quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Always

Dói-me agora o momento em que acabou.
Jogamos alto demais, apostámos tudo, e fugiu-nos a mão.
Dói-me as costelas prensadas entre a roleta
E as espadas que transpuseram as copas.
Mas nunca se pode perder por se ter tudo dado,
E o coração continua na mesa.

Ao contrário do poema, “always give all the heart”

Never give all the heart

Never give all the heart, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passionate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that's lovely is
But a brief, dreamy, kind delight.
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If deaf and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost.

W. B. Yeats

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

(Hiper)Ligação

Como se todas as estradas te trouxessem de volta a mim, vezes e vezes sem conta.
Espaço de dias, semanas, uma volta à esquerda e ai vens tu para me desassossegar do que achava arrumado na terceira prateleira a contar do cimo.
Gostava de te dizer que do coração de uma mulher não se podem arrancar todas as flores, porque elas raramente voltam a nascer.
E não há promessa que volte a criar raízes!
Vais e voltas, como se tivesses alguma coisa para me perguntar, dizer ou até mandar o meu corpo para o chão, que é a cama dos amantes urgentes.
Vais e voltas a tempos quando a migração dos teus afectos te faz rodar e ser por mim que vens. Ou porque te dá jeito. E é por ti que parto nessa volatilidade do sentimento breve até que vás outra vez.
Vais e voltas nessa esquizofrenia de quereres ser casa onde há alicerces mas voares para cada estação corpo que te cruze.
E eu, que te sigo de longe os passos, abro a porta com sorrisos para te dizer que as palavras de amor, mesmo as obscenas, devem ter as marcas da vontade do coração e não só o jeito da boca sobre a boca.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Rosas e espinhos

Irrita-me que nos sonhos gostes (mesmo) de mim!

Verdades e certezas

Há uma grande incompatibilidade entre unhas arranjadas e arranjar canos!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Aviso

A quem eu já ofereci presentes de Natal, é favor devolver. Caso queiram o objecto poderão fazer o retorno em dinheiro, o que a Gerência agradece.
Eu sei, eu sei, quem dá e tira ao Inferno vai parar e blá, blá, blá, mas também não conheço ninguém no Céu, por isso não me incomoda.
Prometo dar outro presentinho, muito bom e confortável: uma oportunidade de se sentarem no carrinho arranjado aqui da dona. Se se portaram bem durante o ano (pelos visto tu não, $$$$) ainda podem ouvir uma musiquinha do rádio do dito.
É que com o que tive de pagar ao mecânico não vai ser possível outra coisa a não ser rentabilizar o carrinho...
O mesmo vai ser válido para todos os aniversários no próximo ano, ok?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sim, apeteces-me!

"Apeteces-me tanto.

Sabes, é bom ver-te, mas olha, é melhor ter-te,
Mesmo quando mandas chover e dás tempo de morrer à hora.
Mesmo quando grito para não voltar a ouvir a tua subida silenciosa.

Apeteces-me daí

Sabes, sabes bem, um apetece vai-vem,
O melhor da terra virada,
Um rasto, uma teima para o mar toda voltada.

Apeteces-me já aqui.

Espero que me desças."

Nuno Moura, em Soluções do Problema Anterior, &etc, 1996

We all can dance

"I thought that I knew it all
I'd seen all the signs before.
I thought that you were the one
In darkness my heart was won.

You build me up then you knock me down.
You play the fool while I play the clown.
We keep time to the beat of an old slave drum.
You raise my hopes then you raise the odds
You tell me that I dream too much
Now I'm serving time in a domestic graveyard.

I don't believe you anymore...I don't believe you.

Never let it be said I was untrue
I never found a home inside of you.
Never let it be said I was untrue
I gave you all my time."

Dead Can Dance - The Ubiquitous Mr Lovegrove

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sismo

A história mudou e em vez de dizeres "adeus" disseste "fico, o tempo que for sempre". A terra sorriu e espreguiçou-se provocando uma onda por todo o lado.
Nunca tinha sentido um tremor de terra assim ao acordar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Cartas da Tasmania

Tenho imenso orgulho em ti. Não é só o normal orgulho de Mãe “olha que giro o que o bebe faz” , é orgulho profundo pela maneira como apresentas com tanta clareza a tua pequena cabeça arrumada.
Como hoje quando a tua educadora me telefonou para confirmar tudo o que tu tinhas dito e me dizia com a voz embargada como era quase assustador a forma como te sentaste e contaste as mudanças que iam acontecer e como justificaste que tinha de ser assim.
Já falámos sobre isso, mas nada do que eu te tenha dito e nada do que tenhas perguntado vai fazer com que as minhas respostas te preparem para a falta.
Nos primeiros tempos até vai ser mais ou menos, nada de muito grave, mas também sei (como gostava de não o saber) que a determinada altura vai doer. Muito.
A saudade vai-te apertar, vai subir qualquer coisa que não sabes bem identificar e tapar-te a garganta. Ao ponto de nada passar e esse sufoco vai te fazer chorar. Chorar por parecer ser a única maneira de aliviar essa tristeza dura que vais sentir. Não vou dizer-te para não chorares, vou apenas abraçar-te pelo tempo que precisares.
Não tenho a pretensão de ocupar o que vai faltar. Não se pode. Sei bem demais que uma saudade é sempre uma saudade, a falta é sempre a falta. Não se ocupa, apenas se aprende a viver com ela. É neste aprender que vou estar sempre ao teu lado. A tentar fazer o meu melhor para que os teus olhos nunca deixem de sorrir.
Amo-te muito.
Um beijo da Mãe

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sim?

“ Escrevo-te a
sentir tudo isto...e num instante de maior lucidez”.
O que foi, já foi e não se apaga, mas também não remói.
E eu continuo a ser a mesma que não se esconde nos guizos
E se ergue como um plátano que abriga e enraíza.
Não há perder do olhar, só um escorregar na noite escura
Ou um mergulho dos pássaros pescadores.
Às vezes, habito um corpo por engano
Que me leva até ao sitio de onde sai.
Nada disto importa a não ser dizer-te
Que sou eu, a das coisas simples, e o olhar o rio em silêncio.

Forgive me?

Doi-me as cruzes!

E qual a melhor maneira de acabar o fim de semana?? Chegar a casa vinda do jantar do ASA e ver que o elevador está avariado, subir 12 andares com 24 kilos de Diaba meia adormecida ao colo! E tudo isto de salto alto!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Leituras de cabeceira

Houve qualquer coisa no livro que a fez recordar do toque e da paixão impressa nuns dedos com cio.
Qualquer coisa, não sabia bem o que, mas a memória avivou-se e as coxas cederam a uma contracção involuntária.
Escolheu o seu parceiro pelo cheiro da recordação e fechou a luz. Estava pronta.
Suavemente, as suas mãos deslizaram pelos ombros, detiveram-se nos seios e apertaram as costas. As mãos dele. O cheiro dele. Os beijos que sugavam pequenas pregas de pele para logo deixarem um rasto de língua que arrepiava.
O começo. Conseguia senti-lo. A pressão do seu corpo no dela contra uma parede, bloqueando-lhe a saída para outro lado que não fosse murar-lhe a vontade à sua.
As mãos que despiam acompanhadas pelo ritmo da respiração e das ancas que baloiçavam até caírem no sofá, mesmo ali ao lado, onde mergulharam numa confusão de membros entrelaçados.
Já sem roupa, a pele roçava em pele e não havia como negar o desejo que abria as coxas à espera.
De uma só volta, foi ela por cima até o sentir dentro. Deixarem-se ir, sem barreiras à vontade, nem movimentos controlados. Ele remexeu-lhe o interior como se estivesse à procura de alguma coisa perdida para logo a virar do avesso e tomar os cabelos como rédeas. E foi uma só cavalgada, deserto fora da vontade, que ele lhe despejou no concâvo água corrente que a lavou para além do cheiro entranhado no livro que ela tinha lido. Na última contração ela disse-lhe adeus. Enroscou-se na almofada, como se fosse um peito e adormeceu.

Como se chama?

Não sei se será uma boa estratégia de Marketing bombons com nome de absorventes para a urina… Lindor são fraldas para a incontinência urinária, senhores, não chocolates!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

The Building

"(...)I made you a building so high
I knew you were wrong
But I didn't know why, why
Not out of wires, not with a spoon
I know you don't care but it angers the big giant moon

With the heat of your heavy angel-bones
You're holding me still
And now my thoughts have flown (...)"

The Building Brisa Roché

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Temperaturas

Veio o Inverno e o frio traz a ausência do teu corpo cobertor. Sofro de hipotermia provocada pelo glaciar em que congelamos qualquer restea de esperança.
Queria morrer num dia de sol, para que os raios me beijassem a boca como se fosses tu a queimar-me para sempre.

Tasmanices XXXV

Contada pela tia:
Diaba - Tia, eu sou especial?
Tia- Sim meu amor, tu és especial.
Diaba- Tia, eu sou muito especial para ti?
Tia- Sim, tu és muito especial para mim
Diaba - Então compra-me um jogo para a Nintendo!
(eheheheh, esta miúda vai longe...)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ary

São 4 mulheres e um projecto: recriar um homem e a sua obra.
Ary dos Santos, altamente responsável por algumas das mais bonitas letras da música portuguesa, é (en)cantado aqui pelas vozes de Mafalda Arnauth, Susana Felix, Viviane e Luana Cozetti.
Eu aplaudo e acho que merece sempre aplauso o homem que escreve isto:
"
(...)
Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.(...)"


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

You(...)Me

Reserva Especial

Se fosses vinho, serias sem dúvida um tinto. Terias de ser tinto, porque eu gosto mais e porque a cor vem da maceração da casca no mosto e isso queria dizer que tudo, de ti, se aproveita. Por fora e por dentro. Serias um tinto velho, que a vida já te fez passar pela fase de amadurecimento em cascos de carvalho e nota-se em ti o envelhecimento que torna o teu aroma tão complexo. Perdeste a adstrigência própria dos taninos jovens. Quando te provei nunca perdi o poder lubrificante da saliva, pelo contrário, lambi cada gota tua que me escorria pelo copo da boca.

Viagem

Final do dia e o reencontro com um amigo que entre as novidades me fala da filha que tem quase um ano. Problemas de parto e negligência médica fazem com que ainda nem a cabeça sustenha. Mas, diz ele, não há nada melhor que chegar a casa, encostar a cara à sua boquinha e receber beijinhos e risinhos de uma bebé que, diz ele, é perfeita.
E eu vim a correr, pé no acelerador, para estar com a minha. A Diaba estava mais que “melada”.Choramingas, dizia para eu ficar ao pé dela e não ir fazer jantar. Fiquei. Ficámos. Enroscadas no sofá, ela fez-me a pulseira que está no meu pulso e bate no teclado e eu fiz uma para ela, em tons de azul, que era o “acessório que lhe faltava”.
E rimo-nos muito. Ela ri com os olhos cheios de luz e eu transbordo, porque este é um sentimento maior que eu!
Como o do meu Pai, que é o melhor do mundo. Que me empresta o carro enquanto o meu está na oficina para que a “menina” não tenha de se levantar mais cedo e ir de transportes. Que, discretamente, deixa no meio dos documentos uma nota dobrada, não vá a “menina” , a meio caminho dos quarenta, ficar parada e sem dinheiro e precisar de alguma coisa.
Como o da minha Mãe, que é a maior estrutura de família. O pilar que nos sustenta a todos e, hoje, repete com a minha filha os mesmos gestos que tinha comigo e com a minha irmã. Como se o tempo não tivesse passado e os ossos não estivessem mais frágeis e rir e beijar fosse sempre tão simples.
Como estes pequenos gestos transversais a quem encontrou na vida um amor que ultrapassa o peito e vive em todo o lado. Os beijos, os risos, os cuidados.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Factos

O carro deste blog está como a dona: pesado, cansado e não desenvolve.
Faz-me lembrar aquelas situações em que os animais de estimação ficam parecidos com os donos ou vice versa.
Não tendo animal sobra para o carro...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

The Games

Olha bem lá para cima. (disse ele apontando para as estrelas, já mais calmo)

E tu não percebes (disse ela, num tom gelado mais gelado que o sul da patagónia) é precisamente por olhar lá para cima, sempre, que quero fazer isto. As estrelas existem porque os meus olhos as vêm. (deixou-se cair no sofá e suspirou) Eu estou a olhar lá para cima

Desiludes-me. (disse ele virando-se de costas para a janela, cabisbaixo e de mãos nos bolsos).
Há uma coisa que eu não consigo perceber (disse ele ironicamente, olhando para ele de soslaio). Para que queres tu aquilo tudo?

E tu pensas e queres pouco! Qual o problema de se querer tudo? (levantou-se num salto e dirigiu-se apressadamente para a porta. Não queria que a visse quase a chorar. A desilusão dele tinha entrado na pele e começava a arder.)

Espera, por favor! (disse ele dominando a sua irritação, arrependendo-se da brutidão das suas palavras)
Alphaville, que te parece? (perguntou ele, levantando a tampa do seu gira-discos?)

Do you really want to live forever?
(…)
É só isso que tens para me dizer? (pergunta ela com um ar cansado) Ao menos serve-me um café, que tenho de continuar a trabalhar (baixou os olhos sobre a secretária, tentando organizar a pilha de papel que se acumulava)

Teria muito mais para te dizer... Mas não me parece que estejas com muita vontade de me ouvir... (responde ele, cansado do peso destes dias, dirigindo-se à porta levemente irritado com o tom autoritário dela)
Já agora aproveita para ouvir a nova música dos Zero 7, a ver se melhora o teu mau humor! (deixando o seu iPod no sofá junto à porta)

Yes, we can, imagine it if we can.

(...)
Olá (disse ela sorridente, enquanto pousava a mala de viagem). Voltei. Acabei o trabalho e vim a correr para te pedir desculpa.

Bons olhos te vejam! (disse ele com ironia sem tirar a cabeça do jornal)
How could you do this to me?



Vá lá, não amues, estava a brincar! (disse ele levantando-se). Correu tudo bem?

Tasmanices XXXIV

Um dos "tios" amigo (por sinal o futuro sogro. eheheh) fez anos. Como é muito guloso sugeri à Diaba que fizessemos bombons como prenda:
Diaba- Boa ideia, Mãe, fazemos bombons com alcool!
(Acho que tenho de parar com as jantaradas lá em casa... se o sr. do refugio a ouve ainda me tira a miúda!)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Open

Tenho a certeza que te vi ontem à noite. Eras tu que esperavas no cruzamento, enquanto eu limpava os vidros do embaciado preso durante anos por esperar que da boca aberta saísse o teu nome. Mas quando cheguei era apenas a sombra de um rapaz que vendia castanhas. Parecia maior porque estava em cima de um degrau.
Não há som que nos valha neste silêncio que pusemos no meio de nós!
Podíamos ser uma estrada aberta, sem meta à vista ou definida. Simplesmente a rolar.
Às vezes acontece-me. Vejo-te em cada espaço e até te sonho. Como ontem à noite. E no meio desta loucura insana do que poderíamos ser, houvesse espaço para nos colarmos um ao outro, i’m in the mood for love, e não quero arriscar enganar-me ao usar a lista telefónica. Podes, por favor dizer-me o teu nome?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

...

De sempre ouvir falar o Teu nome, habituei-me a questionar a Tua Existência. E acredito, seja o Teu nome qual for. Acredito que há Qualquer Coisa.
Mas pergunto-me constantemente “Porque?”.
Procuro-Te em todo o lado, Procuro-Te dentro de mim.
Tento sempre lembrar-me da história das pegadas na areia quando Questionado por só haver um par de pegadas na areia, nos momentos mais difíceis, Tu respondes “foi exactamente aí que EU, nos braços...te carreguei.". E repito vezes sem conta a oração em que peço serenidade para aceitar o que não posso mudar.
Mesmo assim, pergunto-me constantemente “Porque?”.
Sei que se sair de mim e olhar à volta tenho muito pelo que agradecer. E agradeço todos os dias a sorte que tenho. Mas não é pela Tua existência nem pelos Teus ditos ou mandamentos, é pela existência de tanto sol nos que me acompanham.
Mas há alturas em que isso não me acalma.
Se da boca do teu filho saiu “quem nunca pecou que atire a primeira pedra.” Se da Vossa família se fala em palavras como Amor, Perdão, Compaixão e Compreensão. Se dos Teus mandamentos se fez Lei Viva no “não roubarás nem matarás”. Se o Decálogo é princípio orientador de vida, acredite-se em Ti ou não. Se de tudo isto sai a crença que o bom sairá sempre vitorioso, e aos crentes será dada a paz, porque insistes em por à prova quem da Tua palavra faz alimento? Testas, como a Abrãao, se há uma verdadeira fé? Sabes que sim. Que do Teu nome ela faz grito.
Estás apenas ocupado com o resto do mundo? Não tens tempo? Não vês como os olhos choram e o coração mirra?
Porque? Porque?
Se Existes mostra-te. Ela, de Ti não duvida. Ela, de Ti, faz acção. Ela, de Ti merece todo o colo.
E eu, no meio disto tudo, continuo a falar Contigo, sejas Tu quem fores, por ela.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

One of these days

Espreito nas gavetas. Espreito atrás da porta. Espreito nos bolsos e até dentro de mim. Mas não encontro. Já tive na minha mão, mas perdia-a e não encontro.
Sento-me e espero. Espero mais um bocadinho.
Não sei onde está, mas sento-me e espero. Talvez consiga lembrar-me de todos os passos dados e de todas as palavras feitas e então voltar a ter.
Mas por agora só outra vez aquela sensação que sobe da boca do estômago e se aninha na garganta, bloqueando-a ao ponto de nem ar passar. Aquela sensação que não é aflitiva, que não é destruidora e que nem sequer é fácil de explicar. Aquela sensação em forma de desejo profundo, de ansiar estar no fim e tranquila. De tudo estar bem e alinhado.
E o que não encontro hoje, final do dia, é a pequena força que me acompanha e que me faz sempre andar o tanto que falta até ao fim.
Tou certa que amanhã a encontrarei arrumada numa qualquer prateleira onde ainda não espreitei.

Saldo

O saldo da semana fica neste estado lastimoso:
- a luz no final do túnel afinal era uma p**a de uma estação de comboios, todos tipo tgv a passarem a alta velocidade. Consegui suspender a respiração e ficar, paradinha no meio deles. Só por isso não me deitaram abaixo...Mas fizeram abanar muito, muito, muito.
- cinquenta horas (muitas extra) de trabalho em quatro dias
- Diaba a chorar ao telefone a pedir para eu ir para casa e o meu coração completamente partido
- pés e pernas feitos papa
- três novos cabelos brancos, mesmo à frente
Respirar, inspirar e lembrar-me que também houve uma surpresa bonita, lembrar-me que há os bons amigos de sempre que fazem "voltar a casa", inundar de sentimento quando a Diaba diz "Amo-te Mãe. De todas as mães que eu podia ter, tu és a que eu queria.".
Só para que nunca duvide que sim, que a vida vale a pena ser vivida!

sábado, 21 de novembro de 2009

Uma nascente que acabou no mar

Se fosse música, era a última nota ouvida. Se fosse livro era o ponto final. Mas não, é uma sensação e por isso a dificuldade de descrever. Há coisas que não têm termos certos. Têm um monte de frases emaranhadas a tentar acertar com a direcção ou descrever o estranho sabor que sobe da boca do estômago e que faz desejar que fosse o fim, A última coisa. Em paz, num olhar para trás cheio de calor porque está tudo (bem) feito. É isso. Esse desejo.

Tasmanices XXXIII

Ao nosso lado mora o M com dois anos e meio e a M com nove meses. O M fica lá em casa de vez em quando, janta, brinca e é uma alegria. Depois d euma noite normal com jantar e cantares e brincadeiras, o M vem a correr atrás de mim, cai, bate com o sobrolho numa quina e fica com genero de hematoma em formato bola de golfe! Foi um susto de todo o tamanho. Depois disto tudo, quando deitei a Diaba e falamos sobre o sucedido:
Diaba- Ó Mãe eu acho que se não houvesse a palavra correr, não caíamos e não nos aleijávamos!
(Era bom filha, que o poder das palavras fosse assim. Bastaria banir algumas e o mundo era bem melhor :) )

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Holofote

Porque é da esperança que falo. Que devia sentir ou não sentir, já não sei bem. Que se note que ela, a esperança, deve cumprir a sua missão de nos fazer acreditar no melhor e conformarmo-nos enquanto esse dia, que é o tal prometido, não chega. E no meio disto tudo fazer de cada dia como se fosse o único, como se atrás não houvesse nada e tudo fosse só a frente.
Missão cumprida, não missão impossível.
Podia ser inútil, mas é plena de si, por isso queria continuar a sentir esperança, cheia e forte como um holofote a apontar o dia. O tal que virá.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cartas da Tasmania

Meu amor, escrevo para que um dia te possa mostrar o que se passa cá dentro. Não espero que hoje o compreendas, afinal só tens cinco anos, mas quem sabe quando fores mais velha olharás estas palavras e talvez um sorriso te assome aos lábios.
Balanço muito entre o que acho que devo fazer para te educar e o tentar respeitar-te sempre como ser. Tu és uma pessoa, não uma continuação do que eu sou, e por isso a minha vontade não tem de estar sempre a imperar sobre a tua. Mas também tens cinco anos e as decisões que dizes escolher só podem ser moderadas pelos teus curtos anos.
Eu tento explicar-te, tento mostar-te os vários pontos de uma mesma questão. O que para ti é um jogo divertido, o pegar num papel e por os prós e os contras de um dilema, para mim é uma forma de te fazer pensar, porque acredito piamente que qualquer decisão deve ser posta assim.
Ontem, embora na tua tabela tivesses cinco prós e um contra, o teu medo fazia-te querer optar pelo contra e explicaste-me muito bem esse medo. Eu percebi, mas não podia aceitar que ficasses e não aproveitasses o que sabiamos, as duas, que ia ser bom.
Soube-te a violência gratutita quando te peguei ao colo e te obriguei a enfrentar. Custa-me tanto ou mais que a ti, quando os teus olhos marejados se viram para mim e da tua boca sai um "és má", mas entende, de ti não posso nunca desistir. Sim, atirei-te para a frente, é verdade, mas não te atirei sozinha, fui ao teu lado.
Era mais fácil aceitar o teu medo, aconchegar-te a mim e passarmos a tarde juntas, mas o mais fácil nem sempre é o melhor e eu morro de medo do dia em que não estarei para te ajudar a enfrentar medos ou do dia em que nem sequer saberei quais são.
Também eu morro de medo, morro de medo desses dias e morro de medo de não te conseguir mostrar que medos todos temos, mas se sabemos quais são devemos pegar neles e soprá-los para longe. Viver é assim, e para ti o que desejo é que vivas, muito, muito e não que apenas passes por cá.
Sei que o percebeste muito bem quando no principio da noite te sentaste ao meu lado e disseste "É normal termos medo, mas afinal correu tudo bem e foi divertido. Ainda bem que fui."
Estarei sempre, sempre ao teu lado. Amo-te de uma forma incontrolável e por te amar tanto é que não posso nunca desistir de ti. Percebes? Um beijo grande da Mãe.

Tasmanices XXXII

Sábado à noite foi dia de concerto. Para a Mãe, Pavilhão Atlântico, para a Diaba, Gare do Oriente. Quando nos voltamos a encontrar, no meio da chuva, mão dada, enquanto se trocavamos impressões:
Mãe- Quando fores maior, vamos a um grande concerto as duas.
Diaba(apertando mais a minha mão) - Ó Mãe, quando for maior vais ser velha e não vamos gostar da mesma música!
(Não sei se me incomoda mais estares sempre a falar da minha velhice se achares que não nos vamos entender na música...)

A modos que uma private tasmanice
Domigo à tarde, à saída de um supermercado, chovia.
Diaba- Mãe, temos de mandar uma mensagem às meninas e dizer que estamos em perigo. A chuva está em posição de ataque!
(Alterno entre achar que vocês lhe fazem bem, porque aguçam a ironia, e achar que vocês lhe fazem mal por temer pela sanidade mental da miúda! Miss Lion, ela jurou à tia que a ti tinha mesmo mandado a mensagem!)

A meio da tarde do Domingo, a Diaba estava com um dos seus ataques pré birratórios em que fala em tom choroso.
Mãe- Bolas, Diaba, fala lá como deve ser. Tu não és bebé, não tens cinco anos!
Diaba (abrindo muito os olhos de espanto)- Ó Mãe, mas eu tenho cinco anos sim!
(Errrrr, pois miúda, pois tens... foi um desvaneio da Mãe)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Crença

Este blog está em modo ansiedade extrema. Já roeu unhas, dedos e só se consegue ver a ponta do cotovelo.
Este blog continua a acreditar. Muito. Foi acompanhado por sol, o caminho todo da segunda circular e isso tem de significar alguma coisa de bom!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

De joelhos, como se fosse uma oração

Pergunto constantemente, e de mim o que queres, afinal?
Tens tudo o que acontece no segredo entre as coisas, no espaço entre as palavras, no momento preciso da acção, a respiração em todo o circuito de inspira-expira.
Escrevo como se fosse um contrato, cheio de cláusulas que garantam a verdade com que assino.
Nada disto perturba a harmonia e eu dou-te o melhor. Basta que respondas, e de mim o que queres, afinal?

Por favor!

Parece que a luz ao fundo do túnel, desta vez não é um comboio! Parece! Estou quase a partir os dedos de tantas figas fazer! Tomara, oxalá, assim seja, Deus queira, patas de coelho e ferraduras penduradas!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Encontros

Já comecei este post três vezes e três vezes apaguei a primeira linha. Não sei bem porque, porque na realidade só queria dizer que hoje o telefone tocou e do outro lado me disseram "está aqui fulano tal, que queria falar consigo" e eu, que já não tenho memória para tanto, fui à entrada para rir com vontade porque lá estava alguém que já não via desde 2000. Nove anos! E foi um momento giro trocarmos nove anos de vidas e filhos e mudanças em trinta minutos. Trocámos, também, contactos para que não se passem mais nove anos.
E isto deixou-me uma ponta saudosista, mas das boas! Bolas, que giro que foi.

Destaques da temporada

Os dias vão passando e já é quase final do ano. Passou depressa, talvez demasiado depressa este ano que já é quase fim.
O Natal já está por ai, nas superfícies comerciais com músicas irritantes a tocar ininterruptamente, como o ano que passou depressa demais. Parece que não houve tempo para aproveitar os momentos de deleite, quando se deram corpo por eles já tinham passado.
São outros lugares que tornam da distância o impossível e era tão bom não ter calendários e os dias serem o que quisermos. Completamente trocados e hoje apetecia-me que fosse aniversário. Estaria um calor tímido a começar e o início do jardim a ficar verde. Estaria um daqueles dias de sol, com óculos escuros na esplanada do costume a pedir uma coisa qualquer que fosse o pretexto para ver gente a mexer por ali.
Sobretudo, estaria a leveza do corpo a descobrir mais um tempo na vontade urgente de ser qualquer coisa nossa.
No meio do calendário, afinal, foram pequenos passos dados ao lado e no espaço onde estou agora não vejo quem passa, quem entra e quem sai e é quase o mesmo Natal.

sábado, 7 de novembro de 2009

Café

Tinha muitas saudades de mim, mas nenhuma vontade de me ver, e quando lhe perguntei porque, disse-me que não conseguia, porque se me visse ia querer mais, ia querer ver-me todos os dias e isso era imposível porque eu não me mostrava.
E era verdade. Não que não gostasse dela, afinal tinha-lhe telefonado,mas era como um bom livro que se colecciona e se volta de vez em quando para ler uma passagem em especial, porque se sabe que é bom.
Ela falava sobre o erro crasso que tinha cometido ao apaixonar-se naquela tarde de primavera e eu lembrava-me dos seus pequenos seios que apertava enquanto lhe desapertava a blusa. Era engraçada, de um modo quase pueril quando ria genuiamente e muito alto. Gostava das pernas, especialmente de as ter à volta, apertando-me, nuas e depiladas. Havia qualquer coisa de calmante à sua volta.
"Porque sempre te mostrei, mas nunca te disse e é isto, gosto demasiado de ti e hoje é dia de te dizer a verdade para te perder de vez em mim." Desligou.
Seja como for, nunca tinha pensado em apaixonar-me por ela e agora já era tarde demais. Levantei-me, bebi um copo de água e liguei a máquina de café. Já estava a ficar de noite e apetecia-me ver o filme que tinha alugado. Talvez telefone à Lídia.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Hoje e sempre

Gostava, hoje, principalmente hoje, de te oferecer colo. De me oferecer o teu colo.
De juntos passarmos a mão na cabeça um do outro e dizermos “ Está tudo bem. Vai sempre estar tudo bem”.
Como se fossemos os dois cegos e os dois guias e dependêssemos sempre do colo um do outro.
Só assim. Simples. O conforto do calor do monte de erva fresca e fofa e na escada o beijo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cartas privadas

Foi no sonho que o voltou a ver. Assim que entrou no espaço, uma qualquer tenda daquelas de festividades, montadas em circo de vaidades, reconheceu-o, ainda de perfil, numa gargalhada. Ali estava, sorridente, mão dada com uma mulher qualquer, rápida, apanhada a meio de um caminho. Ao lado, a mãe, o pai e demais família que erguia copos aos amigos em brindes de celebração por mais qualquer coisa que tinha sido feita, alcançada, melhorada ou qualquer coisa assim que servisse para acalmar gargantas.
Em passos firmes dirigiu-se, entre sorrisos e beijinhos “olá, como está?” e surpreendeu-o de costas murmurando junto ao ouvido “bons olhos (os meus) te vejam (os teus).”
Na realidade queria dizer-lhe “os meus olhos continuam só teus” mas de cada vez que tentava soava-lhe a ridículo, o tom esganiçado de um só fôlego atropelado.
Ele virou-se e respondeu naquele jeito só seu de lhe falar sempre em piada ou ironia, mantendo um anti clímax propositado para se escudar da seriedade atrás de um qualquer dito.
E assim, aniquilava qualquer vontade dela, de lhe dizer, esgotando todas as maneiras, tecnologias mais avançadas, pombos com anilhas, sinais de todos os fumos em espirais respiradas pelos ares, bilhetes deixados como se fossem ao acaso, cartas seladas pelo ctt.
Não que ela não tentasse, mas como dizer o que o outro teimava em não querer ouvir? Deixava sempre o que era importante, como se qualquer declaração da sua parte fosse causadora de um cataclismo insuperável entre os dois, por ele nunca se dispor a ler as entrelinhas de qualquer das suas acções.
Vinha, então, outro gracejo, outra ironia e num bambolear ela afastou-se, certa de ter errado a deixa naquela peça improvisada no meio de um sonho. Pegou num copo e juntou-se ao brinde.
Foi assim que o voltou a ver.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Programa

Miúdas, eu sei que ainda só é segunda- feira, mas podemos já ir pensado nisto: proximo fim de semana, fila ou rotunda??? :)

Tasmanices XXXI

Ontem, no telejornal, uma das notícias foi o aniversário da Hello Kitty. Quando ouviu que a "gatinha" fazia 35 anos:
Diaba- Enaaaa, mas que velha!
Mãe - Ó filha, mas essa é a minha idade também.
Diaba - Sim mãe, mas ela parece uma bebé, tu já não!
( Errrrr... era suposto isso ser um comentário para me sentir melhor???)

domingo, 1 de novembro de 2009

Magnífico na Magna

Eram exactamente 00H17 quando voltou para o primeiro encore e cantou isto.
Ainda voltou para mais dois encores... a última música cantada deitado no chão com o público todo em pé.
Desde 1998 que tenho sempre o dia marcado para o ver e depois por qualquer coisa não posso. Desta vez nada me deteria. Esperei 11 anos e valeu todos os segundos.
A voz continua a ser arrebatadora,igual, intemporal e deixa-me sem palavras e sem folego.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Bilhete de Identidade

Tinha 20 e poucos anos. Usava t-shirt sobre jeans desbotados, com marcas escondidas, meio envergonhado por algum dinheiro que vinha do berço. Andava sempre assim vestido, tanto no verão como no inverno, altura em que por cima punha uma qualquer camisa que combinasse com a cor da t-shirt.
Tinha um riso fácil, tão fácil como adivinhar os olhos esverdeados que também riam com espanto, abertos, abertos, emoldurados em cílios revirados.
Encontravam-se várias vezes, a caminho de um e outro destino e seguiam juntos. Ele falava de estrelas e planetas. Queria ir ao céu, dizia, enquanto afastava uma melena castanha que, distraída, caía pela cara.
Outras vezes falavam de música e dos sons que traziam no mp4 escondido no bolso.
Eram conversas soltas que fluíam entre um passo e outro e assim se conheciam os gostos do dia-a-dia.
Habituaram-se a esta procissão quase diária em que a promessa era a de se começar o dia assim simplesmente. De tal o hábito, que cada vez que se aproximavam do ponto de cruzamento, se os olhos não avistavam até ao final da rua o vulto, atrasavam-se os passos lentamente para que se ganhasse tempo.
Um dia fizeram contas e riram com o ano que já passara sem que se desse por isso e foi então que o rubor, pela primeira, vez veio às faces perguntar-lhe como se chamava, ao que ele respondeu baixinho “ Posso ter um nome diferente todos os dias, se quiseres. Serei Pedro, Paulo, António, José ou João, desde que me deixes ser o teu bom-dia.”
E assim foi, sem mais nem bilhetes de identidade, que de todas as noites a cama sorria por logo, logo ser manhã e ter um bom-dia, na mesma esquina, passo após passo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tasmanices XXX

A Diaba acordou 30 minutos antes de qualquer despertador tocar! Veio enfiar-se na minha cama enroscou-se e começou a falar e a falar e a falar.
Mãe- Ó filha, ainda é cedo. Vamos dormir mais um bocadinho.
Diaba (com um ar divertido) - Ó Mãe, vá lá, vamos aproveitar que estamos aqui juntas!
(só mesmo tu, Diaba, para me fazeres acordar e ouvir 30 minutos de tagarelice e ainda por cima responder com um sorriso!!)

Torrentes

Do nada, veio a revelação: passaria a tratar todos os amores que por ela passassem por Muito. Sempre tinha gostado de nomes com M e Muito parecia-lhe adequado.
Logo a primeira vantagem era a de nunca mais se enganar num nome. Essa coisa que acontece e embaraça em faces ruborizadas a quem diz e a quem ouve. Seria sempre Muito, nada de Antónios ou Franciscos, Diogos ou Tiagos. Apenas Muito.
Os diálogos também ganhavam. As frases, ditas em sussurro ou em gritos ao mundo “Muito, meu Amor”, “Apeteces-me Muito” .
Quando na esplanada, a essa hora em que o mar engole o sol, ele se virasse e perguntasse “Gostas de mim?” só teria de responder “Muito…” e tudo estava no lugar certo.
Muito, Muito e Muito. Como gosta, sempre com Muito.
A ideia sobrevalorizada e ambicionada do “Felizes para sempre” também ganharia. Seria Ela&Muito para sempre. Independente do estilo do lado, das feições recortadas ou da cor de cabelo.
Anos e anos a passar e ao encontrar a amiga que não se via desde a Primavera passada, entre cumprimentos “então e estás com quem? “ , “Com o Muito”, responderia com um sorriso à palhaço. Bonita a imagem da permanência até que a voz, e todo o corpo, doa.
Era, sem dúvida, uma Muito boa ideia, pensou.
Se podia querer menos que Muito? Podia, mas não era a mesma coisa.

Ai que nervos!

Coisas que me irritam até à medula:
- Gente que começa o dia no meio da trânsito a olhar os outros condutores com olhares de assassinos esfomeados, enquanto businam e gesticulam como se disso dependesse a vidinha triste que levam, enquanto se está parado numa fila enormeeeee, que, obviamente, não vai começar a andar só porque eles querem!

- Gente que, em ambiente de trabalho, mete o bedelho em tudo, apanha conversas de outros a meio e resolve meter-se, mesmo não sabendo do que estão a falar, e criar toda uma crise mundial por causa de um cabelo que nem sequer é do pelouro deles!

- Conversas do genéro:
"-Tu estás bem?
- Estou sim, obrigado.
- Estás calada.
- Só não me apetece falar, mas está tudo bem.
- Mas o que é que tens?
- Nada, estou bem.
- Humm, eu conheço-te. Tu tens qualquer coisa.
- A sério, está tudo bem.
- Pronto se não me quiseres dizer, tudo bem, mas tu tens qualquer coisa.
- Obrigada, mas a serio, está tudo bem.
- A mim não me enganas que eu conheço-te. Tu tens qualquer coisa."
( Pois não tinha, mas agora tenho uma vontade enorme de te espancar! Está bem assim???)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

UTC

O Tempo Universal Controlado fez mudar a hora e os dias estão agora mais pequenos. Ela sabia-o de cada vez que olhava a noite. Continuava a correr de um lado para o outro, agora com mais pressa ainda, porque os dias estão mais pequenos. É já noite quando sai para ir buscar as mãos das compras para o jantar, e carregar escada acima, até que não se volte a sentar a não ser quando for tempo de descalçar as meias e deslizar as pernas para baixo dos lençóis que estão frios.
Contas feitas, os dias estão mais pequenos é mais fácil escapar em desculpas de não sair para o café ou cinema, mão dada, e fugir aos pequenos espaços deixados livres para as conversas que não existem deixando uma boca aberta ao suspenso.
E de greve em greve as palavras também vão ficando mais pequenas, como os dias.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Definições

Chegados ao quarto, os lábios sussurravam-se:
"Vim aqui amar-te. Deixas-me?"
"Não digas nada, que o Amor não se pede, faz-se."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Only the truth

Era o seu último gesto.
Tinha pensado meticulosamente como seria, ponto por ponto, segundo por segundo. Seria o último gesto, decidira.
Curiosamente sentia-se tranquilo, ao contrário do que pensava que iria sentir. A inevitabilidade do último. E tudo calmo.
Claro que admitia uma qualquer percentagem de não ser. Sabia bem demais que o nunca namorava o sempre, como o amor o ódio e o dia a noite.
Não controlava tudo, mas todos os planos tinham sido traçados medindo segundos.
As pessoas, como as coisas, são o que são e agora que da noite se adivinhava o relógio, era tarde demais para mudar e por isso ficava na decisão tomada.
Ia ser o último gesto. Como o último sorvo da bebida que se servira em gelo da fria torneira que parara de jorrar no coração seco demais para pulsar.
Desligou o computador. Estava feito.
Agora era esperar pelo som metálico que faria acompanhar o calor súbito.

há anúncios muito bonitos!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tasmanices XXIX

Ao jantar a Diaba falava sobre o estar descontente com a escola:
Diaba- Sabes é que as professoras gritam muito.
Mãe- E isso incomoda-te, filha?
Diaba- Sim, eu não gosto do som!

(Certo filha, podias não gostar do que implica gritar, podias achar que há outras formas de falar, de sentires que não gostam de voces por causa disso... sei lá,tanta coisa, mas não, é o som! Certo, amanhã vou já falar com as professoras para gritarem de outra forma...)

Variações

Podia variar. Experimentar qualquer coisa diferente. Sei lá, um sabor a iogurte em vez da pasta de dentes de mentol, um gancho no cabelo, uma pura vaidade sem ferro que marque a terra a frio.
Fazer aliterações com R, rebentam em marés de risos rasos, os segredos dos lírios que mostram o teu ser, aberto, a rodar em mim, redonda de te ter.
Qualquer coisa de diferente. Sentar-me num banco, todo branco, sem nódoas, sem riscas, a ver pássaros que se esqueceram da emigração. Eu que não sou fã de penas, nem das que voam, nem das que doem.
Podia variar, fazer a tal maionese que se fala, há tanto tempo anunciada, servi-la em pequenos cuidados frescos sem atenção ao colesterol e dimensões de cintura, escorre-la boca abaixo em delírios alucinados.
Porque o corpo cansa-se do encaixe. De estar sempre a encaixar em qualquer pequeno espaço, à procura de um ninho onde ficar por um bocado.
Haverá sempre lugar no sofá velho da casa amarela do fundo da rua, onde ninguém habita, mas que está sempre cheia de procura. Mas não é ali que o corpo recupera.
E por isso apetecia-me variar. Talvez assim matasse o espaço sempre igual de nada ser sem variar. Em variações...
"Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Peter e Eu

Vou-me sentar, naquelas cadeiras, numa sala onde às vezes cheira a mofo, o que contraria com toda a juventude que está fora. Vou-me vestir cuidadosamente, perfumar, substituir os óculos por lentes e sentar-me em frente ao palco. Eu e ele frente a frente. Sozinhos os dois. E ele vai falar-me de um amor estranho.

" There is no middle ground
Or that's how it seems
For us to walk or to take
Instead we tumble down
Either side left or right
To love or to hate"

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cotação

Vem à lembrança de quando as letras vinham e iam, difusas, incompreensíveis de só reconhecer o “t” e o “u” combinados da mesma forma, “tu”, “tu” e “tu”.
Não poder escrever mais. As palavras escritas nem sempre são iguais às sentidas e, perdida, não saber de qual forma a verdade.
Que se danem os dicionários, prontuários, que alinhados não têm entrada da palavra certa para o hoje na pele.
Como um leve roçar dos lábios num peito inchado, em mamilos apontados e as mãos que passeiam, lentamente em direcção às coxas que se abrem para os mesmos movimentos. Nunca igual e não há uma palavra só que defina.
Porque das mesmas palavras se escreve Amor e Roma e são tão diferentes ou tão iguais na mostra da devoção e da sujidade.
E o eu, antes tu, a não ter compreendido tudo, a faltar um espaço, um intervalo, um completar de frase, quando a nossa desilusão descansa entre nós e os “felizes para sempre” não passa de uma expressão sobrevalorizada em bolsa.

Galácticas

Um conhecido astrónomo dizia, numa conferência, que olhar o céu não é uma questão metafísica. Quis levantar-me e dizer que está errado, porque é mesmo isso quando olhamos e bradamos aos céus ou quando a Diaba olha as estrelas e diz que lá é um lugar mágico.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Telefonema

E quando do toque se levanta o auscultador e do outro lado pergunta se é do cardiologista , vem a resposta, chorada de tristeza, que não, que não é aqui mas que é pena que não seja porque dos males do (meu) coração deveria cuidá-los melhor.

domingo, 18 de outubro de 2009

Arterial

Tonta?? Pois... talvez a tensão a 8/4 seja uma boa explicação para a "tontice". :)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Chaga

Quando à noitinha lambo as feridas do dia e me lembro desta irritante mania de me apaixonar à parva, é sempre esta música que me acompanha:

foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar
que ha um fim
ahhhhh ahhhhh ahhhh

diz sem querer poupar meu corpo
eu ja nao sei quem te abracou
diz que eu nao senti
teu corpo sobre o meu
quando eu cair,
eu espero ao menos
que olhes para tras
diz que nao te afastas
de algo que é também teu
nao vai haver um novo amor
tao capaz e tao maior
para mim sera melhor assim
ve como eu quero
eu vou tentar
sem matar o nosso amor
nao achar que o mundo é feito para nós
ohhh ohhh ohhh aahhhh aahhhh aaaaahhhhh

foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que ha um fim
ahhahh
uma chaga pra lembrar que ha um fim

Chaga- Ornatos Violeta in O Monstro também precisa de amigos

Chris

Sempre gostei de te ouvir, Chris Cornell. Gostei de ouvir Soundgarden, gostei de ouvir Audioslave, gostei de te ouvir a solo.
Para além da tua voz meio gritada e meio rouca e do tipo de música, sempre gostei de ti, Chris homem. Olhos de alucinado, daqueles que nos despem as entranhas num só segundo. Tens ar de mau desvairado. Gosto! Muito!
Como é que me pagas a minha devoção? Fazes isto !
Ó homem, onde é que tu estavas com a cabeça??? O que é isto???? Volta lá a ser mauzinho, ok? Que não te apanhe outra vez nestes preparos!
Pronto, foi um deslize, todos cometemos erros! Não se fala mais nesta coisa, tá bem?

Prestação

Parece que ainda tenho muita continha para pagar. Parece que mandei muita gente para a fogueira ou coisa assim. Pois lá veio a continha deste mês na versão portinha do carro metida dentro. O que vale é que a miúda ainda se amanha e com cuidadinhos extremos lá consegui puxar a chapita de forma a o vidro voltar a abrir na totalidade.
Também já estávamos a meio do mês! Já era altura.
Será que ainda falta muito para pagar tudo? É que já me sinto um bocado cansada de estar sempre a acontecer qualquer porcariazinha!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Toma lá!

Ei, pssst, pssst. Tu, sim tu!
Conseguiste o segundo feito (o primeiro foi calar-me! Eheheh). O segundo é fazer-me ir ler textos antigos, só para tira teimas.
Voltei a ler e, se fosse hoje, voltaria a escrever exactamente o mesmo e a assinar por baixo.
Volta-se, pode voltar-se sempre. Já o fiz e não me arrependo um milímetro. Faria outra vez se a vontade fizesse sentido. Mas não faz, nem vontade nem sentido.
E não, não estou a ser teimosa. Sei-o intimamente.
Tão certo como saber que até se pode comer e gostar de comer um cozido, mas aquilo que nos sacia e enche é um belo prato de pasta.
Tão certo como saber que quando olho para qualquer lado, não é essa a imagem que eu tenho, nem esse cheiro que sinto.
Tão certo como saber que é um pleno: racional e emocional.
Tão certo como saber que quando me perguntas se sei o que eu quero e eu te respondo que sei bem o que não quero, na realidade tambem sei onde "me quero".
Tão certo como saber que tu sabes muito bem do que falo.
Tão certo como saber que o que gostas é de me ouvir falar à tonta. Eheheheh
São assim pequenas certezas desta miuda que não é bem da Terra mas mais lá para os lados da Europa, Lua de Jupiter, porque é por ai que orbito. :)

Silêncio

Pediram-me para falar sobre o silêncio, e eu, que faço textos por medida, alinhavo com cuidado as bainhas do tecido e digo que sim.
Pediram-me para falar sobre o silêncio, o que é ridículo porque do silêncio não se fala, ouve-se.
Haverá sempre um silêncio. Um qualquer. Meio escondido, meio oferecido. Qualquer coisa entre os momentos e os risos das músicas. Um vazio de termos.
Haverá sempre um silêncio. Um silêncio, erva daninha, quando do tanto que há falar não se diz e tudo está mal. Do silêncio que não se quer ouvir do que se quer dizer. Ou aquele outro em que o há a dizer não é para ser dito sem que os ouvidos tenham a preparação prévia de operação de peito aberto “eu dou-te esta palavra que vale muito. Ouve-a por baixo do peito esquerdo”.
O silêncio soluço que vem aos bo-ca-di-nhos intermitentes com dificuldades de comunicação dos males que vêm ao mundo por muito se falar sem continuidade da acção e o corpo cansa da mímica continua dos lábios. Ou de quando se cala porque não há proveito em falar o que se quer em voz melodiosa ou em rajadas de fogo, do apaixonar pelo silêncio que é o mesmo que apaixonar-se sozinho sem troca de fluidos cuspidos num simples “Olá”.
Haverá sempre um silêncio, um outro silêncio. Um silêncio bonito quando o sol é engolido pelo mar em cor laranja e nada mais é preciso porque o amor é dos que se olham num olhar puro para o outro.
Um silêncio que transborda a emoção e se é sofá fofo para a festa de tudo estar no sitio certo.
E eu, mulher que não se cala, remeto-me a silêncios vários quando quero dizer que nada é inacessível no silêncio das espumas várias.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Espionagem

Gostava de ser uma verdadeira Mata-Hari, um Sherlock de cachimbo ou mesmo uma invisivel sombra.
Seguiria todos os teus passos e descobriria os teus segredos, um por um.
De pista em pista, hoje um livro, amanhã uma música, todos os dias os gestos repetidos, ia construindo o puzzle de que és feito.
Iria vestir-me de menina da TV Cabo e faria , no umbral de tua casa, um inquérito extensivo enrolado de perfil de consumidor para saber dos teus olhos frente a monitores.
Se calhar, interpelava-te na rua e perguntaria dos hábitos de consumo, à porta de um supermercado, só para saber de que compras se enchem a tua despensa e tu como armário.
Não tenhas dúvidas que, mestre na subtil perseguição, saberia as horas a que te levantas e te deitas e como gastas o tempo intermédio. Não que queira vigiar por onde andas, mas porque importa muito conhecer cada bocado de ti no mundo exterior.
Com toques misturados de ciência, seria a pequena cápsula, nano, que engolirias sem dar por isso.
Das tuas entranhas faria mar, à laia de portuguesa dos descobrimentos, até parar no coração e aí descortinar de que câmaras estás cheio.
A ligeira dor de cabeça, vertigem, que sentirias, seria eu que tinha seguido viagem até do lóbulo frontal fazer escala para todo o emaranhado do teu cérebro.
Era assim que te queria conhecer, por dentro e por fora, todos os milímetros do teu ser e assim descobrir-me eternamente apaixonada pela verdadeira cor do teu cabelo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Melinda e a hora

De todos os sinais, prenúncios, que se mostraram, houve dois que Melinda viu com os olhos em forma de coração a bater descompassadamente.
O primeiro foi durante a tarde, quase final, o sol a começar a ter a cor de uma laranja. Teve de esfregar os olhos para ter a certeza, mas era mesmo isso. Por baixo da sua janela, presa no alto do gigante morro onde morava, centenas de borboletas passavam.
Esfregou novamente os olhos e teve a certeza. Eram mais de trezentas e voavam sobre aos baloiços do parque infantil, que pintados de cores fortes pareciam flores vistos de cima. Eram mais de trezentas e formavam uma nuvem, juntas, asas em sintonia.
Estava calor, muito calor e toda a gente sabe que as borboletas da Europa vão fugir para o Norte por causa do calor, mas para Melinda este foi o primeiro dos prenúncios que lhe sussurrava o interior que alguma coisa estava para mudar.
Sentia-o no ar, no formigueiro que lhe descia pela espinha, nos pequenos sinais dados pelo gato, que entontecido ladrava e corria atrás do seu próprio rabo.
Alguma coisa estava para mudar, pensava enquanto batia a massa do bolo e, distraída, acrescentava sal em vez de açúcar.
Melinda ficou mais atenta depois das borboletas. Deixou a janela aberta, com uma vela parapeito, não fosse o escuro querer entrar e não saber como. Mas nada aconteceu. O escuro adormeceu e o vento estava noutras paragens. Só o calor continuava e Melinda decidiu ir para a cama.
Foi nessa altura que a viu. A estrela, que caindo lá de cima, abriu o pára-quedas mesmo à sua frente e sorriu. Acenou-lhe docemente e, num só gesto, puxou os fios e desapareceu.
Foi o segundo prenúncio e agora Melinda tinha a certeza.
Dizem que às estrelas cadentes se pede um desejo, mas quando Melinda se lembrou já era tarde demais. Ainda assomou à janela mas da estrela já nem cauda.
Voltou para dentro e soube que se devia deitar vestida com o fato de banho e a toca que a manhã viria com o prenúncio das águas leva-la nas costas dos caranguejos que subiriam o morro e a iriam buscar. O seu trabalho estava feito ali, era hora de partir sem olhar para trás.

Saramago

Tasmanices XXVIII

Tudo serve para conversar quando andamos de carro só as duas. Acerca de como se escrevia a palavra "cinema" veio a seguinte pergunta:
Diaba- Mãe, sabes o que eu queria mesmo saber? Mesmo, mesmo? Era saber porque as coisas se chamam como chamam. Por exemplo, porque é que o Sr. que disse que isto era uma garagem, chamou a isto garagem? Porque é que uma cadeira se chama cadeira e não outro nome?
(Aiiiiiiii, e agora??? Começamos já assim? Vais equacionar tudo na vida???? Aiiiiiiii)

A Diaba é um bocado ansiosa. Há assuntos que a preocupam recorrentemente e fica ansiosa com isso. Um deles é a mudança de escola no próximo ano lectivo, quando entrar para a primária. Usa todas as desculpas para justificar que não deve mudar de escola e deixar os amigos.
Diaba- Mas ó mãe eu não quero ir para a escola.
Mãe- Mas porque filha?
Diaba- Porque depois tenho de levar o Magalhães e ele é muito pesado!
(De todas as coisas que se disseram sobre o Magalhães, faltou esta: o magalhães pode causar hernias discais às crianças! )

sábado, 10 de outubro de 2009

Ontem, enquanto cozinhava uma nova entrada, feita lambona, resolvi provar e queimei o lábio. Muito mesmo.
Não disse asneiras nem bati em ninguém. Podem avisar os Srs suecos para me darem o Prémio Nobel da Paz?

Tasmanices XXVII

Diaba- Mãe, estivemos a fazer máscaras para o teatro e eu vou ser a lua.
Mãe- Que bom filha e como é a lua?
Diaba- É uma lua de algodão doce. E eu gosto muito porque é algodão e é doce e é bom de abraçar e ficar colado!
(Posso abraçar-te num abraço sem fim e ficar sempre coladinha a ti? Posso, minha lua de algodão doce?)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mixed

É uma sensação estranha, engraçada de boa, ver um texto nosso publicado num outro lado :)

Atchimmmm

Sei tão bem o mal que faço a mim mesma quando não curo constipações, e de uma vou indo para a outra e assim sucessivamente, em camadas.
Conheço bem demais os sintomas deste desleixo em que me desculpo de ter sempre de ir para a frente e não se poder parar.
Um dia, uma só gota de chuva nos meus pés vai provocar a pneumonia que me levará à cama com cuidados médicos redobrados aos pulmões em renda.
Ou então acontece um qualquer milagre e uma só gota de chuva nos meus pés vai provocar a cura certa ao sol. Gosto mais de acreditar neste final e por isso vou, mesmo sabendo muito conscientemente do mal que me faço.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Fly

Habituada que estou a "hoje é hoje, amanhã logo se vê", "sei lá como vai ser a próxima semana quanto mais o próximo mês", de tantas voltas que a vidinha, essa coisa, me obriga ( e eu que não gosto de montanhas russas!) a dar em trejeitos de cintura que me dá dores na coluna, fruto da lombalgia crónica vinda dos saltos, habituada que estou, dizia eu, surpresa, surpresa, marquei uma viagem para Fevereiro.
Agora benzo-me e espero as graças dos céus para que se houver volta seja de 360 graus e possa tudo voltar a como está hoje mas já com malas feitas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Photo Plus

Há cores que te iluminam e realçam as linhas fortes do rosto. Pode ser do tempo, que de chuva com meio sol, faz arco-íris e pelo meio apareces.
Na verdade não és incolor, nem indolor se pensar bem. Não és nenhuma destas palavras começadas por in, inodoro, indiferente.
Há sempre qualquer coisa do teu cheiro, da tua cor nas ruas por onde passo e onde te espreito até à dor moinha que me lembra do meu nome querer ser paz e não D. Quixote contra moinhos inventados.
Incoerência dos lados, como se fosse a antítese, o paraíso e o inferno, do lado emocional que faz beicinho e seduz o racional a baixar armas contra o invencível.
Não te luto, porque não quero de outras continuar a fazer guerras com despojos e mortos às centenas e já não sinto o bastião da batalha, mas luto-te quando de preto vejo as cores que te iluminam. E não és incolor.

Tasmanices XXVI

A Diaba e a sua fértil imaginação, resolveu fazer um livro. Escreveu todas as palavras. Dizia o que queria escrever e eu ditava-lhe as letras que ela desenhavam em tamanhos diferentes, ora muito grandes ora pequenas. Resolveu, também, que seria ela a ilustradora e fez os desenhos que acompanhavam o texto. Agora quer "publicar", furar e colocar num dossier.
A história:
A Raquel Bela
A Raquel estava em perigo (desenho da Raquel). Os pais da Raquel também estavam. A Raquel foi visitá-los à esquadra (desenho dos pais na prisão. Com grades e tudo!). Eles eram pobres e estavam presos. Depois a Raquel soltou-os e um Rei deu-lhes sacos de dinheiro e joias. Eles compraram uma casa com piscina e viveram ricos e felizes (desenho dos pais da Raquel com sacos de dinheiro e grandes sorrisos. Atrás um carro da policia a escoltá-los.)

( eu hesito entre o orgulho e o medooooo...)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Não me apetece escrever... só "roubar" III

(...) Anyone can answer their own questions
All you have to do is look inside
Inside, inside
You know it inside
You know it will be alright
Alright, alright
You know it's alright

I'm moving on
I hope you're coming with me
Cause I’m not strong
Without you

Don't blame it on
Your shadows

Cause I know all
About you (...) "

Au Revoir Simone - Shadows

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Não me apetece escrever... só "roubar" II

(manlady) I can read

Não me apetece escrever... só "roubar" I


(by rockettoanasteroid) I can read

Breakfast, lunch and dinner

"You know what's wrong with you, Miss Whoever-you-are? You're chicken, you've got no guts. You're afraid to stick out your chin and say, "Okay, life's a fact, people do fall in love, people do belong to each other, because that's the only chance anybody's got for real happiness." You call yourself a free spirit, a "wild thing," and you're terrified somebody's gonna stick you in a cage. Well baby, you're already in that cage. You built it yourself. And it's not bounded in the west by Tulip, Texas, or in the east by Somali-land. It's wherever you go. Because no matter where you run, you just end up running into yourself."

BREAKFAST AT TIFFANY'S

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tasmanices XXV

Acabamos de ver os Gato Fedorento com o António Vitorino.
A Diaba, quando o viu entrar em cena riu-se e pediu para ligar ao avô, meu pai.
O meu pai tem 1,60mt. Eis a conversa:
Diaba- Avô, tou a ver os Gato Fedorento e o Antonio Vitorino é mais baixo que tu! Que giro!
(Eheheh,pois miúda, dizem que os homens não se medem aos palmos, mas este ficava bem na história da Branca de Neve. Eheheh)

Arquivos XI

Ouve com atenção. Senta-te e fixa-me enquanto te falo. Se necessário, antes de vires faz uma lavagem no otorrinolaringologista, para que nenhuma palavra se perca ou seja mal percebida.
Ouve com atenção. Podia dizer que te adoro, que para sempre cozeste com linhas grossas, de pesca, as áreas do meu coração. Podia dizer da tua permanência, diária, mesmo nos dias em que já não me lembro de ti. Podia dizer, que se lixe, amo-te em pequenos pedaços de cada vez que te olho, mão presa nos teus cabelos, e tudo o mais numa gaveta habilmente preparada para as recordações. Podia dizer que, teimosamente, ainda me chocalhas o interior, fazendo-me que nem barata tonta entre o querer-te e querer-te ainda mais.
Podia dizer isto tudo, mas não. Podia mentir, dizer que está tudo bem, mas não o faço.
Sento-me aqui e dito-te a última carta de amor, por isso ouve com atenção.
O meu amor foi e eu não sei para onde.
Estou só, com lágrimas como companhia, que escorrem pelo pescoço que beijavas até me fazeres mendigar pelo corpo dentro do meu.
Preferia que me tivesses trocado, rasgando-me toda na lembrança do quanto te queria. Preferia morrer de ciúmes, fúria de ciclone, que tudo levasse à frente, incluindo pele e pratos de serviço escolhido a dois.
Preferia que tu me tivesses abanado de tal forma, que os ossos de tanto roçarem, provocassem chama outra vez.
Preferia ouvir-te dizer claramente que nada fazia sentido de tão distantes, antípodas nos tornámos.
Mas não, fui eu e o meu amor que foi e eu não sei para onde. E eu choro.
Como se para o mundo de cair?
Não sei o que fazer agora com o vazio que me fica de tudo o que foi e já não é, mas o meu amor foi e eu não sei para onde.
E mais só que nunca, devolvo-te as palavras.

domingo, 27 de setembro de 2009

Bula

Escreve-me,
dedica-me frases e palavras
daquelas nossas, para que eu saiba
da direcção para mim.

Escreve-me,
como se fosse uma receita
de fina culinária ou médica.
Diz-me das quantidades
e guia-me na maneira de as servir ou tomar.

Escreve-me,
envia-me por fax
e a seguir

corta o original em pequenas tiras
para que nunca mais se encontrem
perdidas, que já estão, no caixote do lixo.

Ai que nervos que isto me mete!!!!

Um país que tem 39,4% de abstenção não é um país com um povo desacreditado, é um país com um povo lobotomizado! Tenho dito!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cerejas

No meio das conversas, saltando de assunto em assunto, que as conversas são comos as cerejas e vêm sempre aos pares, fixo os teus lábios e a vontade de me calar com os teus dedos, que deslizem até ao canto da minha boca, parando o tempo exacto para o abrir dos lábios, quentes de vontade de te saborear o indicador apontado à tua boca.
Sem gestos constrangidos mas com lento prazer, devagar pudor a ser despido em silêncios que ficaram acessos aos olhos mergulhados para dentro.
Sem retirar, a força, íman que puxa até colar, os dedos percorrendo um a um os pelos da tua barba, que parece farta, com leves ponteares de branco, prendendo as minhas rugas de expressão ao sorrir de estarmos na boca um do outro. Ai ficar até a vontade de saciar desejo de nos termos, fazer dobrar os joelhos para que lado a lado os dois corpos façam noite que se chame assim dentro da (i)moralidade do amor físico em pequenas dentadas de alma.
Darmos tudo num pacto de sangue e suor porque é de ti que as manhãs se enchem de folhas que nos tapam o sexo depois de não haver vergonha de nos fundirmos em todas as maneiras.
Foi um momento no momento de voltar à conversa, em forma de cerejas, para dizer adeus ou saber que não nos vamos encontrar nunca mais.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Desenhos animados

Hoje, tive de passar cerca de 1h00 a falar muito seriamente com uma Senhora que é igual à ama do Patrácula (à direita na imagem).
A sério, é igual!!!!!!! Só faltava o braço ao peito (teria todo o gosto em ter tratado disso, eheheh).

Tasmanices XXIV

Enquanto viamos a entrevista dos Gatos à Joana Amaral Dias:
Diaba- Ó Mãe, tens a certeza que a Joana é politica?
Mãe- Tenho filha, é do Bloco de Esquerda.
Diaba- Mas ó Mãe, ela é nova e parece da moda...
(Errrrrr... tinha de ser feia, filha????)

Uma das tarefas da Diaba é levantar a mesa do jantar, tarefa que ela vai adiando quando não quer comer um doce depois.
Depois de a ter chamado três vezes à atenção:
Diaba (com ar de gozo)- Ó Mãe, tem calma que tu és uma mulher que não se pode enervar...
(O engraçado disto é que esta é uma frase muito utilizada pelo grupo das Amigas (adultas) a quem a Diaba chama de miudas!)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Código da Estrada

“Foi porque os teus olhos se abriram para os meus. Amo-te” escrito na pedra que limita as obras ao pé da rotunda. Mais uma volta para ler. Um sorriso atrás de outro. Gostei.
Sem dúvidas lexicais nem concordâncias em várias formas. Simples e directa. O dizer.
Sem saber porque, penso que de género masculino, os homens são mais dados a escrever em pedras do que ao lento soletrar num ouvido.
Parece uma perseguição às palavras que desataram a correr pela avenida fora até chegar à rotunda, que estava em obras, e ali ficarem para serem lidas. De esperança que os olhos a quem são dedicadas as vejam e sorriam.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Para N.

Vou dizer-te baixinho, ao ouvido, para que só tu ouças o que não quero falar alto. Vai correr tudo bem, voltes tu a ti e ao que de dentro te fazes.
Quero dizer-te isto porque tenho a certeza. Tanta que escrevi com as letras de íman que estão presas no frigorifíco.
Vai correr tudo bem e a vida continua naquela alameda por onde começamos e onde continuamos de mão dada, porque de ti nunca saberei tirar os dedos.
Não é uma crença, é uma experiência científica bem fundamentada, vai correr tudo bem e do fundo dos nossos olhos, terás sempre o meu ombro, em siamesa forma de te dizer que estou aqui.
Quando passar a nuvem negra que nos leva à chuva dos olhos, brilhará o sol e então, que nem planetas, orbitaremos, leves e prontos ao reconhecimento.
Porque foste sempre tu e hoje sou eu aqui ao teu lado a dar o regaço para que saibas que tudo vai correr bem.
Como a frase que te deixei no frigorifico. Como o amor que não te digo todos os dias mas que me arde sempre.

Número

Sete foram os movimentos para ir de um sitio para o outro.
Contei-os, um por um, desde a altura em que pego nas chaves do carro até que ele começa a andar numa direcção já feita na minha cabeça.
Sete foram os dias que me levaram a ter a certeza de um perfume para sempre na pele. Contei-os, um por um, desde o dia em que os olhos se abriram até voltarem a fechar sobre o resto da vida em perspectiva.
Sete foram as semanas até saber de mim vida, dentro, a nascer em sete milímetros. Contei-as, uma por uma, na medição do exame que confirmava.
Sete são os pecados capitais e sete as vidas em perdão, formas de gato.
Contei-os, um por um, enunciando alto para que o grito fosse levado pela sétima onda de ano novo e assim trouxesse outra espuma com as sete virtudes humanas.
Sete são as cores do arco-íris, sete as Maravilhas do Mundo, sete as notas musicais e sete os sábios da Grécia.
Sete são os anos do espelho partido a acabar em sete escravas no pulso que se abre para às sete morrer e às sete voltar a nascer o sol.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Básico

Devagar, afasto os lençóis que nos cobriam e saio da cama. Devagar, sem fazer barulho ou movimentos bruscos.
Queria ficar ali, que a manhã ainda é novinha, mas tenho de ir. Apetecia-me prender-me ao teu tronco, enrolada e dizer “hoje sou a tua camisa. Leva-me e mantêm-te quietinho para que ninguém note que tem vida o que te tapa”.
Com delicadeza, abro a porta para o corredor. Não te quero acordar do desmaio a que se rendeu o teu corpo de grande urso quando, satisfeito, hibernou, por uma noite, ainda nos meus braços. Adormecer agarrado para logo afastar um pouco do toque porque o calor que se provoca permanece e é suficiente para o passar da noite.
Fecho a porta atrás de mim, ligando o quarto ao cheiro a sexo que ainda por lá habita as almofadas.
Em bicos de pés descalços, começo a gostar desta casa, onde a esquina para a casa de banho é já conhecida de ombros, e, entre apalpões, acendo o botão que dá luz e que me faz fechar ligeiramente os olhos.
Com mãos postas no lavatório, olho-me no espelho, cabelos revoltos, e procuro situar-me naquele lugar que não é meu, numa realidade emprestada por momentos, no meio do teu perfume e pasta de dentes, no meio da cara lavada na tua toalha.
Apanho a roupa do chão da sala, onde me visto e volto ao quarto para te dar um beijo de fugido, leve, a roçar, para que não seja um adeus e continue a ser um até já ou até que me chames.

Muita música

Ora então, a lista dos "wanted" é esta:

- Au Revoir Simone, Aula Magna, 05 de Outubro
- Diana Krall, Campo Pequeno, 10 de Outubro
- Joana as Police Woman, Lux, 15 de Outubro
- Rodrigo Leão, Coliseu dos Recreios, 30 de Outubro
- Peter Murphy, Aula Magna, 31 de Outubro
- Kings of Convinience, Coliseu de Lisboa, 04 de Novembro
- Depeche Mode, Pavilhão Atlântico, 14 de Novembro
-Massive Attack, Campo Pequeno, 21 e 22 de Novembro
- Muse, Pavilhão Atlântico, 29 de Novembro
- Lisa Ekdhl, Aula Magna, 31 de Novembro
- Franz Ferdinand, Campo Pequeno, 2 de Dezembro
- Editors, Campo Pequeno, 10 de Dezembro

E não estão os mais "pequenos".....
O pior é que tenho a certeza que se conseguir ir a dois, já tenho uma grandeeeeeeeeeeeee sorte...

Tasmanices XXIII

Parece que em altura de campanha politica, a Diaba não deixa créditos por mãos alheias e deu "uma aula" na escola dela explicando aos outros meninos quem era quem. A única dificuldade foi lembrar-se no nome Jerónimo, só se lembrava de Sousa...
Ao que parece, segundo a educadora, foi mais longe e fez a sua análise politica dizendo que tinha gostado mais de ver a Manuela Ferreira Leite e menos de ver o Paulo Portas e que estava ansiosa para ver o Francisco Louçã... tudo no programa dos Gatos Fedorento é claro!
O que me deixa mais descansada é que pelo menos admite a direita e a esquerda :)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Message

A partir de um dos blogs que estão referenciados ali ao lado, o Shiuuuu, surgiu um novíssimo blog, o Message For You.
Segundo os criadores, foi necessário criar este espaço pela crescente necessidade de haver um sítio onde os leitores pudessem deixar mensagens dedicadas: declarações, parabéns e coisas que tal.
Giro, não é? E a vontade de escrever a dedicar e/ou de ser surpreendida a ler algo para mim??? Mais que muita :)
Ide e dedicai-vos! :)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Joker

Na sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida, sentida, desfrutada, em ponto de rebuçado, pasta espessa mas moldável.
Na sorte de um amor tranquilo, vadio, de mão dada pelas ruas dos eléctricos, sem pressa de não perder tempo e não perder o amor em dedos queimados de tudo o resto.
Na sorte de um amor tranquilo de calma tempestade, com ilusões a descansarem nas flores, amores-perfeitos, girassóis virados ao céu também à noite ponteada de estrelas.
Na sorte de um amor tranquilo de olhares onde se pode falar de banalidades no rosto que se encontra em luz fina do dia-a-dia, coisas sérias porque das crianças também somos adultos perfeitos de consciência e alma.
Na sorte de um amor tranquilo imutável nos ventos das tempestades que somos relâmpagos no céu, nos instantes vividos mil vezes.
Na sorte de um amor tranquilo, numa inclinação de cabeça junta, atenção amorosa aos números do euro milhões para que se note da sorte grande, marca-se as cruzes e espera-se.

Não consigo encontrar um título

Sonhei e vou recordando um a um os detalhes do sonho. Não foi bom, nem mau, apenas estranho.
Lembro-me de estar num grupo onde só conhecia uma pessoa e desse grupo andar a passear por montanhas. Lembro-me de um certo formigueiro a olhar para alguém que não reconheço a cara, que não deslumbro os contornos. Era uma mancha difusa. Um estranho, o Estranho. Lembro-me da correspondência do olhar desengonçado e arrastado, do riso leve e atirado para todos os lados, da atenção que o Estranho me dava. Lembro-me da urgência do crescer do desejo entre nós e o diminuir do espaço até eu e o Estranho não aguentarmos mais e dos milímetros fazermos tábua rasa, enquanto nos despíamos com línguas cruzadas nas bocas que pareciam só uma. A pressa que nos fez enfiar num poliban e correr a cortina sobre nós e o momento. Uma pressa que levou o Estranho mais rápido e mais longe. E no fim, sangue.
Poderia Freud explicar? No meio do querer entrelaçar pernas, vontades e vidas, de acordar lado a lado nas manhãs, será que aparece a insensatez de mostrar o medo que cada vez sangra mais? Poderia Freud explicar?
Foi um sonho.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Tasmanices XXII

A propósito dos cartazes da campanha politica, a Diaba pediu que identificasse os candidatos e os seus partidos politicos. Depois de termos falado de todos:
Diaba- A Manuela Ferreira Leite é a única mulher porque já é velha e tem rugas?
(Errrr,não sei se te deva já falar da diferença de oportunidades entre generos...)

Tasmanices XXI

A propósito do casamento de uma amiga, veio a acutilante pergunta:
Diaba- Mãe o que achas do casamento? É muito importante?
Mãe- Filha eu acredito muito no amor, seja ele qual for. Isso é que eu acho importante.
Diaba- Eu tambem, mas o X diz que me ama mais que todos e que o casamento é muito importante. Mas eu gosto é do Y, não quero casar com o X.
Mãe (já com respiração assistida!) - Pois filha, o importante é o amor. O que é qu etu achas?
Diaba- Era só para saber. Eu tambem acho que o importante é o amor.
(E que tal preocupares-te em brincar com peluches???? Que tal??? Vais ter tanto tempo para (des)aprender sobre o amor, e, pela pequena amostra, vais sofrer tanto quanto te vais encher com e por amor...)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Notes&Neurons

Denomina-se Escala Pentatônica, em música, e surgiu na China tendo como base a divisão melódica proposta por Pitágoras. É, basicamente, o conjunto de todas as escalas formadas por cinco notas ou tons.
No vídeo abaixo, Bobby McFerrin demonstra o poder da Escala Pentatônica, no World Science Festival 2009.
E assim se comunica ciência :)

World Science Festival 2009: Bobby McFerrin Demonstrates the Power of the Pentatonic Scale from World Science Festival on Vimeo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dúvidas

Se na última vez estiver certa, não valerá a pena ter tentado sempre?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Gráfico

Cresceste-me desde o dia que te conheci. Cresceste-me. Cá dentro. De um ponto, que podia ser final, tornaste-te numa recta a que não vejo o fim. Pelos enormes túneis em que atravessamos os sinais vermelhos, sucumbidos a um qualquer vírus que os tornou sete cores de arco-íris, vieste e foi viagem. E eu sempre a dizer “ sê devagar” quando do espaço em que se devia acelerar me punha atrás de ti para que imprimisses o ritmo, com a minha mão no teu ombro, para reinos com construções de sabor a limão adocicado, em verde fresco de sopros de primavera.
Cresceste-me, um maior que eu, que rebentou a pele para sair e crescer muito mais, do ínfimo feto, não abortado porque querido, ao gigante em passos de viagens pelo mapa- múndi, dois hemisférios lado a lado e eu a querer saltar de continente para te ver viajar.
Estamos em viagens de mundos diferentes, duas estações que não se encontram a não ser quando, como hoje, o sol faz trovoada e do verão aparece um pouco do inverno.
Então, sento-me e bato nas teclas que fazem frases para te dizer que cresceste-me e que dos pontos de onde estás levo-te cá dentro para junto ao mar, num bem-querer tranquilo de tão grande quanto me és.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Guardar

São momentos de ânsia incontrolável.
Saiba de horas marcadas ou encontros ao acaso, é sempre igual o aperto no estômago.
Como se estivesse numa cinta de varas que comprime o diafragma e não me deixa respirar normalmente.
Um lento perder de forças que me baralha a direita com a esquerda, me põe trapalhona e sem saber o que fazer das mãos.
Logo o alívio rápido quando os olhos baixam sobre os teus e todo o mundo está ali, nas terras longas que encerras e onde posso passear sem medo de perder a direcção.
É por lá que ando num lento levitar, numa cascata de luz contra a dura realidade do dia-a-dia, que me enche de gratidão por seres tu, tal como és.
Gostava de conseguir explicar letra por letra o quanto me sinto perto de ti, numa cadeira preferida, face a face, frente a tudo e perto de nada e tudo está certo assim.
E depois a ânsia outra vez, de cada vez que as costas se viram e levas os ombros à frente para outro sítio qualquer longe.
Fica um vazio em que não sei o que fazer do espaço descontinuo entre os dois e abre-se o pulso de dizer adeus.

Ai, e agora??

Esqueci-me do livro que queria ler nas férias. Fiz todos os possiveis para acabar o que começara e poder embalar um outro novo, mas no meio da roupa não veio o que queria.
Não ter o que ler fez com que escrevesse mais. Tenho o caderno cheio de apontamentos, registos, frases soltas, vagas, deambulações e criações.
Nada de muito novo ou de extraordinário rasgo. Apenas o que é normalmente. Tudo a soar ao igual de sempre.
Mesmo assim escrevo e talvez vá publicando alguma coisa. Incoerências...
Também me dediquei a leituras fáceis de revistas femininas.
Engraçadas estas revistas quase esquizofrénicas. Por um lado publicam artigos de "és uma super mulher. Confia" . É um desenrolar de textos sobre como acabar relações, de mulheres felizes e sozinhas e assim é que se está bem, e podemos ir à lua, só de avental, enquanto aparafusamos tudo lá em casa e temos tempo para o pó de arroz e ser sexys à brava.
Do outro lado o tradicional descobre o companheiro ideal, mesmo que seja na Índia montado em cima de um elefante, aprende a comunicar com ele e dá-lhe mais prazer que 50 mil profissionais do sexo altamente preparadas.
Fico sempre na dúvida, se somos mais que felizes e capazes sozinhas, porque raio havemos de ir à India buscar o companheiro ideal??
Estas dúvidas nas férias não fazem bem...Eheheh

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Mira de asneira

Da espreguiçadeira, vejo o rio.
Banha-me os pés em suaves ondulares. Água fresca.
Está quase no seu fim. Dois kilometros mais e desagua no mar, abaçando-o, tornando-se nele.
O doce e o salgado naquela foz.
De que promessas de existência falarão quando se encontram?

Que paciência..

E foram uma férias cheias de brilharetes!
Depois do Norte me ter dito "vê lá se arranjas um homem e dás um irmão à tua filha, que já não vais para nova" (agora que me indicaram a luz, vou já tratar disso!!) foi a vez do sul brilhar.
Chegada ao empreendimento onde eu e a Diaba ficariamos os dois primeiros dias, no check in, quando perguntei onde podia deixar o carro, diz a senhorita com um belo sorriso " o seu marido pode dar a volta à lagoa e estacionar mesmo ao lado da casa".
Optimo! Vou só tentar casar nos próximos dez minutos e trato já do estacionamento, pode ser??
Parece que mulher e miuda sozinhas não podem viajar... não sabia. Mais cuidado para a próxima, eu prometo!
Rumando mais a sul, já num outro local, a Diaba e outra miuda brincavam na piscina e "expulsaram" um rapazito que foi embora amuado.
Eu e o pai do rapaz trocámos os típicos sorrisos de " pois, míudos, eles que se entendam".
Eis senão quando, ouço ao meu lado uma senhora que pergunta "Quer alguma coisa do meu marido?"
Não aguentei, já estava completamente zen e, nos píncaros da minha ironia, olhei para a senhora com o ar mais guloso que consegui e disse " do seu marido não, mas já de si... é que eu sou lésbica".
E pronto, foi vê-lá ir embora o mais depressa possível.
A sério, eu sou uma miuda pacifica, querida, compreensiva, mas não abusem.
Não tenho marido, viajo sozinha com a minha filha e não sou predadora. Pode ser? Sim?Pode?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Dificil explicação

Parto só, não por não querer estar convosco mas por querer muito estar comigo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Tasmanices XX

Em viagens, a escolha musical é alargada a música um bocado mais forte do que a que habitualmente ouvimos quando estamos juntas.
Desta vez, acompanhavam-nos os Korn.
Mãe- Vou mudar de cd. Que queres ouvir?
Diaba- Põe aquela música que gostas, daquele menino que parece que canta com raiva!
(É giro ver como os miúdos percebem tão bem as emoções através da música!! Bora lá gritar que nem loucas, filha!)

De outros sopros

Está sol e parece que o vento amainou. Não o sinto tão fortemente nas têmporas, areia lançada com força de entrar na minha pele até se tornar bicho bolorento que percorre gota a gota o sangue. “ O vento amainou” dizem os velhos sentados nas soleiras das casas, escondendo-se do sol que está duro, rijo, impondo-se contra a muralha que andava por aqui a querer tomar de ponta a terra e fazer kilometros até à China.
“ O vento amainou” dizem as copas das árvores que não baloiçam, quietas na sua imponência de árvores presas em raízes que gostavam de trilhar o interior da terra escavando até ao centro, lava que queima e ai fundar uma nova nação, diferente da Patagónia, onde as arvores crescem sempre inclinadas a norte.
Parece que sim, que o meu cabelo já se penteia, mantendo-se no lugar quieto, mesmo à noite no embrulhado do casaco que já não é preciso a não ser preso à cintura, não vá vir uma rajada sem aviso prévio ou indicio de leve roçar nos ombros queimados.
O vento já passou, ou a pressão, atmosférica, entre duas regiões distintas, o eu e o eu, já não se faz sentir e tudo o que o ciclone tinha a levar ficou transformado em leve brisa que sopra em direcção ao mar. É para lá que vou.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dúvidas

Haverá algum sabor quando apenas fica uma mémoria na pele e nada que doa na alma?

Vitis Vinifera

De repente, um súbito interesse nas videiras. Uma planta curriqueira e já conhecida desde dos tempos em que Adão e Eva usaram as suas parras para esconder vergonhas.
Os seus frutos, de diversas espécies, fazem deleite das gulas encostadas de romanos depinicando bago a bago e cuspindo grainhas, para logo saciarem sedes no suco esprimido e fermentado, branco ou vermelho cor de sangue. Depois de velhas, comem-se em doze, o mesmo número dos desejos que se evocam ao primeiro minuto, mantendo tradições que acreditam de bom agoiro.
É planta de força, mérito reconhecido aos frutos, em contradição com a fragilidade do seu tronco retorcido, trepador, com ramos flexíveis e folhas recortadas em cinco lóbulos pontiagudos. De tão retorcido, ou de tão fléxivel, trepa por estacas e delas precisa para sustentação. Só quando apoiadas, encostadas em bengalas que atravessam o dia e a noite, chegam a Setembro para mostrar a sua força. Nos frutos. Uvas.
Estranhas plantas as videiras.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tasmanices XIX

A Diaba cantava, inventando a música e a letra:
" Eu sempre insisti nos sonhos,
e vão-se realizar todos
de cada vez que eu escrever um R..."
(Isso querrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrida)

Andámos pelo norte, a deambular entre aldeias giras e serranas. A Diaba estava super entusiasmada de ver todos os animais da "quinta", mas ao fim de dois encontros com cães um bocado mais "nervosos", diz:
- Sabes Mãe, isto é giro mas acho que gosto mais dos animais da cidade.
(Já eu, filha, não tenho tanta certeza de gostar mais dos "animais da cidade". Eheh)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Shiitake

Adoro cogumelos. Todos e de todas as maneiras. Desidratados. Mergulhá-los durante 20 minutos para voltarem a hidratar.
Como as férias. Mergulhar em qualquer água e voltar à forma original.

Tasmanices XVIII

A Diaba chegou hoje de férias. Cresceu, perdeu um dente e está super morena.
Assim que abri a porta, correu para mim e disse:
Diaba- Mãe, já não aguentava mais. Tenho mais saudades tuas que daqui até ao Universo!
( Meu amor.....)

sábado, 22 de agosto de 2009

Puff

Agora que chegou, há partes de si que ainda vêm lá atrás, atrasadas num passo que não é o seu. Mas espera, porque começar de novo leva a uma nova morada, a um outro cenário, construído por si e para si, e se não espera pelas partes, o corpo fica amputado e sofre de dores fantasma.
Um cenário feliz, porque é o momento. Nunca será feliz se não for feliz agora, é o que pensa enquanto acaba de pintar as paredes.
O estranho formigueiro, como uma pequena aranha a passar no pescoço. Será sempre tempo de ser feliz. Como agora. Ser agora.
Sabe-se apenas que o amanhã existe. É o destino, e o ponto de partida é o momento.
Olha o relógio, marca 0H12, o tempo da promessa.
Senta-se no puff da varanda. Gosta de acabar ai os dias, seja a que horas o dia acabe. Gosta de acender o último cigarro e olhar para o céu, para as estrelas. Se se pudesse dobrar o tempo para que no momento pudesse estar a ver o que do passado fosse necessário alterar o futuro, a única luz que restaria seria a das estrelas.
É por isso que gosta de olhar para elas e partilhar o segredo que, às vezes, elas vem lá de cima ver o que se passa e iliuminar mais um bocadinho.
Foi aqui que chegou. Agora espera um bocadinho, o tempo do último cigarro, para que as partes cheguem e seja feliz.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Questão de Marketing

Era engraçado poder fazer com a vida como se faz com o grande consumo: descontinuar produtos!
Descontinuar a vida e fazer um upgrade para outra melhor e com mais funcionalidades, mais FORTE.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Porque só te sonhar me morro de aflição *

Fala-me tu do Amor e dessa coisa esquisita que é o tempo com quatro dedos de distância entre o ardor das línguas e a asfixia dos corpos.
Fala-me tu do Amor e desse desejo que arrasta a proximidade que anula todos os intervalos em pequenas existências que de tão insignificantes desaparecem numa doçura e amargura.
Conta-me do constante faz e refaz, de ressuscitar e morrer, de adormecer e sonhar, do conforto da luz dos dias na realidade que nos mata. Porque do Amor também se morre e também se vive, como alimentação programada às calorias necessárias para respondermos.
Encostarei a cabeça para que te ouça falar da grande cidade, cheia de perigos, que não amedrontam porque de um se protege o outro e dois são uma muralha maravilhosa em que existe a gratidão de ser ele e ela, e toda a gente e mais ninguém que esteja em sombra.
Sei que consegues dizer-me de todo o Amor que é físico, quando o corpo se retrai, contrai e abre em planícies de flores e do toque nasce toque e não se pode mais esperar todo o desejo que é estar dentro um do outro em sofreguidão, exaustão, prova e dentada e os corpos reflectem luz que só acaba noite gritada em pequenas gotas de suor. E sempre assim, mesmo que o ritmo seja mais suave e a cadência da música mais lenta, porque de todos os andamentos se faz.
Explica-me do Amor em cartões multibanco, créditos a prestações que se tornam da cabeça em conjunto com os pés em conversas, palmilhados os caminhos falados nas encruzilhadas que não se voltam porque já passadas.
Diz-me do fogo da pertença que mesmo em passeios ladeados em momentos de se respirar, expirar, não afasta do ponto em que se sabe ser um pulmão porque o corpo é um só, celeste, cadente, brilhante no universo, estrela e planeta.
Matematicamente diz-me da equação em que um mais um são sempre um mas também sempre dois, porque a matemática é linguagem universal que faz entender que das letras nascem números e a media está na soma em que se acrescenta sempre algo de bom à unidade, mantendo-a.
Fala-me tu do Amor, que eu às vezes já não sei falar, só ouvir.

* Al berto

Parabéns

De África chegam notícias e sons. Alegria, muita.
Sente-se o calor no riso e a transbordante felicidade de se voltar a nascer na terra que mais uma vez se abre.
Conseguem cheirar o sol a tocar lá dentro? Doce, muito doce.

A cor

Não sabe como consegue aguentar, mas aguenta a confusão que persegue, onde tudo podia ser diferente, mas onde tudo é como é, racionalmente entendido, onde o pensamento escava e dentro de uma coisa há outra e dentro dessa ainda outra e depois outra, como as matrioskas. Entre o que se pensa verdade e até chegar a essa verdade. Inconsistência ou incoerência.
E fica a pensar que na vida só há lugar a uma grande aventura, um grande amor e que se ficará para sempre preso nisso.
E é verdade, fica-se. Mas um dia, porque o caminho só pode ser para cima, começa a não doer, e a aventura fica guardada numa das câmaras do coração.
E volta-se a ter outras, mesmo quando a lembrança da grande permanece.
As outras serão diferentes, mas tão boas ou tão más quanto a grande. Porque há sempre o bom e o mau. E o sangue, que ora escorre, ora pulsa. Ganha-se uma espécie de vida, o grande privilégio de ser dono de nós, num caminho feito por nós e para nós e as outras transformam-se em grandes também.
O amor tem muitas faces e muitas formas, é bom nunca esquecer. E o que está para vir poderá sempre ser o grande. O que nos levará em dança até à parede do fim.
A vida terá sempre razão e dará sempre tudo o que é preciso para ser feliz, para viver e respirar. Nós é que teimamos em não ver, em andar cegos a um qualquer desenrolar por acaso, ao acaso, ou andamos sempre no limbo da procura e “ da galinha da vizinha é melhor que a minha”.
É nesta confusão que continuamente persegue que se perde a noção do básico, da infantil ignorância que deve tornear a vida, da vontade. Do riso simples, que enche a alma como uma cascata, que se torna lago, depois rio e correr até ao mar. Porque a determinada altura terá de ser apenas simples.
E o mais engraçado é que não se sabe quando acontece, nem como acontece o desejo que arrasta e traz a vontade de não haver intervalo entre as coisas e os corpos.
Só assim, sem confusões.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Teoria dos 320 ou do Ferrari

Encontraram-se numa curva em que o Ferrari, que dá 320, um bocado cansado, tinha reduzido a velocidade e o Fiat, que no máximo dá 160, estava quase no red light. Nessa curva pareceram certos para caminhar e o Ferrari via-se a cortar metas com um sorriso descansado, que isto de andar a 300 cansa muito o próprio e às vezes farta.
Mas o Fiat reduz, porque andar sempre a 160 estraga o motor, e o Ferrari reduz também porque não quer deixar o Fiat para trás. Até ao dia em que começa a querer acelerar outra vez. É uma questão de necessidade. Para vencer uma montanha pode-se engrenar uma primeira, que é uma mudança de força, mas quando se está em recta a rotação do motor está ligada às rodas e é preciso a mudança mais alta.
E lá se puxa o Fiat ao momento em que se acelera a 320 à espera que ele acompanhe, nessa vã esperança ou ilusão de tornar um Fiat num Ferrari “vem comigo, eu levo-te”.
E o Fiat vai ao máximo e o Ferrari fica contentinho. Mas depois o Fiat desacelera até ao ponto em que o Ferrari se cansa demasiado de estar a acelerar sozinho, de estar sempre a abrandar, de estar sempre a tentar puxar, e o Fiat se cansa de estar sempre a 160 se o que quer é andar a 90. Isto é basicamente a Teoria dos 320 ou do Ferrari.
Conheço demasiado bem a aplicação desta teoria, no cansaço de andar a 300, vá, que sou rapariga respeitadora do limite da velocidade, puxando o Fiat que anda no máximo a 160.
Mas no meio disto tudo, teoria certíssima e brutal, há uma montanha de Ses…
As pessoas não são só o que fazem e estão constantemente a enganar-se no que são e no que julgam que os outros são e nunca se sabe precisar o que é estar apaixonado. Como e porque se apaixonou e muito menos definir a intensidade da paixão. A paixão é esquizofrénica, e hoje é louca, amanhã é menos e depois é transbordante para voltar a abrandar. E tudo parece um circuito racing onde nas curvas não se trava mas se larga o acelerador.
É assim a vida também. Há alturas em que se quer acelerar ao máximo e outras em que se precisa de parar um bocado.
E se na curva aparece alguém? Como saber se quem subiu na garupa consegue depois aguentar a velocidade, ganhar rodas e vir ao lado?
E quando se encosta às boxes porque se precisa de qualquer manutenção? E se aparece alguém ali? Será ilusão?
Nenhum obstáculo poderá ser intransponível nas idas e nas vindas, mesmo quando cansa esperar ou mesmo quando ao outro cansa demasiado acelerar.
E onde reside esta verdade? No simples facto de amar. Amar também os gostos e desgostos deles para melhor os conhecer no reverencial respeito que deve haver.
Se não me acompanhas agora é porque não consegues e eu espero um bocado por ti sabendo que ali à frente já recuperaste força e és tu que aceleras para me fazer viver.
Deverá ser assim?
Se tudo pode acontecer, se pode haver nuvens cheias que não chovam, se pode no deserto haver flores, porque não pode um Ferrari e um Fiat encontrarem-se e caminharem de mão dada de qualquer maneira? Explicaria os opostos que se atraem.
Ou a simples resposta ao mistério é o aparelhar de Ferraris e o aparelhar de Fiats? Lado a lado, na mesma velocidade de vida, no mesmo cuidado nas mudanças quer sejam automáticas ou manuais? Será isso?
Poderá um Ferrari tornar-se não num Fiat mas num Toyota ou o contrário, o Fiat passar a ser um BMW?
Alguém sabe?

domingo, 16 de agosto de 2009

Cortes e curativos

Cortei o dedo polegar. Um golpe grande e fundo. A pele completamente separada e sangue, muito sangue, e eu, pequenina, a chorar baba e ranho porque odeio sangue, porque estou sozinha e não há outro remédio senão fazer o curativo, limpar o lavatório do sangue que escorreu e continuar a fazer o jantar. De todos os dias, tinha que ser logo hoje que a cabeça não para e estou a 300 na recta da insanidade.
Apetecia-me fazer birra, dizer que doi e esperar o mimo.
Fiquei com o dedo e a alma dorida. É nestes cortes que me doi a vida.