sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Tinha 17 anos, quando os calcei pela primeira vez. Eram lindos. Uns botins pretos com um salto médio e que apertavam com um laço. Adorava-os.
Cada vez que os calçava sentia-me mais mulher, mais forte, mais sexy. Adorava-os.
Pensava que os calçaria o resto da minha vida, afinal os meus pés já tinham parado de crescer e era perfeitamente possível ir mantendo os botins em condições.
Claro que não aconteceu. Foram ficando gastos e velhos e vieram outras modas.
Mesmo assim eu mantinha-me ligada aos botins. Mesmo depois, quando quase não os calçava. Mantinha-me ligado ao que me fazia sentir.
Já os deitei fora, mas lembro-me muitas vezes destes botins. Porque me fizeram sentir especial. Não é exactamente a imagem dos botins, mas sim o que me fizeram sentir.
O engraçado é que isto acontece na vida. Ficamos ligados ao que se sentiu e não exactamente ao objecto. E isto tira-nos, muitas vezes, de nós. Pelo caminho, há um crescimento que vem de uma força qualquer e que nos leva a saber o que somos, independentemente do que calçamos. Mesmo quando nos lembramos do resto...
Como eu com os botins.

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