Meu amor, escrevo para que um dia te possa mostrar o que se passa cá dentro. Não espero que hoje o compreendas, afinal só tens cinco anos, mas quem sabe quando fores mais velha olharás estas palavras e talvez um sorriso te assome aos lábios.
Balanço muito entre o que acho que devo fazer para te educar e o tentar respeitar-te sempre como ser. Tu és uma pessoa, não uma continuação do que eu sou, e por isso a minha vontade não tem de estar sempre a imperar sobre a tua. Mas também tens cinco anos e as decisões que dizes escolher só podem ser moderadas pelos teus curtos anos.
Eu tento explicar-te, tento mostar-te os vários pontos de uma mesma questão. O que para ti é um jogo divertido, o pegar num papel e por os prós e os contras de um dilema, para mim é uma forma de te fazer pensar, porque acredito piamente que qualquer decisão deve ser posta assim.
Ontem, embora na tua tabela tivesses cinco prós e um contra, o teu medo fazia-te querer optar pelo contra e explicaste-me muito bem esse medo. Eu percebi, mas não podia aceitar que ficasses e não aproveitasses o que sabiamos, as duas, que ia ser bom.
Soube-te a violência gratutita quando te peguei ao colo e te obriguei a enfrentar. Custa-me tanto ou mais que a ti, quando os teus olhos marejados se viram para mim e da tua boca sai um "és má", mas entende, de ti não posso nunca desistir. Sim, atirei-te para a frente, é verdade, mas não te atirei sozinha, fui ao teu lado.
Era mais fácil aceitar o teu medo, aconchegar-te a mim e passarmos a tarde juntas, mas o mais fácil nem sempre é o melhor e eu morro de medo do dia em que não estarei para te ajudar a enfrentar medos ou do dia em que nem sequer saberei quais são.
Também eu morro de medo, morro de medo desses dias e morro de medo de não te conseguir mostrar que medos todos temos, mas se sabemos quais são devemos pegar neles e soprá-los para longe. Viver é assim, e para ti o que desejo é que vivas, muito, muito e não que apenas passes por cá.
Sei que o percebeste muito bem quando no principio da noite te sentaste ao meu lado e disseste "É normal termos medo, mas afinal correu tudo bem e foi divertido. Ainda bem que fui."
Estarei sempre, sempre ao teu lado. Amo-te de uma forma incontrolável e por te amar tanto é que não posso nunca desistir de ti. Percebes? Um beijo grande da Mãe.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
porque não basta o dia estar chuvoso e ainda me colocas a chover também... porque esse deve ser o problema permanente das mães que vivenciam, em consciência, a maternidade. porqûe enquanto te questionares haverá sempre uma luz acesa que te indica o caminho... porque o medo de não saber o que (lhe) fazer ou dizer te impele para a frente... porque ela trará sempre colada na pele esse jeito de estar.
bj
S
eu estava a ler esta carta e as lágrimas corriam-me pela cara tipo torneira. Porque do fundo do coração desejo muito conseguir ser tão bom pai com tu és mãe.
g
Lindo, linda, lindas!...
No big comments: quaisquer que sejam as palavras estão a mais, serão ruído. Chorei, mas por dentro (que sou muuuuuuito + macho que esse pindérico do Busa LOL). Chorei da mesma comoção serena, contemplativa, iluminada que me inunda quando toco algo de religiosamente belo: como é o Amor pela tua pimpolha, e a relacão inteligente que tens com ela. Quando fizer o 2º dás-me umas explicações, tá?
Enviar um comentário