segunda-feira, 22 de março de 2010

Quando o telefone toca

O telefone tocou. Insistentemente. Era a segunda vez num minuto que tocava assim. Era a primeira vez desde tempos perdidos na memória de anos atrás.
A primeira reacção é sempre de preocupação. Aconteceu alguma coisa, só pode ter sido, mas assim que se carrega no aceitar e se ouve a voz do outro lado fica a certeza de um engano. Não era aquele o número que queriam marcar, mas agora nada a fazer. Já estava e já se falava. Como se a ultima vez tivesse sido dois ou três dias antes.
E no meio das frases de circunstância, disfarçando o nervosismo do engano, a raiva que vinha em sonho recorrente, transformou-se num sussurro lamechas a dizer para telefonarem outra vez e outra vez. No canto dos olhos uma certa humidade que não podia ser provocada pela chuva, pois se estava sol, e era uma coisa qualquer que vinha de cá de dentro.
Como se tivesse dado uma absolvição ao pecador que se redime, mas sem ele nunca ter confessado. Um Pai-Nosso e o caminho abre-se.

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