terça-feira, 24 de março de 2009

Voo rasante

A linha que desce lentamente do teu pescoço. Contorno de desejo que se estende para o braço que me mergulha no peito onde estão tatuadas as cicatrizes cozidas com fina linha. Tão fina que deixa sair gotas de vários sangues feitos de transfusões que se misturam e inundam becos.
O mesmo braço que me levanta e me puxa para mergulhar nas cores, sabores, abismos debruados a medos quando se espreita à beirinha do precipício.
Tudo assim, rasante, rés do mundo. Por cima do que não interessa.
Por cima do teu corpo que acompanha danças em coreografias nocturnas, em olhos de coruja, míopes ou em lupa, um para dentro do outro. Por cima do meu. Não me conheces já?
Conhecer de cada vez mais uma linha, mais um jeito, mais um andar bamboleante de quem não sabe por onde anda. Aqui? talvez....Ali? Sem dúvida, que sim. Não ter nada a perder, mas tudo a ganhar porque do oco se enche momentos e buracos, com línguas e perguntas, salivas e segredos. O contorno preciso, definido, sem qualquer pressa a não ser a do momento de entrar e sentir e depois sair. Gotas de suor, bafos quentes, transpiram a fêmea que do macho faz cio.
O contorno de tantas manchas quando se olha para dentro e que depois desaparecem, sopradas, por qualquer vontade louca, insana, sem voz ou presença, em tons sussurados ou graves, sinfonias. E tudo a girar, girar, girar até entontecer e vomitar as larvas que não fazem parte desta história.
A loucura de ouvir gritar “Pára! Aqui e agora!”. E só isso interessar.

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