sexta-feira, 5 de março de 2010

Histórias

- Passei a noite toda a falar de mim. Fala-me de ti agora.
Os olhos encontraram-se novamente por cima da mesa. Ele olhava-a com curiosidade pronta de um espectador em dia de estreia.
-Que queres que te conte? perguntou ela calmamente, expirando o fumo.
- Não sei, conta-me uma história.
- Sabes que não tenho para te contar a história que queres ouvir, não sabes?
Ele arrependeu-se imediatamente de lhe ter pedido, mas já não havia como voltar atrás e a curiosidade era muito grande.
- Não sei. Despe-te, pediu ele.
Ela começou, lentamente. " Era uma vez..." disse ela, "é assim que as histórias começam. Era uma vez, e o impossivel aconteceu".
E falou. Falou durante duas horas sobre afogamentos, salvamentos, ilhas escondidas, arquipelogos desaparecidos e tartarugas que caiam. Falou sobre cicratizes e poções que de tão mágicas azedaram ao sol. Falou do tempo que voava e nunca voltava a trazer um sopro. Sobre amor negro como um virus e fadas em luta.
No fim olhou para ele e viu que chorava.
- Não era a história em que sonhavas adormecer, pois não?
Ao leve acenar dele, levantou-se roçando os seus lábios nos dele.
- Não apresses um striptease. Há histórias que não são de encantar e o meu nome é Solidão.

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