segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Teoria dos 320 ou do Ferrari

Encontraram-se numa curva em que o Ferrari, que dá 320, um bocado cansado, tinha reduzido a velocidade e o Fiat, que no máximo dá 160, estava quase no red light. Nessa curva pareceram certos para caminhar e o Ferrari via-se a cortar metas com um sorriso descansado, que isto de andar a 300 cansa muito o próprio e às vezes farta.
Mas o Fiat reduz, porque andar sempre a 160 estraga o motor, e o Ferrari reduz também porque não quer deixar o Fiat para trás. Até ao dia em que começa a querer acelerar outra vez. É uma questão de necessidade. Para vencer uma montanha pode-se engrenar uma primeira, que é uma mudança de força, mas quando se está em recta a rotação do motor está ligada às rodas e é preciso a mudança mais alta.
E lá se puxa o Fiat ao momento em que se acelera a 320 à espera que ele acompanhe, nessa vã esperança ou ilusão de tornar um Fiat num Ferrari “vem comigo, eu levo-te”.
E o Fiat vai ao máximo e o Ferrari fica contentinho. Mas depois o Fiat desacelera até ao ponto em que o Ferrari se cansa demasiado de estar a acelerar sozinho, de estar sempre a abrandar, de estar sempre a tentar puxar, e o Fiat se cansa de estar sempre a 160 se o que quer é andar a 90. Isto é basicamente a Teoria dos 320 ou do Ferrari.
Conheço demasiado bem a aplicação desta teoria, no cansaço de andar a 300, vá, que sou rapariga respeitadora do limite da velocidade, puxando o Fiat que anda no máximo a 160.
Mas no meio disto tudo, teoria certíssima e brutal, há uma montanha de Ses…
As pessoas não são só o que fazem e estão constantemente a enganar-se no que são e no que julgam que os outros são e nunca se sabe precisar o que é estar apaixonado. Como e porque se apaixonou e muito menos definir a intensidade da paixão. A paixão é esquizofrénica, e hoje é louca, amanhã é menos e depois é transbordante para voltar a abrandar. E tudo parece um circuito racing onde nas curvas não se trava mas se larga o acelerador.
É assim a vida também. Há alturas em que se quer acelerar ao máximo e outras em que se precisa de parar um bocado.
E se na curva aparece alguém? Como saber se quem subiu na garupa consegue depois aguentar a velocidade, ganhar rodas e vir ao lado?
E quando se encosta às boxes porque se precisa de qualquer manutenção? E se aparece alguém ali? Será ilusão?
Nenhum obstáculo poderá ser intransponível nas idas e nas vindas, mesmo quando cansa esperar ou mesmo quando ao outro cansa demasiado acelerar.
E onde reside esta verdade? No simples facto de amar. Amar também os gostos e desgostos deles para melhor os conhecer no reverencial respeito que deve haver.
Se não me acompanhas agora é porque não consegues e eu espero um bocado por ti sabendo que ali à frente já recuperaste força e és tu que aceleras para me fazer viver.
Deverá ser assim?
Se tudo pode acontecer, se pode haver nuvens cheias que não chovam, se pode no deserto haver flores, porque não pode um Ferrari e um Fiat encontrarem-se e caminharem de mão dada de qualquer maneira? Explicaria os opostos que se atraem.
Ou a simples resposta ao mistério é o aparelhar de Ferraris e o aparelhar de Fiats? Lado a lado, na mesma velocidade de vida, no mesmo cuidado nas mudanças quer sejam automáticas ou manuais? Será isso?
Poderá um Ferrari tornar-se não num Fiat mas num Toyota ou o contrário, o Fiat passar a ser um BMW?
Alguém sabe?

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu nao sei, mas sei que és um Ferrari e o teu pai tem razão quando diz que intimidas! E eu tive sempre medo.

Gonçalo Viana disse...

Se um carro de corridas pode emparelhar com um Porche de produção..(eu vi, eu vi, no Cars!) tudo é possível, basta querer muito.

Gonçalo Viana disse...

e além de emparelharem foram felizes para sempre!

Gonçalo Viana disse...

certa vez conheci um Ferrari que insistia autisticamente que era um simples Fiat... :D