sexta-feira, 23 de abril de 2010

Assim

Afinal não morri na primeira morte que temia. Fui contra a bala e não morri.
Se calhar por isso me pareço com um zombie que vende passados, ao virar da esquina, sempre saltando de avenidas e calendários para os fazer.
Quanto mais penso na vida menos sentido ela faz e essa foi a primeira fenda, primeiro buraco na separação dos mundos.
Uma primeira vez, uma última vez “ mesmo para as vezes em que se diz que se não me amares não serei amado e se não te amar eu não amarei (…) aterrorizado outra vez de não amar, de amar e não seres tu, de ser amado e não ser por ti, de saber e não saber e fingir, fingir (…)”.*
E se tanto dói que as coisas passem assim ou passem de todo é porque cada momento em mim foi vivido como se essas coisas do Amor fossem eternas. Não são, ou são o tempo que forem, ou o eterno é o momento e o coração.
Não morri em nenhuma das mortes a que me prometi e por isso, seja o que vier, Amor.

*Samuel Beckett " As escadas não têm degraus"

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