O segredo é teres sempre os olhos fechados, dizia Laurinda. Assim que chegares, fecha os olhos. Desta maneira, tudo se passa dentro de ti. Podes imaginar o que quiseres, sonhar com o quiseres. Deixares que aquele perfume, tão querido num corpo e que te dá vómitos noutro, te invade e faça a música que tu queres.
A princípio achei estranho de conseguir. Como é que o simples facto de fechar os olhos poderia fazer com que fosse mais fácil ou mais mágico? Mas resolvi tentar.
Durante o dia era fácil, andava sempre de óculos escuros e fechava os olhos sem que ninguém notasse. À noite fazia-o com um sorriso e os outros pensavam que era por deleite, introspecção, querer sentir. Que me enchiam. E sentiam-se bem ao pensar que era isso que me faziam. Tolos! Enganei-os a todos, esses tolos tão cheios de si que nunca perceberam que os olhos fechados eram a maneira de sair dali. Do cheiro que gostava num corpo, não me fazer vomitar no deles. De olhos fechados podia estar onde quisesse, amar como quisesse, num estado só meu, num espaço só meu, num amor só meu. Só assim foi possível serem todos os que foram sem vomitar.
Nunca abri os olhos, nunca voltei a encontrar o cheiro e o corpo num só e apenas Laurinda sabia o meu segredo.
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