De todos os sinais, prenúncios, que se mostraram, houve dois que Melinda viu com os olhos em forma de coração a bater descompassadamente.
O primeiro foi durante a tarde, quase final, o sol a começar a ter a cor de uma laranja. Teve de esfregar os olhos para ter a certeza, mas era mesmo isso. Por baixo da sua janela, presa no alto do gigante morro onde morava, centenas de borboletas passavam.
Esfregou novamente os olhos e teve a certeza. Eram mais de trezentas e voavam sobre aos baloiços do parque infantil, que pintados de cores fortes pareciam flores vistos de cima. Eram mais de trezentas e formavam uma nuvem, juntas, asas em sintonia.
Estava calor, muito calor e toda a gente sabe que as borboletas da Europa vão fugir para o Norte por causa do calor, mas para Melinda este foi o primeiro dos prenúncios que lhe sussurrava o interior que alguma coisa estava para mudar.
Sentia-o no ar, no formigueiro que lhe descia pela espinha, nos pequenos sinais dados pelo gato, que entontecido ladrava e corria atrás do seu próprio rabo.
Alguma coisa estava para mudar, pensava enquanto batia a massa do bolo e, distraída, acrescentava sal em vez de açúcar.
Melinda ficou mais atenta depois das borboletas. Deixou a janela aberta, com uma vela parapeito, não fosse o escuro querer entrar e não saber como. Mas nada aconteceu. O escuro adormeceu e o vento estava noutras paragens. Só o calor continuava e Melinda decidiu ir para a cama.
Foi nessa altura que a viu. A estrela, que caindo lá de cima, abriu o pára-quedas mesmo à sua frente e sorriu. Acenou-lhe docemente e, num só gesto, puxou os fios e desapareceu.
Foi o segundo prenúncio e agora Melinda tinha a certeza.
Dizem que às estrelas cadentes se pede um desejo, mas quando Melinda se lembrou já era tarde demais. Ainda assomou à janela mas da estrela já nem cauda.
Voltou para dentro e soube que se devia deitar vestida com o fato de banho e a toca que a manhã viria com o prenúncio das águas leva-la nas costas dos caranguejos que subiriam o morro e a iriam buscar. O seu trabalho estava feito ali, era hora de partir sem olhar para trás.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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