quarta-feira, 3 de junho de 2009

Abrir águas

Abrir comportas. Deixar correr, primeiro um pequeno fio que rebentará o dique. Abrir comportas. Deixar correr. Inundar campos estéreis, inundar como se fossem arrozais que do lago fazem cultura. Inundar campos que já foram perfeitos, sulcados, lavrados. Já alimentaram com as colheitas. Que depois se tornaram estéreis por já não poderem mais ser lavrados. Abrir comportas e deixar correr. Lavar as terras e tirar tudo o que está à tona, todas as dores e gritos do pó, todas as incertezas da terra que foi fértil, todas as dúvidas dos campos secos, áridos, marcados de frestas e tristeza daquilo que se tornaram quando se julgavam férteis e não eram. Lavar com água a correr.
Abrir comportas. Águas que não param de correr, que não param, que não param até se transformarem num oceano cheio de estrelas-do-mar que cairam do firmamento por tanto terem olhado a gigantesca íris dos olhos azuis do céu. Águas salgadas que correm até se tornarem glaciares por cima dos campos estéreis.

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