segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Arquivos XI

Ouve com atenção. Senta-te e fixa-me enquanto te falo. Se necessário, antes de vires faz uma lavagem no otorrinolaringologista, para que nenhuma palavra se perca ou seja mal percebida.
Ouve com atenção. Podia dizer que te adoro, que para sempre cozeste com linhas grossas, de pesca, as áreas do meu coração. Podia dizer da tua permanência, diária, mesmo nos dias em que já não me lembro de ti. Podia dizer, que se lixe, amo-te em pequenos pedaços de cada vez que te olho, mão presa nos teus cabelos, e tudo o mais numa gaveta habilmente preparada para as recordações. Podia dizer que, teimosamente, ainda me chocalhas o interior, fazendo-me que nem barata tonta entre o querer-te e querer-te ainda mais.
Podia dizer isto tudo, mas não. Podia mentir, dizer que está tudo bem, mas não o faço.
Sento-me aqui e dito-te a última carta de amor, por isso ouve com atenção.
O meu amor foi e eu não sei para onde.
Estou só, com lágrimas como companhia, que escorrem pelo pescoço que beijavas até me fazeres mendigar pelo corpo dentro do meu.
Preferia que me tivesses trocado, rasgando-me toda na lembrança do quanto te queria. Preferia morrer de ciúmes, fúria de ciclone, que tudo levasse à frente, incluindo pele e pratos de serviço escolhido a dois.
Preferia que tu me tivesses abanado de tal forma, que os ossos de tanto roçarem, provocassem chama outra vez.
Preferia ouvir-te dizer claramente que nada fazia sentido de tão distantes, antípodas nos tornámos.
Mas não, fui eu e o meu amor que foi e eu não sei para onde. E eu choro.
Como se para o mundo de cair?
Não sei o que fazer agora com o vazio que me fica de tudo o que foi e já não é, mas o meu amor foi e eu não sei para onde.
E mais só que nunca, devolvo-te as palavras.

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