terça-feira, 12 de maio de 2009

Arquivo VIII

Posso fechar os olhos, ou fixar o meu olhar com muita atenção a cada detalhe de outro que ali esteja, mas é o teu que sei de cor. Se soubesse desenhar, poderia fazer traço por traço, perfeito e sem hesitação, a linha das tuas sobrancelhas revoltas, o desenho amendoado dos teus olhos. Se fosse escultura, não haveria necessidade de qualquer cinzel para escavar as tuas maçãs do rosto ou o contorno dos teus lábios. Se eu fechar os olhos, ou fixar o meu olhar num outro qualquer consigo ver a barba semeada com pequenos pelos, os mesmo que me arranham nos dias ou noites em que já começam a despontar com mais rapidez.
Tentei, tentei esquecer-te (ou lembrar-te!) noutro corpo. Quis que os beijos de outra boca me queimassem como os teus, que os dedos me tocassem e me tirassem a pele, quis substituir-te no perfume, no riso e no toque de outro homem. Mas é o teu que conheço.
Posso fechar os olhos, ou fixar o meu olhar noutro qualquer de cada vez que tento o meu melhor para que a nitidez desapareça e dê lugar ao nevoeiro que precede o tempo fosco que fique ali.
Posso fechar os olhos, ou fixar o meu olhar noutro qualquer mas é o teu olhar que sei de cor. Só não sei porque não foi o meu o suficiente.

3 comentários:

Anónimo disse...

Em ti, é tudo mais do que suficiente. Pena que por medo ou por outras tretas do genero, não se tenha aproveitado tudo o que és.

Anónimo disse...

Fecha os olhos, mas deixa-os abertos para se mostrarem ao mundo... o mundo merece uns olhos assim.

... e não sabes, porque se alguma coisa não tiver sido suficiente, não foi o teu olhar de certeza...

Anónimo disse...

:( :( :(