Pediram-me para falar sobre o silêncio, e eu, que faço textos por medida, alinhavo com cuidado as bainhas do tecido e digo que sim.
Pediram-me para falar sobre o silêncio, o que é ridículo porque do silêncio não se fala, ouve-se.
Haverá sempre um silêncio. Um qualquer. Meio escondido, meio oferecido. Qualquer coisa entre os momentos e os risos das músicas. Um vazio de termos.
Haverá sempre um silêncio. Um silêncio, erva daninha, quando do tanto que há falar não se diz e tudo está mal. Do silêncio que não se quer ouvir do que se quer dizer. Ou aquele outro em que o há a dizer não é para ser dito sem que os ouvidos tenham a preparação prévia de operação de peito aberto “eu dou-te esta palavra que vale muito. Ouve-a por baixo do peito esquerdo”.
O silêncio soluço que vem aos bo-ca-di-nhos intermitentes com dificuldades de comunicação dos males que vêm ao mundo por muito se falar sem continuidade da acção e o corpo cansa da mímica continua dos lábios. Ou de quando se cala porque não há proveito em falar o que se quer em voz melodiosa ou em rajadas de fogo, do apaixonar pelo silêncio que é o mesmo que apaixonar-se sozinho sem troca de fluidos cuspidos num simples “Olá”.
Haverá sempre um silêncio, um outro silêncio. Um silêncio bonito quando o sol é engolido pelo mar em cor laranja e nada mais é preciso porque o amor é dos que se olham num olhar puro para o outro.
Um silêncio que transborda a emoção e se é sofá fofo para a festa de tudo estar no sitio certo.
E eu, mulher que não se cala, remeto-me a silêncios vários quando quero dizer que nada é inacessível no silêncio das espumas várias.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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