sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Variações

Podia variar. Experimentar qualquer coisa diferente. Sei lá, um sabor a iogurte em vez da pasta de dentes de mentol, um gancho no cabelo, uma pura vaidade sem ferro que marque a terra a frio.
Fazer aliterações com R, rebentam em marés de risos rasos, os segredos dos lírios que mostram o teu ser, aberto, a rodar em mim, redonda de te ter.
Qualquer coisa de diferente. Sentar-me num banco, todo branco, sem nódoas, sem riscas, a ver pássaros que se esqueceram da emigração. Eu que não sou fã de penas, nem das que voam, nem das que doem.
Podia variar, fazer a tal maionese que se fala, há tanto tempo anunciada, servi-la em pequenos cuidados frescos sem atenção ao colesterol e dimensões de cintura, escorre-la boca abaixo em delírios alucinados.
Porque o corpo cansa-se do encaixe. De estar sempre a encaixar em qualquer pequeno espaço, à procura de um ninho onde ficar por um bocado.
Haverá sempre lugar no sofá velho da casa amarela do fundo da rua, onde ninguém habita, mas que está sempre cheia de procura. Mas não é ali que o corpo recupera.
E por isso apetecia-me variar. Talvez assim matasse o espaço sempre igual de nada ser sem variar. Em variações...
"Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual"

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