirar sapatos e calças (e descobrir que a flexibilidade já não é a mesma e que se corre riscos de a perna não voltar ao sítio) enquanto o outro pezito tenta o dificil passo de dança entre acelarador, travão e embraiagem.
Figura ridícula é o meu nome do meio e não me importo, desde que me apeteça.
Hoje, com o corpo ainda em coma, mas um sorriso do tamanho do sol, lá iamos eu a a Diaba, rua fora, mão dada, aos saltos e a cantar o Mama Mia. Estavamos contentes, mas pelos vistos incomodamos um sr, já meio encarquilhado, que fez o lindo comentário "depois como querem que eles se saibam comportar quando crescem, andam nestas figuras com as Mães".
Ó pá, nós ainda nem um pontapé num caixote de lixo tinhamos dado!
Se me importei? Só que a Diaba tenha ouvido. Se parámos de o fazer? Claro que não!
E espero que a Diaba também nunca pare!
Estavámos de sorrisos nos lábios....

Depraved souls

"When you're in my arms
The world makes sense
There is no pretense
And you're crying
When you're by my side
There is no defense
I forget to sense
I'm dying (...)
We're damaged people
Praying for something
That doesn't come from somewhere deep inside us
Depraved souls
Trusting in the one thing
The one thing that this life has not denied us
When I feel the warmth
Of your very soul
I forget I'm cold
And crying
When your lips touch mine
And I lose control
I forget I'm old
And dying"

Depeche Mode- Damage People

quinta-feira, 12 de março de 2009

À volta do adro

Já Te pedi. Peço-Te todos os dias. Porque não me ouves? Porque não me ouves? Tenho-te pedido de todas as formas que são ditas como certas para Te pedir. Em orações. Em Pais Nossos, em “Seja feita a Tua vontade”.
Já Te pedi.
Ouve-me, o que na realidade quero pedir é que seja feita a minha vontade. Não a Tua, que não sei qual é. Porque se não for o que Te peço, sabe-me a injustiça. Sabe-me a brutalidade gratuita. Sabe-me a sangue. Porque ela não merece nada de mal. Porque ela é muito mais que um simples e estúpido erro. Porque o erro dela representa 0,000000000001% do que ela é e do que ela faz. Porque somos humanos e a única coisa que podemos ter certa é que erramos muito e continuamente. Mas não ela. Ela que segue o que Tu dizes, que ama os outros mais que a ela própria, que continuamente dá a outra face, que é Amor em forma de pessoa.
Onde está o Teu perdão? Onde está a Tua bondade? Onde está o pedido do teu filho “Perdoa-os, Pai, que eles não sabem o que fazem.”?
Ouve-me, por favor. Não é por mim, é por ela e Tu sabes bem que ela merece que o mundo seja sol e flores com leves aromas. Tu sabes. E se és Pai é teu dever protege-la.
Digo-te mais, é a oportunidade de te redimires perante mim. De me mostrares que estou errada nesta minha dúvida de Fé.
Também sei que não é assim que se pede, mas estou a falar como se falasse com o meu Pai. Estou a falar como filha. Estou a falar como filha que ama desesperadamente e que queria que Tu também lhe dissesses “Vai correr tudo bem”.
Por favor, estou a pedir.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ondas

Vieram como pequenas ondas verde, cheias de limos brilhantes. As recordações salgadas que troco por beijos doces, formato de bombons embrulhados em suaves pétalas de rosas vermelhas, trazidas na viagem a Paris, quando voltas para mim. Para me deitares na cama branca, manchada de vermelho em movimentos airosos de paixão e morangos. Cheiro de perfumes que ficam por baixo da pele e nos fazem rir, como ursinhos de peluches, com pequenos “amo-te” pendurados, escritos a cores e tatuados no cérebro.
Vieram como jardins cheios de flores, em que o sol queima as costas, quando de joelhos, enchemos a boca do mel que fazemos ao roçar as asas transparentes das fadas que acompanham a dança, numa qualquer mesa reservada para que o sabor se concentre num prato fundo para toda a fome que há no mundo.
Vieram, porque nunca saíram dos lábios que murmuram baixinho enquanto rodeiam o membro que se ergue ao calor, cobra enfeitiçada e dançante ao som ritmado do gemer que provocas.
Vieram porque nunca saíram dos cabelos que se entrelaçam em grandes cachecóis que se penduram no pescoço aberto ao peito e nos transforma num só boneco tricotado a quatro mãos.
Vieram porque as mãos se cruzam e percorrem todo o mapa de um corpo e depois outro e depois o mundo todo, num cego movimento que tudo abarca, porque nada há mais na galáxia.
Vieram como pequenas ondas que a maré fará recolher ao centro de tudo no oceano que somos.

Surpresa

Cheguei e o embrulho em cima da minha secretária entrou pelos olhos. Um segundo parada, sem perceber.
Uma caixa com um grande laço vermelho e ao lado um saco. Estranho. As mãos começam a tremer, ao mesmo tempo que o coração bate em descompasso, enquanto desfazem o laço. Lá dentro três rosas vermelhas. Cá fora um peluche e uma caixa de chocolates.
E eu choro de emoção. Muito. Muito.
Não sei quem foi, mas sim serve com um dia de atraso. Serve com todos os dias de atraso. Servirá sempre a surpresa e a emoção.
Obrigada a quem foi. Não consigo dizer mais nada.....

Lyrics

" I won't pretend that i intend to stop living
I wont pretend i'm good at forgiving
But I can't hate you
although I have tried

I still really really love you
Love is stronger than pride
I still really really love you (...)"

Sade- Love is stronger than pride

terça-feira, 10 de março de 2009

Ship Song

A culpa é do sol! Prontosssssss, tou assim hoje!

Lenços de namorados

Vinha eu a conduzir estrada fora, quando me apercebi de um estranho barulho no pára-brisas do carro. Era um folhetozito a publicitar qualquer coisa que nem me dei ao trabalho de ver. Mas o certo é que um pensamento leva ao outro e dei por mim a pensar de forma saudosita do tempo em que no pára-brisas do carro encontrava papelinhos com recados, ou flores talhadas em rabanetes :)
Que é feito dos bilhetinhos, das cartas, dos lenços dos namorados, ou mesmo dos pombos-correios?
O que é feito do tempo a que a malta suava as estopinhas para conseguir entrar em contacto com os outros?? O que é feito da imaginação para fazer tecer pequenos ardis?
A sério. Às vezes sinto falta destas coisas. Dos sinais combinados em assobios para que se viesse à janela, dos bilhetes pendurados em sítios estratégicos, das surpresas de alguém que aparecia sem se fazer anunciar, das flores recebidas sem aviso prévio. Essas coisas.
Será que a tecnologia também nos tira imaginação? Hoje as presenças são garantidas em sms, em e-mails, em comentários nos blogues e afins. Mandam-se sorrisos ou beijos lascivos por msn, combinam-se presenças sem surpresas, até conhecemos melhor as pessoas pelos textos que escrevem do que pelos cafés que se tomam.
Isto vindo da miúda que tem três caixas de e-mail, msn ligado todo o dia, blogue, hi5, netlog (que não usa), facebook (que não usa) e três telemóveis, parece ridículo, eu sei.
E também gosto de tudo o que vem pela tecnologia, que eu cá não sou esquisita e gosto mesmo é de contactos, mas hoje estou assim saudosista, tradicionalista e apetecia-me que, de repente, as colegas da bilheteira me chamassem porque está lá alguém para me ver, que no meu pára-brisas tivesse um papelucho a dizer qualquer coisita que não fosse venda, apetecia-me receber uma carta de amor ou chocotelegrama, doce, doce, doce…
A culpa é do sol. Do sol e desta mania de ser uma incurável romântica, mesmo quando conduzo!

segunda-feira, 9 de março de 2009

OBRIGAAAAAAAAADAAAAAAAAAA

Hoje é para ti. Só para ti, segredado ao ouvido. Para ti “que me estreitas toda nos teus braços”.
Para ti que me vês chegar em alvoroço e me acalmas.
Que me fazes rir com vontade, até doer bochechas e tudo ser música de gargalhadas.
Que chutas o meu cansaço e o transformas num outro diferente, transpirado e liberto do peso, por vezes cinzento, que de vez em quando carrego.
Para ti que pegas nos meus problemas, os descodificas, e me dizes “Disto trato eu, não te preocupes!”. E eles deixam de ser meus. Eles deixam de ser problemas.
Porque esta é a maior prova desta amizade cheia de amor. Esta é a maior prova que podemos caminhar juntos até sermos velhinhos, tu muito refilão e eu completamente surda para não ter de te ouvir!
O estarmos lá um para o outro. O estarmos lá, nas gargalhadas, nas conversas ou no silêncio confortável que tanto gostamos, porque não há necessidade de encher espaço e tempo, porque estamos lá, um ao lado do outro para tudo.
É por isso que não me canso de dizer “Obrigada” e não me canso de te chamar Meu Bem-Querer.
(Estou a tratar-te bem?????? Aproveita que é só até quinta-feira. LOL )

domingo, 8 de março de 2009

Confissão

Eu, pecadora, neste tempo de reflexão quaresmal, me confesso!
Pecadora do pecado da gula!!!!!!!!
Foi fim de semana de almoço de sábado recheado de petiscos, bolo divinal de chocolate e vinho (e muito boa companhia). Foi fim de semana de jantar de sabádo, com os amigos lá em casa, com o belo menu de bifinhos com molhos de natas e queijo e risoto de cogumelos com redução de aguardente (também com sopa e salada, que eu acredito numa alimentação equilibrada!!!) e vinhaça e morangoskas ( e, também muito boa companhia).
Foi fim de semana de esplanadar no domingo (desta vez foi com o mar aos pés) com almoço de tudo o que a época católica de jejum impõe (eu e a ironia ainda vamos directas para o calor do inferno!) ou seja, hamburguer, batatas fritas, copo de vinho e bolo de chocolate, ainda que acompanhados de salada porque adoro verdes ( e sempre em boa companhia)!
Temo por mim. Muito. Temo pelas minhas ancas!!!!!! (sim que o colestrol, como não o vejo, não me assusta, eheheh)
Pecadora me confesso, mas soube tãooooo bem.
(Adenda- Sr. PTzinho do meu coração, meu riquinhooooo, coisa boa, é tudo mentira! Eu juro que só comi uma fatia de bolo dada por si e bebi água, muita água. Nada mais entrou nesta boquinha santa! Não seja mauuuuuu com a menina, tá bem??)

sexta-feira, 6 de março de 2009

the one that i want, ooh, ooh, ooh

"I got chills, they're multiplyin, and I'm losin control
Cause the power you're supplyin', it's electrifyin"

You're the one that I want
John Travolta & Olivia Newton-John

Esclarecimento :)

Vamos lá a ver se eu consigo explicar sem ter de recorrer ao desenho (até porque desenho tão mal que continuariam sem perceber na mesma!).
Quando eu falo em vontade, falo do seguinte:
- Vontade pura e dura, lasciva, carnal. Aquela contracção quando um aroma, umas pernas bem torneadas, uma barriga luxuriosa, ou qualquer coisa do género faz pensar “Ó bebé anda cá, que eu dou-te colinho, dou!”. Essa vontade “animal”.
- Vontade que nasce porque há borboletas na barriga que se transformam em pensamento e, de repente, queremos.
Qualquer uma destas vontades serve. Se forem as duas ao mesmo tempo, combinadas num único ser, então é a p***a da loucura!
Por isso, não tem nada a ver com falsas questões morais, até porque moral e a minha pessoa é quase uma contradiction in terms.
Agradeço a constante preocupação, mas é isto e estou bem confortável nesta maneira de pensar/ser.
Agora é assim, amanhã logo se vê.

quinta-feira, 5 de março de 2009

História

Era uma vez uma princesa. Tinha uma pele de um bonito castanho dourado, olhos azuis e boca vermelha, onde todos as manhãs punha baton cor-de-rosa.
Um dia a princesa, ao passear muito longe de casa, encontrou um príncipe. O príncipe tinha um bonito fato verde, porque era do Sporting e o verde era a sua cor preferida.
Assim que se viram, os olhos caíram, e eles apaixonaram-se.
Passaram dias e dias a brincar. Adoravam brincar às escondidas, atrás das àrvores, debaixo das flores ou por detrás das cascatas onde viviam as ninfas, que estavam sempre ocupadas a tirar o lixo que os homens deitavam na àgua.
Um dia a princesa reparou que o sol já se tinha posto e nascido muitas vezes e que tinha de ir a casa, porque os pais e os irmãos já deviam estar preocupados.
O príncipe ficou muito triste e pediu para ela voltar o mais rápido possível, porque já estava com saudades.
A princesa prometeu que regressaria daí a três dias. Ele só tinha de contar três vezes o cantar do galo Badalo. Mas o pior aconteceu, e assim que a princesa chegou a casa, caiu nas escadas de entrada e ficou como que adormecida.
O príncipe esperou, esperou e esperou. De vez em quando brincava com os amigos e amigas, mas sempre a olhar para o caminho à espera da princesa.
De tanto esperar, transformou-se num sapo e ficou preso num nenúfar. Chorava lágrimas com pedras pretas que se transformaram numa ponte até à margem do lago.
Entretanto, um dos irmãos da princesa, o que tinha a cabeça grande e azul, foi chamar uma fada que acordou a princesa que ficou aflita por ainda não ter voltado.
Ela foi a correr mas não encontrou o principe, até que viu no lago, um sapo, que tinha a mesma cor do fato do principe. Atravessou a ponte e foi ter com o sapo para lhe perguntar se era ele. O sapo disse que sim, mas que de tanto esperar tinha ficado com os pés presos. A princesa disse que não fazia mal, que ia ficar ali ao lado dele, até os pés dela serem algas e poderem mergulhar os dois. E ficaram, felizes os dois.

(História escrita a duas bocas e quatros mãos! A primeira da Mãe e da Diaba. A Mãe com as coisas fofinhas, a Diaba com o absurdo!!!!!!!

Tasmanices XIV

Ao falar sobre o porque da demora em dormir, da resistência a fechar os olhos:
Diaba- Ó Mãe, é por causa dos pesadelos.
Mãe- Mas que pesadelo filha? Ainda não tinhas dormido
Diaba- Por causa do pesadelo com a bola de berlim gigante. Era uma bola de berlim e rebolava, rebolava atrás de mim...
(Eu sei que não se faz, mas não consegui parar de rir)

Enquanto ouvíamos música, eu dançava.
Diaba - Ó Mãe, pára de abanar o rabinho, quer dizer o rabão, que ele é grande!
(Pronto, já parei de rir e ela vai ficar de castigo até aos 60 anos!)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Beijos (que confirmam)

Meus beijos choverão na tua boca oceânica
primeiro um por um como uma fileira de gotas pesadas
gotas doces largas quando a chuva começa
e que rebentam como cravos de sombra
para logo todos juntos
se afundarem na tua gruta marinha
jorros dos beijos surdos que entram até o teu fundo
perdendo-se como jorros no mar
na tua boca oceânica e quente
beijos macios largos como o peso da massa
beijos escuros como os túneis de onde não se sai vivo
deslumbrantes como um surto de fé
sentidos como algo que te arranca (…)
Beijarei as tuas faces
os teus maxilares de estátua da argila adónica
a tua pele que se rende sob os meus dedos
para que eu modele um rosto da carne compacta idêntico ao teu
Beijarei os teus olhos maiores do que tu
Maiores que nós juntos, maiores que a vida e a morte
olhos de cor da suavidade
de olhar assombroso, como encontramo-nos numa rua connosco
como encontramo-nos diante de um abismo
que nos obriga a dizer quem somos
teus olhos em cujo fundo vives tu (…)
os teus olhos que tu não conheces
que olham como um grande golpe atordoante
que me perturbam e me obrigam a calar e a levar-me sério (…)
Beijarei também o teu pescoço liso e vertiginoso como um brinquedo imóvel
beijarei a tua garganta onde a vida se enlaça como uma fruta que pode ser mordida
a tua garganta onde se pode morder a amargura
e onde o sol, no estado líquido, circula na tua voz e nas tuas veias
como um conhaque leve e cheio de electricidade
Beijarei os teus ombros frágeis e construídos como a cidade de Florença
e os teus braços fortes como um caudal de um rio (…)
e as tuas mãos lisas e boas como colheres de madeira
as tuas mãos incitadoras de febre
ou suaves como o regaço da mãe do assassino
tuas mãos que acalmam como a dizer que a bondade existe.
Eu beijarei teus peitos mais mornos do que a convalescença (…)
teus peitos largos como uma paisagem escolhida definitivamente
Inesquecíveis como o pedaço de terra onde nos irão enterrar
quentes como o desejo de viver
com mamilos de milagre em doce pinos
que são a ponta onde, de repente, termina
a força da vida e das suas renovações
teus mamilos em botão para prender o paraíso
Eu beijarei o teu ventre firme como o planeta terra
teu ventre da planície que emergiu do caos
da praia rumorosa
do descanso para a cabeça do rei após ter entrado no revestimento
teu ventre misterioso berço desesperado da noite
remoinho da rendição e do deslumbrante suicídio (…)
teu ventre contraído que se endureceu como uma memória abrupta
e ondula como as colinas
e bate como as ondas mais profundas do mar e do oceano
teu ventre cheio de entranhas de altas temperaturas (…)
teu ventre incalculavelmente bonito
vale no meio de ti e no meio do universo
no meio do meu pensamento
no meio de meu beijo auroral (…)
Eu beijarei o teu sexo terrível
escuro como um sinal cujo o nome não pode ser dito sem trauteado
como uma cruz que marca o centro dos centros
teu sexo de sal preto
de flor nascida antes do tempo
delicado e perverso como o interior das conchas
mais profundo do que a cor vermelha
teu sexo de doce inferno vegetal
excitante como perder o sentido
aberto como a semente do mundo
teu sexo de perdão para o culpado
da dissolução da amargura e do mar hospitaleiro
e da luz e do conhecimento
da luta do amor até a morte, à volta das estrelas
da profundidade da tontura da viagem entre sonhos
da magia preta do leite encantado
da inclinação delicada do encadeamento das ideias
de brilho para fundir a vida e a morte
da galáxia em expansão
teu triângulo sagrado do sexo eu beijarei
Eu beijarei, beijarei
até fazer com que tu te inflames
como uma luz de papel que flutua louca na noite."

Besos, Tomás Segovia

Leizinhas

Em conversas com um colega/amigo que se vai embora surge a lapidar frase “não se volta a pessoas nem a sítios onde já fomos felizes”.
Eu, que tenho sempre opinião sobre tudo, não concordo!
Aliás tenho dificuldade em lidar com ideias feitas, preconceitos pré estabelecidos, “leizinhas” pré definidas, em “deve ser assim”. Tenho dificuldade em “mas já se sabe que assim não resulta” e coisas que tais. Cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa e nessa coisa de fronteiras e balizas cada um sabe de si.
Volta-se sim, a pessoas e a lugares. O que acho que é um erro é achar que vai ser igual. Isso nunca poderá ser, porque o tempo já não é o mesmo. Mas o ser diferente não é necessariamente pior. Pode ser igualmente bom ou até melhor.
Já voltei a pessoas, porque o sentimento fazia sentido e fui na mesma feliz, de forma diferente, mas feliz. Farto-me de voltar a sítios onde já fui e onde volto a ser, e onde descubro coisas novas, porque os olhares são diferentes.
Seja como for isso sou eu, o que me incomoda mesmo é esta coisa definida como lei. Só porque acho que a vida é tão mais gira quando nos esvaziamos disso e deixamos que tudo possa acontecer.

terça-feira, 3 de março de 2009

(Des)encontros

Chegámos aqui. Ao ponto côncavo dos lugares comuns, porque iguais a tantos outros, ou estranhos por nunca cá termos estado, mas comuns. Chegámos aqui. Ao lugar onde as palavras são o que são, grandes mas vazias de acção, palavras que não são verbos. Chegámos aqui, ao ponto onde nada se faz. Ao ponto de onde se podia partir para qualquer coisa, para todas as ruelas do amor, avenidas largas ou caminhos de pedra, para todos os desvios da vida, em cruzamentos múltiplos de opções, mas onde o “Vou” não faz mexer os pés, que teimosamente se tornaram raízes.
Chegámos aqui onde nada mais vai acontecer do que aquilo que já é, porque a uns os passos se tolhem e não andam e a outros esta paragem faz ter vontade de correr para que venham, tal como um jogo da apanhada, ver por onde correm sem haver o ponto de descanso, olhando por cima do ombro para ver se alguém vem. Mas não vem.
Chegámos aqui e o caminho separa-se. O lado a lado em qualquer estrada passa a ser estradas paralelas, lado a lado, mas em passeios diferentes, para que se possa caminhar sempre em frente. Lado a lado, mas em passeios diferentes porque chegámos ao ponto em que não há verbos como correr (para ti).

Bloqueio

Parece estranho ter ficado estes dias seguidos sem vir aqui escrever.
Muitos textos foram elaborados, mentalmente, frase por frase, concordâncias gramaticais, tudo, mas nenhumm passou para o "papel". Estão todos aqui, na minha cabeça.
Podia escrever sobre o aniversário da Diaba, sobre a alegria de ser Mãe, sobre ter descoberto como é ver o amor crescer todos os dias, como é aprender a viver com medo todos os dias. Podia escrever sobre como foi o dia de nascimento dela, a minha Mãe a sorrir e a ver que, ainda que faltassem duas semanas, ela ia nascer naquele dia, o Pai da Diaba a rir de felicidade, sem acreditar muito bem que ia ser naquele dia. Podia, mas preferi contar-lhe, como quem conta uma história de encantar.
Podia escrever como o que mais queria, neste momento, era poder soprar a angústia do peito que é mais que meu sangue. Transformar essa angústia em borboletas esvoaçantes e bonitas. Como peço todos os dias por ela, por aquele coração maior que tudo, que tudo abarca e todos abraça. Podia escrever como sei que vai tudo correr bem, porque ela merece que assim seja, e os erros são como soluços, aparecem sem esperarmos por eles, mas depois desaparecem, e quando reconhecemos os erros com bondade isso ajuda-nos a melhorar.
Podia escrever como há abordagens kamikazes que nos fazem rir de tão más que são. De como entre copos e músicas encontramos quem faça harakiri sem perceber!
Podia escrever sobre "traições" que já se sabiam que o eram, mas que quando confrontadas com a verdade, sem mal entendidos, de permanência num tempo maior do que julgávamos e mais forte do que disseram, nos corroiem e amargam. Porque sempre foi defendida a verdade como lei e ela só foi meia lei ou meia verdade.
Podia escrever sobre isto tudo, como escrevi na minha cabeça, frase por frase.
Dou por mim a tentar, a tentar que escorra dos dedos, mas nada sai.