terça-feira, 6 de maio de 2008

Margaridas

Sábado à noite e jantar com amigos. O telemóvel sem bateria, pela primeira vez num ano e três meses, num sábado, o telefone sem bateria.
Estava tudo bem, ambiente descontraído, risos e barulhos de jantar. Tocou um telemóvel, de alguém muito próximo, não o meu, que estava sem bateria num sábado à noite.
A voz que diz "É para ti" e o coração que acelera, dispara num galope incontrolável.
" Estás a ouvir? Houve um acidente..." Dejá-vu!Não quero ouvir mais, ainda sei de cor o que vem a seguir, mas ouço,tudo até ao fim "ela morreu". Dejá-vu!
Dizem que deixei de ouvir e ver, não sei, não me lembro, só me lembro perder o controle e gritar surdamente "NÂOOOOOOOOOOOOOOOOOO". Este grito não se calou, continua repetidamente a sair.
Devíamos estar a jantar juntas. Falámos três vezes no dia anterior. Risos, cumplicidade só nossa nas conversas meias, nas nossas privates, só nossas. "Vá, não jantámos juntas, mas é por uma boa causa." dizias tu no primeiro telefonema, "Ok, vou ter contigo no domingo" respondi eu". E fui, mas já não eras tu, ou já não era eu, ou já não precisava de ir a lado nenhum para estar contigo.
Fazes-me falta! Sei que estás comigo porque te sinto mas como aprender a viver no silêncio onde antes houve tanta música?
Eras parte de um grupo, nesta compartição arrumada de categorias de amigos, e este grupo não sobreviveu bem a não estares. Fazias parte de muito mais no meu mundo, para além dessa categoria de origem, estavas em todas as outras.Iamos fazer tanta coisa e eu nunca cheguei a descer uma pista vermelha contigo.
Hoje vou-me sentar-me no chão ao teu lado, tenho novidades para te contar. Hoje vou-te levar margaridas porque tu gostas e vamos rir, as duas, com toda a vontade.
Nunca mais o telemóvel ficou sem bateria num sábado à noite.

"Stop all the clocks, cut off the telephone.
Prevent the dog from barking with a juicy bone.
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead.
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.(...)

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good."

1 comentário:

Anónimo disse...

Um eterno, e no entanto breve adeus... porque apesar de não sermos tão proximas,ainda hoje não acredito e sempre penso na tonta reacção, na incredibilidade da minha resposta (estás a brincar...) à nossa amiga comum...
Um eterno e breve adeus. Protege os que mais amas, e apazigua o sofrimento dos que sempre e para sempre te amaram.
Para ti amiga, que ris com ela, que depositas margaridas, um abraço e o sentimento de força, para que todos os dias sintas a tua amiga perto e dentro de ti...
Um eterno e breve adeus...