"Ele apareceu com o seu passo arrastado e bamboleante. Ela já estava na estação, à espera de nada.
Encontraram-se por acaso, na plataforma de embarque.
O tango enredado em coreografias ditadas pelo cansaço de quem chega.
Ficaram, na plataforma, em mágicos silêncios, cabeças rendidas aos olhares cheios e simples.
A ternura tornou-se numa maravilhosa praga de gafanhotos que os levava, aos pulos, a risos sinceros e ao milagre da alegria infantil. Ela não esperava nada para os dois, ele olhava-a com ódio, por ela dar tudo. Ele era quase crédulo e de vontade fraca, ela fingia-se forte (...). Ele desculpava-se de tudo, ela culpava-se do mundo.
Viviam mãos e bocas nos mapas dos corpos suados. Acabavam por se abraçar os dois numa cama desfeita em desejos, onde ela ansiava pelo sono tranquilo que ele velava entre beijos e mão dada. E ela sentia-se protegida.
Ele chamava-a de Maria. Ela não o chamava, deixava que ele viesse quando a vontade o empurrasse.
Acabavam os dois por se perderem num mar de terra e sonhos. Porque ele era vendedor de sonhos que eram a colecção preferida dela.
De mansinho, a surpresa de querer mais por serem tanto em tão pouco. Mas já não riam.
Ela mostrou-lhe a alma na certeza que ele não ficaria, ainda que o desejassem. Ele inquietou-se. Fizeram as malas em conjunto.
Na plataforma de onde nunca sairam, disseram adeus."
Porque hoje é bolinha no dia que era só meu
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
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1 comentário:
Ouvi Dizer (para a Maria)
"Ouvi dizer que o nosso amor acabou
Pois eu não tive a noção do seu fim
Pelo que eu já tentei
Eu não vou vê-lo em mim
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem
E ao que eu vejo
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi
E eu fiquei com tanto para dar
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva
E pudesse eu pagar de outra forma
Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã
E eu tinha tantos planos pra depois
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós
Sem tirar das palavras seu cruel sentido
Sobre a razão estar cega
Resta-me apenas uma razão
Um dia vais ser tu
E um homem como tu
Como eu não fui
Um dia vou-te ouvir dizer
E pudesse eu pagar de outra forma
Sei que um dia vais dizer
E pudesse eu pagar de outra forma
A cidade está deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura
Ora amarga! ora doce
Pra nos lembrar que o amor é uma doença
Quando nele julgamos ver a nossa cura"
By Ornatos Violeta
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