Como se alguém soubesse explicar o que é a saudade. Essa palavra tão parecida a fado, que é mais que um amontoar de letras alinhadas. Tem um peso de toneladas quando dita, quando escrita, quando sentida e mesmo assim não se sabe bem explicar o que é.
S-a-u-d-a-d-e. Como uma ausência, ou falta, a vermelho como antigamente, embrulhada num qualquer papel pardo, ou talvez papel prata, porque a palavra, apesar do peso, brilha.
Como se alguém conseguisse explicar o que é a saudade quando estão 40º graus e o corpo derrete como se não tivesse esqueleto, dengoso, e de repente estamos feitos em poças de água, o que poderia ter o seu encanto se o calor deixasse que as crianças nos pulassem para dentro, espalhando-nos por toda a parte.
Gostava que conseguissem explicar. Ficaria sentada, mãos no regaço da saia plissada com padrões de xadrez, muito calada e de olhos abertos para que não perdesse nada e percebesse tudo. Podia ser que respirasse de alívio ao perceber que a saudade é como o fado, canta-se e depois já está, não se volta a cantar o mesmo fado num só espectáculo.
Podia ser que respirasse de alívio ao perceber que é uma palavra portuguesa, muito portuguesa, enraizada em nós como as sardinhas nas festas dos santos populares e como tal, há uma época em que não há, a não ser congeladas. Como as saudades, que se querem gordas e que no Inverno só existem congeladas e nessa altura come-se outros peixes, que a dieta mediterrânica é rica nisso e deve-se comer peixe numa alimentação saudável.
Como o adeus ao azul da Primavera, porque há mais três estações e as condições meteorológicas estão sempre a mudar.
Como o adeus, vou partir, mas levo (te) comigo (n)a saudade.
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1 comentário:
"Tenho saudades do que vivi e já não vivo mais, do que podia ter vivido de outra maneira e do que nunca vivi. Tenho saudades do tempo em que o tempo estava parado e não corria desta maneira e em que eu não tinha que correr contra ele.
Tenho saudades de descansar sem me cansar e de me cansar descansado. Tenho saudades da areia que me fugiu pelos dedos e dos castelos que as ondas desmancharam. Tenho saudades dos luares inconsequentes e da consequência dos luares.
Tenho saudades dos amigos que já nem sei e de não saber as amizades que tinha. Tenho saudades de sair para o recreio e de recrear as saídas. Tenho saudades das encruzilhadas da decisão e das decisões encruzilhadas. Tenho saudades de ti, de mim e de nós. Tenho saudades dos filmes que não me lembro e das lembranças filmadas. Tenho saudades da música ensinada e da aprendizagem musical.
Mas tenho, acima de tudo, saudades de não ter saudade de nada!"
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