Este devia ser um texto de esperança. Rectifico, este é um texto de esperança.
Que faça ver que no final, há um arco-íris com um pote de ouro à espera.
O ser depois de ser. O voltar depois, o amar depois, o depois.
Há coisas em que acredito autista e piamente. E acredito em (re)começos. Acredito que depois continua a haver muito. Não faz sentido não haver mais borboletas, não haver mais nós, não haver mais vontades. Não faz sentido ao abrir os olhos não ter um sorriso espelhado porque há leves brisas, cheiros, sabores, pensamentos.
Os finais estilhaçam. Rebentam-nos em mil pedaços. Por momentos afundamos e deixamos de respirar, presos nos limos. Mesmo quando fomos nós. Se calhar, pior se fomos nós, porque nos rebenta também a dor dos outros. Estilhaçam brutalmente e por momentos esquecemos o que somos, para onde vamos, o que estamos a fazer. Aparece o fim da ilusão que sustenta qualquer relação (também acredito piamente que se uma relação não tem a ilusão do nós, não existe), aparece o fim da vontade, aparece a razão a querer mandar e isso destrói.
Sim, destrói. Sim, recolher os pedaços e tentar reconstruir o puzzle faz doer os rins. Ficamos com tendinites dos movimentos repetidos, apanha, junta, cola. Às vezes sem cola e tudo fica meio preso, meio solto, pronto a cair, com cuspo posto de improviso. E sem darmos por isso, a pele tornou-se carapaça de tanto que o corpo se dobrou.
E agora? Como avançar para qualquer lado?. Qual o lado? Qual o caminho? Estamos parados em raízes que são cicatrizes que nos prendem, nos lembram, nos alimentam o não ir. Mas tentamos, tentamos dar passinhos que fazem doer articulações, que fazem parar a cada segundo para respirar. Tentamos.
Como avançar nesta fragilidade em que estamos, que somos? Qualquer coisa nos pode fazer desmoronar porque a construção não está sólida e sentimos que nenhum pedaço pode cair porque isso era a derrocada final.
Mas avançamos. Porque sonhamos e porque temos medo e desta combinação surge o grito que comanda, para não ceder à loucura.
Mais medo. Medos de variadas formas, em setas apontadas, em facas espetadas, medos que rodam e rodam em todas as direcções.
Mas avançamos. Como o Homem de Lata. E um dia caminhamos normalmente porque encontramos o Feiticeiro de Oz que somos e que nos devolve o coração.
E nesse dia está o arco-íris. Porque acreditámos que podíamos vê-lo.
(Para ti e para ti, minhas queridas, que nestes dias de final estão caídas. Eu levantei-me, vocês também o farão no tempo que for necessário.)
quinta-feira, 19 de março de 2009
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3 comentários:
É tão verdade! Julgamos que nunca mais nos conseguiremos reerguer, que as nossas entranhas ficaram de tal forma do avesso que não conserto possível. Mas acredito que há! Sei que ainda não cheguei lá e pelo caminho choro e grito e desespero, mas acredito no pote de ouro! Beijo grande.
AL
pois...
cair..levantar...cair...levantar
e se em cada dia o recomeçar é também um levantar de asas...pelo desejo de ir até onde não der...
e crer...sempre crer..
mesmo que doa...
mesmo que seja num olhar sem fim...
e acreditar..na esperança aí bem pertinho...
bjs
FR
Já te disse hoje que te adoro?
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