terça-feira, 21 de julho de 2009

Editar

“Lá voltaste a puxar para ti o lençol”. Sim, fui eu que te abracei as costas viradas e puxei para nós a coberta que deveria salvar do frio. Mas só queria o quente da mistura com os nossos corpos.
“Como que a privar meus sonhos do último raio de sol”. Sim, fui eu que abri as portadas para que os raios entrassem e não se sentisse o peso da escuridão. Mas só queria que os sonhos fossem com cores e o momento de acordar em aurora boreal.
“Que enrolam seu tempo à espera de ver, o que não existe acontecer”. Sim, fui eu que me mascarei de cigana a ler linhas em futuros amaciados por cremes hidratantes. Mas só queria que amanhã fosse simples e suave e que acreditássemos nisso como uma qualquer fé devota.
“Mas teimas em riscar o fim do meu chão. Nunca medes a distância dos passos à razão”. Sim, fui eu que continuei a construir caminhos que perderam o verniz que os tornavam brilhantes. Mas eu só queria que andássemos, mesmo que estivesse esburacado o alcatrão, porque lá mais à frente há uma auto-estrada que vem assinalada no mapa de bolso.
“Desejo-te o mesmo que guardo para mim, e o que não existe não tem fim”. Sim, fui eu que achei do fim o princípio sem guardar nada em mim que não fosse teu. Mas eu só queria que o tempo fosse sempre suspenso, parado nos momentos que haviam de nos alimentar no que nos desejávamos.
Sim, agora sou eu que digo
“Voltar a ler não é morrer, é procurar
Não vai doer mais do que andar assim a fugir
Deixa-te entrar para tentar ou destruir
Mas sem fingir
Sem fingir
Sem desistir”
Eu só quero que a bola saia do cimo da rede. Perder ou ganhar.

Nota: Todas as citações são de Manuel Cruz "Amigos de Quem".

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