sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Básico

Devagar, afasto os lençóis que nos cobriam e saio da cama. Devagar, sem fazer barulho ou movimentos bruscos.
Queria ficar ali, que a manhã ainda é novinha, mas tenho de ir. Apetecia-me prender-me ao teu tronco, enrolada e dizer “hoje sou a tua camisa. Leva-me e mantêm-te quietinho para que ninguém note que tem vida o que te tapa”.
Com delicadeza, abro a porta para o corredor. Não te quero acordar do desmaio a que se rendeu o teu corpo de grande urso quando, satisfeito, hibernou, por uma noite, ainda nos meus braços. Adormecer agarrado para logo afastar um pouco do toque porque o calor que se provoca permanece e é suficiente para o passar da noite.
Fecho a porta atrás de mim, ligando o quarto ao cheiro a sexo que ainda por lá habita as almofadas.
Em bicos de pés descalços, começo a gostar desta casa, onde a esquina para a casa de banho é já conhecida de ombros, e, entre apalpões, acendo o botão que dá luz e que me faz fechar ligeiramente os olhos.
Com mãos postas no lavatório, olho-me no espelho, cabelos revoltos, e procuro situar-me naquele lugar que não é meu, numa realidade emprestada por momentos, no meio do teu perfume e pasta de dentes, no meio da cara lavada na tua toalha.
Apanho a roupa do chão da sala, onde me visto e volto ao quarto para te dar um beijo de fugido, leve, a roçar, para que não seja um adeus e continue a ser um até já ou até que me chames.

1 comentário:

Miss Lion disse...

E as toneladas que, às vezes, pesa a roupa que se apanha do chão?...


(a forma de construção da frase é propositada, OK?!)