quinta-feira, 4 de junho de 2009

Circo

O espaço estava cheio de palavras por dizer. Ficaram suspensas no trapézio, a baloiçar para um lado e para o outro. Não havia rede por baixo, que as amparasse em caso de queda vertiginosa logo a seguir a saírem de um baloiço para o outro. As palavras ficavam sempre suspensas, no meio do ar, no vazio. Naquele pedaço de vácuo, ausência de matéria num espaço ou energia.
Já todos os números tinham sido executados. Vieram primeiro os palhaços, para descontrair a audiência. Por o público mais descontraído e receptivo ao resto do alinhamento. Rir é sempre gémeo do bem-estar e tinha de se preparar o terreno para os outros artistas que entravam a seguir. Vieram acrobatas que fizeram o publico gritar de susto e excitação. Vieram os mágicos que surpeenderam em "ohhs" as pequenas flores tiradas da cartola. O alinhamento não estava pensado em ordem de chegada ou de entrada, mas a determinada altura deviam entrar as palavras, porque faziam sempre parte. Elas entraram e subiram, mas ficaram suspensas no trapézio. A baloiçar para um lado e para o outro. Sem rede não podiam fazer o número e o público retirou-se triste por o espectáculo ficar (in)acabado.

1 comentário:

Anónimo disse...

A motivaçao: esse pontapé de saida que nao se conhece no jogo de quem escreve. Fica a beleza pela beleza, sem contexto...

No entanto, a tua escrita esta mais bela. Sera da falta de contexto?

(teclado sem acentos...)